Jornal Estado de Minas

A PARTIR DESTA TERÇA

Museu Mineiro homenageia a Semana de 22 com trabalhos de 22 artistas


Principal instituição pública sobre a história de Minas Gerais, o Museu Mineiro é reconhecido por sua coleção de arte sacra. Seu acervo de 3,5 mil obras também abrange as telas da Pinacoteca do Estado. Parte delas, de autoria de 22 artistas, compõe a exposição “22 em 22 – O modernismo e suas influências no acervo do Museu Mineiro”, que será aberta nesta terça-feira, dia 22/2/2022, na esteira da celebração do centenário da Semana de Arte Moderna.





Mais do que reverenciar o evento, ocorrido entre 13 e 17 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo, a mostra pretende mostrar os ecos que a manifestação trouxe para as artes, tanto em sua época como ao longo das décadas posteriores. Boa parte dos trabalhos selecionados são de artistas mineiros ou que têm a sua produção realizada no estado.

“Minas Gerais está no imaginário do Brasil profundo que os modernistas tiveram”, afirma Alexandre Milagres, diretor de museus da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult). “Para entender o contexto, temos que ir até antes da Semana de Arte Moderna. Quando Mário de Andrade vem a Minas em 1919 se encontrar com (o também poeta) Alphonsus de Guimaraens, ele leva para São Paulo esse olhar que mostra como a brasilidade daqui é necessária. E quando retorna, em 1924 (na célebre caravana paulista que veio conhecer as festividades da semana santa, viagem da qual fizeram parte Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral), ele vem entender como são as manifestações populares em Minas”, afirma.

Dessa maneira, a exposição pretende traçar vários caminhos do modernismo, no estado e no país. Tarsila (1886-1973), que não participou da Semana de 22 porque estava em Paris, mas é um dos ícones do movimento, terá quatro desenhos expostos na mostra. “O acervo do museu tem 10 peças dela no total. Estamos expondo quatro desenhos que depois viraram gravuras”, comenta Milagres.





Outro dos maiores nomes da pintura modernista, Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) também está na exposição. Só retornou ao Brasil em 1929 – nascido em Nova Friburgo, serra fluminense, foi criado na Europa. É também um dos nomes mais ligados ao imaginário mineiro. Mudou-se para Belo Horizonte em 1944, a convite do então prefeito Juscelino Kubitschek, para criar uma escola de arte – viveria entre a capital e Ouro Preto até o fim da vida.

Dos 10 desenhos de Tarsila do Amaral (1886-1973) pertencentes ao seu acervo, o Museu Mineiro escolheu exibir quatro (foto: Secult/Divulgação)


PERCURSOS 

Vinda dos nomes contemporâneos à primeira leva de artistas modernistas está a escultora belga Jeanne Milde (1900-1997), que se mudou para BH em 1929 para participar da reforma do ensino no estado. Também ficaria aqui por toda a vida. “Ao falar do movimento modernista, temos que pensar que Minas tem muitos percursos. Além de Belo Horizonte, há também os de Juiz de Fora e Cataguases, bem como o daqueles que vieram para cá devido à educação e se ‘mineirizaram’”, diz Milagres, citando Guignard e Milde.

De gerações posteriores, a exposição traz nomes fundamentais da arte brasileira, caso do pintor Alfredo Volpi (1896-1988), ítalo-brasileiro que é considerado um dos mais importantes nomes da segunda geração modernista.





Da lista dos 22, 13 deles nasceram em Minas Gerais. Há muitos herdeiros de Guignard, ex-alunos do curso livre de desenho e pintura que ele fundou na Escola de Belas Artes. Entre eles estão Maria Helena Andrés (1922), Yara Tupynambá (1932), Sara Ávila (1932) e Álvaro Apocalypse (1937-2003).

Integrante da segunda geração modernista, Alfredo Volpi (1896-1988) está representado com uma tela de suas famosas bandeirinhas (foto: Secult/Divulgação)

INFLUÊNCIA 

“A exposição fala do modernismo como influência estética. Álvaro Apocalypse, na condição de pintor, sofre uma influência grande da estética popular. E quem traz isso é o modernismo. A desconstrução da figura, que ele leva para o Grupo Giramundo também está presente em suas pinturas”, comenta Milagres.

Outro mineiro que ele destaca é Márcio Sampaio (1941). “Com sua produção como crítico de arte, durante um longo período ele fez a catalogação da cena artística. Tem também influência da produção de Guignard. O quadro que vamos expor dele tem toda uma referência antropofágica.”





Nome histórico das artes em Minas que povoa o imaginário de todo torcedor de futebol dos grandes clubes de BH é Fernando Pierucetti (1910-2004). Também conhecido como Mangabeira, ele se formou na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio, e começou a carreira atuando como ilustrador e cartunista na imprensa belo-horizontina. A partir dos anos 1940, criou o galo, a raposa e, num momento posterior, o coelho, os mascotes dos clubes Atlético, Cruzeiro e América. 

Pierucetti também levou o primeiro lugar no Salão do Bar Brasil. Ocorrido em 1936, no subsolo do Cine-Theatro Brasil, o evento foi chamado “Exposição de Arte Moderna”. Com o pseudônimo Luiz Alfredo, ele assinou o desenho “Miséria”, que trazia um recorte do cotidiano de Belo Horizonte em meio à tensão política que dominava o Brasil – um ano mais, tarde Getúlio Vargas instauraria o Estado Novo.

Nesta noite, a partir das 19h, para marcar a abertura da exposição, haverá apresentação do Sarau Visual. O grupo, formado por intérpretes de libras, vai apresentar poemas de Carlos Drummond de Andrade. Haverá também participação do ilustrador e cartunista Lucas Ramon, conhecido como Tikinho. Ele, que é surdo, fará caricaturas no evento. Os trabalhos serão projetados na sala de exposições.





As ações vão de encontro à proposta de acessibilidade para o público surdo que o Museu Mineiro vem desenvolvendo. Todo o conteúdo da exposição “22 em 22” terá vídeos explicativos em libras, que poderão ser acessados via celular por meio de QR Codes. Tal iniciativa já está em vigor desde novembro de 2021, com a exposição de longa duração da instituição “Minas das artes, histórias gerais”.

O artista Fernando Pieruccetti, autor dos mascotes dos clubes mineiros, tem um de seus quadros expostos na mostra  (foto: Secult/Divulgação)


“22 EM 22 – O MODERNISMO E SUAS INFLUÊNCIAS NO ACERVO DO MUSEU MINEIRO”

Abertura nesta terça (22/2), às 12h, no Museu Mineiro – Av. João Pinheiro, 342, Centro. Às 19h, haverá apresentação do Sarau Visual. Visitação de terça a sexta, das 12h às 19h; sábados e domingos, das 11h às 17h. Entrada franca. Até 27 de março