Foram abertas, na última quarta-feira (16/2), as inscrições para a segunda edição da Escola Itinerante de Música, projeto que tem o objetivo de contribuir para a formação profissional de jovens artistas, não apenas tecnicamente, mas principalmente na inserção desses profissionais no mercado.
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Autêntica anuncia Tom Zé como a primeira atração de seu novo palcoRock Brasil 40 Anos termina com shows esgotados e músicos em clima de festaExperiente nos palcos, até que enfim LIMMA estreia com 'Infinito sobre nós'Com sua viola caipira, Camila Menezes se lança em carreira soloMarina Hungria lança single melancólico sobre a folia depois da COVID-19Tantas ofertas comprovam que já não basta saber cantar e/ou tocar para iniciar e sustentar uma trajetória profissional no cenário da música pop. Tão importante quanto esses requisitos básicos, o conhecimento sobre desenvolvimento e gestão da carreira artística começou a se impor em meados da primeira década deste século, com a quebra do monopólio das grandes gravadoras, a expansão do mercado independente, o crescimento do streaming e a democratização dos meios de produção e distribuição musical.
A "EMPRESA"
O novo contexto gerou aumento notável da oferta de cursos e consultorias com foco na música independente como negócio e no artista como empreendedor capaz de fazer sua “empresa” girar.
Com a primeira edição realizada de forma remota em 2020, a Escola Itinerante de Música – projeto da Peleja Lab, fundada em 2016 pelo cantor e compositor Octavio Cardozzo e pela produtora cultural Yara Mourthé – segue com inscrições abertas até o próximo dia 27, pelo link bit.ly/escolaitinerante2. Serão selecionados 18 artistas solo ou bandas representantes de todas as regionais de Belo Horizonte.
Eles vão participar de workshop intensivo ministrado por reconhecidos profissionais do cenário musical da capital: a cantora e compositora Maíra Baldaia, o baterista Gabriel Bruce, a baixista Camila Rocha, o guitarrista PC Guimarães, a artista visual Camila Buzelin, o músico e produtor Leonardo Marques e o próprio Octavio Cardozzo.
O curso presencial ocorrerá entre os dias 19 de março e 10 de abril, nos centros culturais Urucuia e Usina da Cultura. Será oferecida ajuda de custo de R$ 400. “O que motivou a criação da Escola Itinerante de Música, em 2020, foi o boom de cursos de gestão e prática musical. Havia muitos e com variados temas, mas a gente notava que boa parte tinha foco apenas teórico, distante da realidade de artistas e bandas que estavam começando”, diz Cardozzo.
Responsável por lecionar sobre gestão e comunicação, ele pretende transmitir a ideia de que a carreira funciona como empresa, o que implica em trabalhar com parceiros e adotar a divisão clara de funções.
“No meu trabalho como cantor, faço a gestão inteira. Então, sei desde como funciona a gravação até a parte financeira, cuidando de cada centavo que chega na minha conta. A parte administrativa é toda por minha conta”, diz Cardozzo.
Professores oferecerão subsídios teóricos sobre a área que dominam, além da vivência prática com base em sua própria trajetória. Alunos podem transitar de uma cátedra a outra, conforme seus interesses. “Esse é o diferencial. A Camila, por exemplo, já dá cursos de contrabaixo no YouTube, mas aqui ela também vai passar sua experiência de vida. O Gabriel vai falar sobre a parte teórica de ser baterista, mas também sobre a experiência com o Graveola, as viagens, os festivais internacionais de que participou”, aponta.
Convidada a participar da Escola Itinerante de Música, Maíra Baldaia esteve à frente, no ano passado, do Revoada, ao lado de Amorina e Débora Costa. O projeto estimulou novos artistas de BH a construírem o próprio caminho por meio do processo de qualificação, fortalecimento da carreira e da troca de experiências.
ECOSSISTEMA DINÂMICO
Maíra identifica o acesso à informação e às novas tecnologias como principal lacuna na formação de artistas iniciantes. “O ecossistema musical está o tempo todo se atualizando. Não adianta só cantar, é preciso entender de distribuição, produção, direitos autorais. A Escola Itinerante e outros projetos pretendem mostrar as várias etapas de uma carreira: é trabalho, é negócio, tem nota fiscal envolvida”, aponta.
Ela ressalta a necessidade do olhar prático, não romantizado, sobre a carreira. “Você tem que ver o palco, mas também o que está em volta dele. O cenário digital é positivo, democrático, mas pode ser muito cruel se você não estiver pesquisando, se atualizando, entendendo o que está acontecendo. Aí é que o calo aperta”, diz.
Uma das ações pioneiras na área em BH foi o curso Nosso Negócio é Música, do Sebrae-MG, criado em 2010 sob supervisão do produtor e gestor cultural Romulo Avelar. Aluno da primeira turma, o músico e empresário Leo Moraes – um dos sócios da casa de shows A Autêntica – hoje é um dos coordenadores e professores do projeto.
“A primeira turma foi muito marcante, tinha como alunos Marku Ribas, Pedro Morais, Érika Machado, o Roger Deff, gente muito atuante”, recorda. Depois de formado, ao longo dos anos Leo foi convidado para dar palestras sobre produção musical e gerenciamento de casa de shows. “Erick Krulikowski assumiu o curso e, em 2019, me convidou para fazer o programa com ele, dividir a coordenação e dar aulas. Estou lá desde então”, conta.
A ideia é evitar o amadorismo. “O curso abrange a formatação de um conceito artístico, o que passa pela presença de palco e transformar isso em produto para o mercado, falando de circulação digital, marketing, redes sociais”, detalha Leo. “As pessoas começam de forma muito artesanal, sem conhecer os meandros, as ferramentas disponíveis ou mesmo a legislação, então a carreira vai à deriva. A gente dá aos artistas as rédeas da própria carreira.”
Realizado em BH até 2019, o Nosso Negócio é Música iniciou o processo de descentralização a partir de 2020, quando migrou para Sete Lagoas. Em 2022, chega a Nova Lima, com 200 horas de conteúdo e aulas ministradas presencialmente.
“A cada ano o curso é um pouco diferente, porque os participantes influenciam muito o seu direcionamento. Há pessoas que desistem da música durante o processo, porque o curso obriga a pessoa a ter olhar mais crítico para a própria carreira. Todas as trajetórias saem transformadas”, aponta.
Nathy Faria fez seu trabalho como cantora e compositora reverberar na cena local no início da década passada, com lançamento de disco e shows dentro e fora do estado. Porém, não levou a carreira adiante porque, naquele momento, não compreendia o negócio da música. Ela entrou para o curso do Sebrae em 2013, capacitou-se e desde 2014 atua como consultora de music business.
MERCADO PROMISSOR
Em 2021, Nathy criou o curso para formação de estrategista musical – termo cunhado por ela para seu próprio ofício. “Com a chegada da pandemia, artistas passaram a ter que se virar no ambiente digital. Vi essa oportunidade de mercado. Muita gente ama marketing e ama música, mas não sabe como uni-los. Tenho essa formação, a ideia foi ensinar a minha profissão”, explica.
Atualmente morando na Espanha, Nathy explica que o curso é totalmente on-line, dividido em 10 módulos. “São aulas práticas, passo planilhas, PDFs, para a pessoa ir acompanhando e aplicando aquilo na carreira dela. Já vi gente com muita teoria, mas sem enxergar na prática como aquilo se encaixa no dia a dia da carreira. O foco do estrategista é esse: aprender e ir fazendo simultaneamente”, aponta.
A atividade inclui consultoria semanal, para dirimir dúvidas, e conta com a orientação de profissionais do mercado. A terceira turma, recém-formada, vai aprender com Anita Carvalho, que cuida da carreira do cantor Diogo Nogueira, e Carol Jafet, empresária do rapper Rincón Sapiência.