Jornal Estado de Minas

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'Pam & Tommy' é série exagerada sobre (muito) sexo, vingança e videotape


“É a mulher da minha vida”, diz o primeiro. “Acha mesmo? A gente já passou por isso e nunca acaba bem”, rebate o segundo. “Agora é diferente. Ela é diferente”, responde o primeiro. “Qual é! Todas são diferentes”, argumenta o segundo.





Tal diálogo está no segundo episódio da recém-estreada “Pam & Tommy”, série-sensação da plataforma Star+ por mais de uma razão. A dita conversa ocorre entre Tommy Lee (Sebastian Stan) e seu pênis. Isso mesmo: o órgão ganha vida graças a efeitos especiais.

O tom hiper-realista que faz com que o pênis se torne quase uma salsicha falante é uma das muitas liberdades tomadas na produção que acompanha a história do casal mais célebre (e infame) da década de 1990: a atriz e playmate Pamela Anderson e o roqueiro, baterista do Mötley Crüe, Tommy Lee.

Quatro dos oito episódios estão disponíveis, e a história melhora (ou piora, de acordo com o gosto do freguês) a cada um deles. Criada por Robert Siegel (de “O lutador”, com Mickey Rourke) e produzida por Craig Gillespie (de “Eu, Tonya”, Oscar de atriz coadjuvante para Allison Janney), que também dirige os três episódios iniciais, “Pam & Tommy” pode ser visto também como a pré-história dos reality shows e da pornografia on-line. 




EXCESSOS 

É basicamente a história da sex tape mais famosa do mundo do casal mais famoso de seu tempo. Uma história de excessos contada de uma forma irônica também em excesso, o que pode incomodar muita gente. Mas tem humor, uma incrível recriação de época e um par central que é a cópia escarrada das figuras reais. 

Tanto Pamela Anderson quanto Tommy Lee, separados há muitos anos depois de uma relação turbulenta em que ele chegou a ir para a cadeia por agredi-la, não fizeram parte do projeto. Ela deixou as redes sociais há um ano, e ele publicou nesta semana o seguinte aviso: “Por motivos pessoais, vou ignorar qualquer coisa que pareça forçada, falsa, desnecessária ou desalinhada com meu crescimento/cura”.



A série é baseada em uma reportagem da jornalista Amanda Chicago Lewis, publicada na revista Rolling Stone, em 2014. Em fevereiro de 1995, quatro dias depois de seu primeiro encontro no México, Pam e Tommy se casam. Na época, ela estava no auge, como a estrela da série “S.O.S. Malibu”. 





Ele já estava em carreira descendente – o Mötley Crüe era filho dos anos 1980, época em que vendeu milhões. O bad boy ganhou, mas também gastou muito com drogas, mulheres e uma vida hedonista, e via com maus olhos a chegada do grunge – é notória uma treta da banda com o Pearl Jam, coisa que perdura até hoje. 

Em idílio amoroso, apesar das diferenças, Pam e Tommy vão reformar a mansão (dele), em Los Angeles. Entre os trabalhadores contratados estava o carpinteiro Rand Gauthier, que depois de mais um atrito com o roqueiro, é despedido sem receber um tostão. Por vingança, ele rouba um cofre da casa de Tommy – é nele que estava a fita privada de 50 minutos com cenas explícitas de sexo do casal. 

A fita veio a público entre 1996 e 1997 – numa época em que a internet era apresentada como world wide web. Houve ações judiciais, mas o estrago já havia sido feito. O conteúdo rodou o mundo inteiro – ainda hoje, não é difícil encontrá-lo on-line.




PROTAGONISTAS 

Tal história é contada na série com três protagonistas: Pam, Tommy e Rand Gauthier. A narrativa é explosiva, mas muito disso se deve ao elenco. Todos os olhos estão em Lily James. A atriz britânica, de personagens doces e discretas (em “Cinderela” ou como a secretária de Churchill em “O destino de uma nação”), está uma autêntica bombshell na série.

A transformação de Lily James tem sido quase mais comentada do que a série propriamente. Tudo na atriz é falso – dos dentes ao cabelo até os seios siliconados, a principal marca de Pamela Anderson. Cinquenta pares de seios postiços teriam sido usados pela atriz durante as gravações – as cenas de sexo são tão quentes que muitas delas danificavam o material. 

Lily James levava quatro horas diárias para virar Pam. Mas maquiagem e prótese alguma surtiriam efeito não fosse a atriz, que conseguiu imprimir vulnerabilidade e certa raiva incontida no ícone sexual.





O romeno Sebastian Stan caiu direto da série Marvel “Falcão e o Soldado Invernal” no roqueiro Tommy Lee. O baterista é a personificação do período oitentista: tatuagens mil, muita roupa de couro (a cueca fio-dental que ele desfila em casa nos intervalos do amor é absolutamente ridícula), prepotência e idiotice que, de cara, geram antipatia no público.

No começo, você até entende por que o pobre trabalhador Rand Gauthier (Seth Rogen, também produtor da série) entrou de cabeça em seu plano de vingança. À medida que a história do carpinteiro evolui, vemos o outro lado de Los Angeles: o submundo de agiotas, empresários picaretas e simples aproveitadores. É sujo, feio, mas bastante divertido. 
 

“PAM & TOMMY”

Série em oito episódios. Os quatro primeiros estão disponíveis na Star . Os demais serão lançados semanalmente, às quartas