No ano em que se comemoram os 50 anos do Clube da Esquina, Andréa Estanislau lançou uma campanha de financiamento coletivo para bancar os custos de reimpressão de seu livro “Coração americano – Bastidores do álbum Clube da Esquina”. Lançada em 2008, a obra conta a história do disco “Clube da Esquina” (EMI-Odeon), gravado em 1971 e lançado em março de 1972.
Leia Mais
Márcio Borges cria 'exposição em formato de LP' sobre o Clube da EsquinaNelson Ângelo, 'sócio' do Clube da Esquina, quer cantar para o povãoConheça a trajetória de Cafi, autor da capa de 'Clube da Esquina'Porém, na minha adolescência descobri o Clube da Esquina pela Rádio Inconfidência FM.” Ela conta que se apaixonou “perdidamente pelo disco ‘Clube da Esquina’ e durante vários anos ouvia falar do movimento, mas não entendia o que era”.
No período da faculdade, ao final do quarto ano, quando teria que desenvolver um projeto de graduação, assistindo ao programa ‘Bem Brasil’, com Beto Guedes, na TV, ela teve a ideia de fazer o projeto.
“Eu me lembrava dele por causa da capa do disco ‘Contos da lua vaga’ (EMI Odeon Brazil – 1981). Então percebi como o tempo havia passado, tanto para mim quanto para ele. E resolvi fazer um trabalho sobre música. Comecei minha pesquisa pelo próprio Beto. E por causa dele caí no álbum ‘Clube da Esquina’. Percebi que esse disco foi um divisor, o marco da música mineira. Foi quando Milton convidou Lô, que convidou Beto, e os três foram morar em Niterói para gravar o álbum.”
AMIGOS
Ao pesquisar sobre a produção do disco, ela se deparou com a “história fantástica que, despretensiosamente, foi vivida por aqueles jovens, uma história incrível de uns amigos que se uniram em torno da música. E, unidos pela amizade, fizeram um disco que é um marco na música popular brasileira”.Nos depoimentos que ouviu, soube que as gravações foram uma festa. “Conversei com Nivaldo Duarte, que era o técnico de gravação na época. E ele contou que era uma alegria só. Sempre que Bituca ia gravar, o estúdio ficava lotado. Era como se fosse um aquário, com as pessoas do lado de fora assistindo à gravação. Era um acontecimento.”
Ela diz ainda que “especificamente nesse álbum foi muito interessante porque, além de Milton, Lô e Beto, participaram também os artistas Tavito, Nelson Ângelo, Wagner Tiso e Robertinho Silva. Eram muitos músicos e todos com muita liberdade de criação”.
Com seu livro, a autora diz ter feito “uma viagem no tempo”. “Conheci muitas pessoas e lugares e essa linda história que, embora tenha acontecido em BH, muitos belo-horizontinos desconhecem.”
Na elaboração da obra, ela diz ter entrevistado todos os que participaram da gravação do disco. “Além das entrevistas, tive acesso ao acervo de vários fotógrafos, principalmente do Cafi e do Juvenal Pereira. Lembrando que Cafi fez a capa do álbum e a parte interna do livro traz várias fotos dos dois.”
Além de Cafi e Juvenal Pereira, o livro traz também fotos de Câncio de Oliveira, Cristiano Quintino, Fernando Fiúza, Ivan Simas, Márcio Ferreira, Mário Thompson, Renato Weil, Ronaldo Gorini, Vanusa Campos e Wilton Montenegro. “Foi um trabalho de garimpagem mesmo dos acervos fotográficos. Também fiz uma compilação de algumas matérias que foram publicadas em jornais e livros. Isso para compor o miolo. Na verdade, convidei os próprios artistas para escreverem e completei o miolo com os artigos.”
A autora convidou também o jornalista João Paulo Cunha, o historiador Bernardo Mata Machado, além de Chico Amaral, Fernando Brant, Lô Borges, Márcio Borges, Rodrigo James, Ronaldo Bastos, Tavito e Toninho Horta para escreverem textos.
SEGUNDA EDIÇÃO
A autora conta que o livro teve uma segunda edição, atualizada e ampliada. As mortes de Tavito (1948-2019) e Fernando Brant (1946-2015) são abordadas na nova versão. “Quando Brant morreu, percebi que esse livro não poderia ficar em uma edição de somente mil exemplares. É uma história rica, um patrimônio importante para ficar desconhecido. E essa história tem que circular, para que as pessoas possam conhecer e reconhecer esse patrimônio”, diz Andréa.A primeira edição teve benefício da Lei Rouanet; a segunda foi agraciada num edital da PBH e não chegou a ser comercializada porque os exemplares impressos destinavam-se a bibliotecas e centros culturais.
“O financiamento coletivo não é sobre dinheiro, mas sim sobre pessoas que se unem em torno de um objetivo”, diz Andréa. “É muito mais importante essa relação, ou seja, as pessoas perceberem o valor desse documento, desse livro, e a importância de circular essa história. Todos os artistas do Clube da Esquina foram muito generosos comigo nesse projeto.”
“CORAÇÃO AMERICANO - BASTIDORES DO ÁLBUM CLUBE DA ESQUINA”
Andréa Estanislau
196 páginas
R$ 44
(no financiamento coletivo via plataforma Catarse)
(no financiamento coletivo via plataforma Catarse)