Jornal Estado de Minas

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Compositor Nobat se encontra com sua própria música no single 'Menina erê'


Para o cantor e compositor mineiro Nobat, se a música brasileira fosse uma pessoa, seria uma jovem baiana inquieta, cheia de energia e arteira. Com essa imagem em mente, ele compôs “Menina erê”, canção lançada recentemente nas plataformas digitais que abre os trabalhos para a chegada do quarto álbum de estúdio do artista, “MESTIÇO”, previsto para junho.





“Essa música representa o começo. Na letra, falo sobre o meu desejo de dançar com a 'menina erê', que é uma representação da música brasileira. É a música do Brasil me colocando para dançar. 'Menina erê' é uma espécie de manifesto que vai nos guiar para atravessar assuntos importantes que serão tratados no disco”, explica Nobat.

RESSACA ELEITORAL

Composta no final de 2018, durante a ressaca do resultado da última eleição presidencial, a canção foi uma das primeiras do novo álbum a ganhar forma e conteúdo. Naquela época, Nobat pesquisava a arte brasileira e se viu diante das raízes da música popular.

“A gente olha todas essas maravilhas (artísticas) do Brasil e se esquece de que este também é o país que elegeu Bolsonaro. Mas decidi compor sobre o Brasil em que acredito, em vez de ficar negando um lado do país em que não me reconheço. Afirmar tem importância gigante, e estou fazendo isso por meio dos símbolos e significados nos quais boto muita fé”, ele defende.





Concebida de forma orgânica, “Menina erê” cresceu quando Nobat começou a trabalhar com Barral Lima, produtor da faixa.  Entre Minas Gerais e Rio de Janeiro, a distância por conta da pandemia da COVID-19, os dois construíram as bases eletrônicas que depois ganharam a companhia de instrumentos gravados por Adriano Campagnani (baixo), Marlon Sette (trombone), Jorge Continentino (sax), Diogo Santos (trompete), Débora Costa (percussão), Egler Bruno (guitarra) e Fernando Monteiro (bateria).

“'Menina erê' começa com baião, cai no maracatu e também tem elementos de samba de roda”, descreve Nobat. “Penso que essa música representa a alma do disco. Ela tem uma brasilidade muito latente, mas também elementos do jazz, por exemplo, principalmente por conta do baixo. Isso vai ao encontro da ideia de mestiçagem que evoco no título. Essa canção representa a comunhão e a sinergia entre diferentes gêneros.”



No mesmo dia em que chegou às plataformas de streaming, em 17 de fevereiro, a canção ganhou videoclipe dirigido por Natacha Vassou e Lucas Espeto. A atriz e dançarina Raíssa Medeiros interpreta a “menina erê”. A produção faz parte da trilogia que continuará nos dois próximos singles, previstos para março e maio.



“Sempre tive vontade de fazer clipes com continuidade narrativa. Quando começamos a pensar nos vídeos para as músicas, eu me encontrei com os diretores, apresentei o conceito que queria abordar e eles desenvolveram um trabalho muito bonito”, conta o artista.

“No restante da trilogia, a personagem feminina será representada por outras duas dançarinas, porém em fases distintas de vida. No final, quando ela se encontra comigo, é como se eu me encontrasse com o meu próprio som, a minha vida e a minha ancestralidade”, ele explica.

O videoclipe guarda surpresas para quem assisti-lo atento aos detalhes. Em determinado momento, Nobat aparece diante de um lambe-lambe anunciando o show de Elza Soares, que faleceu em 20 de janeiro de 2022, aos 91 anos. A cena foi gravada em dezembro de 2021, mas, com a morte da cantora, ganhou novo significado.





“O clipe tem várias dicas de coisas que vão acontecer no futuro, mas também é uma forma de homenagear os pilares da música brasileira. Infelizmente, veio a notícia da morte da Elza, que ninguém estava esperando, o que só deixa claro o tamanho dela. É uma homenagem, mas também uma deixa para o que vem por aí nos próximos meses”, ele adianta.

“MESTIÇO” é dedicado à música brasileira contemporânea e do passado. Será o primeiro álbum de Nobat desde “Estação cidade baixa” (2018). No intervalo entre os dois discos, ele lançou o single pandêmico “Cárcere” (2020), parceria com Giovani Cidreira, e, antes disso, os álbuns “O novato” (2015) e “Insônia” (2014).

TRANSIÇÃO MUSICAL

Questionado sobre a diferença entre o disco de inéditas e seus trabalhos anteriores, o artista afirma que “MESTIÇO” representa um outro momento de sua trajetória.





“Ele inaugura nova fase na minha vida. Quem acompanha o meu trabalho vai conseguir perceber as nuances desse trajeto até ele. Em 'O novato', minha busca era por uma música brasileira noturna, algo que está presente na obra de artistas como (Jards) Macalé e Maysa. Já no 'Estação cidade baixa', a música brasileira está no caldeirão em que prevalece a mineiridade, por meio do congado. 'MESTIÇO' traz a ruptura, um passo maior em direção ao lo-fi, na direção em que o canto que se expande”, adianta.

(foto: Under Discos/reprodução)

“MENINA ERÊ”

Single de Nobat
Under Discos
Disponível nas plataformas digitais