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Estado de Minas SEMANA DE 22

Livros reforçam a conexão das crianças com o imaginário do Modernismo

Publicações infantojuvenis apostam na identificação dos pequenos leitores com o universo lúdico de Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e Anita Malfatti


23/02/2022 04:00 - atualizado 23/02/2022 02:50

Quadro A cuca, de Tarsila do Amaral, traz sapos, insetos, aves e a própria cuca pintados com cores fortes
Cores e elementos lúdicos da pintura de Tarsila do Amaral, como se vê no quadro "A cuca", atraem as crianças (foto: Reprodução)

Uma viagem no tempo com Tarsila do Amaral e Mario de Andrade pode ser uma maneira curiosa de introduzir a Semana de 22, mas funciona bem quando o leitor tem cerca de 10 anos. Por isso, pareceu natural aos escritores Fabiano Moraes, Neide Duarte e Mércia Maria Leitão criar um universo lúdico no qual pudessem destrinchar parte da complexidade do Modernismo e oferecer às crianças um pouco de história em forma de literatura. Autores de livros infantojuvenis, eles aproveitaram o centenário do evento para introduzir o tema para os jovens leitores.

Fabiano escolheu Manuela como narradora de “Nasci em 1922, ano da Semana de Arte Moderna”. Professor de literatura na Universidade Federal do Espírito Santo, o autor brincou com os conceitos de modernidade para levar a Semana de 22 aos leitores. Manuela era o nome dado por Mario de Andrade à própria máquina de escrever, objeto bastante moderno para aquela década de 1920, embora hoje tenha entrado para as prateleiras dos museus sobre a escrita.

MÁQUINA DE ESCREVER

“Os objetos têm histórias para contar, um objeto como a máquina de escrever de Mário era moderno na época e antigo hoje. Pensei nessa contradição da Semana, que também é moderna e chegou a 100 anos. Então o que é o moderno? Ninguém melhor do que a máquina para contar”, garante.

Fabiano conduz Manuela a comparar invenções de 100 anos antes de 1922 com as novidades daquele início de década. Para o autor, dois elementos são essenciais para captar a atenção dos jovens leitores: a fabulação, presente no livro por meio de objetos antropomorfos, e a ludicidade, que não se separa da fabulação, mas ajuda a brincar com ela.

Introduzir o movimento de forma lúdica também é a ideia de Mércia Maria Leitão e Neide Duarte em “Uma semana inesquecível”. As personagens Malu e Gil empreendem verdadeira viagem no tempo ao visitar a exposição “Tarsila popular”, em cartaz no Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 2019.

Abduzida pelas cores e formas da pintora, a dupla retorna a 1917 para visitar a exposição de Anita Malfatti, passando pela Semana de 22 e chegando até 2022. “A obra da Tarsila se comunica diretamente com as crianças. Desde pequenas, elas se identificam com o imaginário do sonho, com os animais, os personagens fantásticos. A Tarsila tem um colorido atraente para a criança”, acredita Mércia.

A Semana de 22 costuma ser tratada na escola de maneira superficial e apenas na segunda parte do ensino fundamental. Para Mércia, essa passagem-relâmpago pelo movimento é um desperdício de informações. “O Modernismo é natural para as crianças, porque elas pintam com a liberdade de expressão que o Modernismo denota, tanto no desenho quanto nas cores e nas formas”, explica.

SEM ESTRANHAMENTO

Neide Duarte acha muito mais fácil escrever sobre o tema para as crianças porque elas não têm o mesmo estranhamento provocado no adulto. “O que é ser moderno? É não ter estranhamento para nada, para ver o diferente, o novo, que, na pintura, vem através de formas e cores”, diz.

O estranhamento causado pelas pinturas de Anita, que recebeu crítica demolidora de Monteiro Lobato, parece não fazer sentido para as crianças. “A criança não estranha que a moça está de cabelo verde ou que o homem é amarelo. Ela não rejeita, tem o sentimento de abertura para o novo, tem curiosidade e predisposição para conhecer”, conta Neide.

A autora do quadro “Abaporu”, aliás, é tema de dois outros livros lançados pela Melhoramentos: “Tarsilinha e as cores” e “Tarsilinha e as formas”. Ambos fazem um passeio por obras como “Abaporu”, “A cuca”, “Antropofagia”, “Caipirinha” e “Manacá”. Foram escritos por Patrícia Engel Secco e Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da pintora.

“Se você olhar a obra da minha tia, é uma obra infantil mesmo. Supercolorida, cenas com bichinhos da fazenda, fazendinha, casinha, árvore, flor. Os temas têm a ver com o universo infantil. As crianças adoram. E elas conhecem os nomes dos quadros”, conta Tarsilinha.
 
A ideia da dupla foi lançar material multidisciplinar. “No livro das formas, as crianças vão ter contato com formas geométricas, é um livro que vai iniciar no universo da matemática e os professores podem fazer vários trabalhos", explica Tarsilinha. “O das cores, as crianças adoram. É um dos motivos para terem essa relação forte com as obras da minha tia.”

Ilustração traz índios e máquina de escrever na capa do livro Nasci em 1922, ano da semana de arte moderna
(foto: Editora do Brasil/reprodução )
“NASCI EM 1922, ANO DA SEMANA DE ARTE MODERNA”
. De Fabiano Moraes
. Editora do Brasil
. 112 páginas
. R$ 54,50
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
desenho de menino e menina morena em meio a cenas coloridas na capa do livro uma semana inesquecível
(foto: Editora do Brasil/reprodução )
“UMA SEMANA INESQUECÍVEL”
. De Mércia Maria Leitão e Neide Duarte
. Editora do Brasil
. 56 páginas
. R$ 53,40
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Menina e gatinho brincam com imagens criadas por Tarsila do Amaral na capa do livro Tarsilinha e as cores
(foto: Melhoramentos/reprodução )
TARSILINHA E AS CORES
. De Patricia Engel Secco e Tarsilinha do Amaral
. Ilustrações: Cris Alhadeff
. Melhoramentos
. 24 páginas
. R$ 25
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Menina e gatinho brincam com imagens criadas por Tarsila do Amaral na capa do livro Tarsilinha e as formas
(foto: Melhoramentos/reprodução )
“TARSILINHA E AS FORMAS”
. De Patricia Engel Secco e Tarsilinha do Amaral
. Melhoramentos
. 24 páginas
. R$ 25


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