Jornal Estado de Minas

SÉRIE

Concurso de miss e suicídio movem a trama de "Señorita 89"


Os produtores são chilenos, a criadora é argentina e a história, bem como o elenco, são mexicanos. “Señorita 89”, com estreia neste domingo (27/2) na Starzplay, é uma produção com um tema universal que cala fundo aos latino-americanos: os concursos de miss. O título refere-se ao ano em que se passa a trama: 1989, então auge da disputa.  

As 32 candidatas selecionadas para o concurso se reúnem em La Encantada, uma fazenda-refúgio paradisíaca. A ideia é que, no período em que passarem ali, elas se preparem para as etapas do processo. Mas o local esconde segredos, como também as próprias candidatas e toda a equipe envolvida.





O primeiro episódio começa em alta combustão: em uma grande festa, uma das jovens se mata na frente de todos. A partir da tragédia, a história acompanha, em flashbacks, a trajetória das envolvidas. É uma narrativa com várias protagonistas, todas mulheres. Quatro misses, bem como uma universitária que resolve dar aulas para as misses, como uma forma de levá-las para além da questão estética, e a responsável pelo concurso.

VILà

A atriz mexicana Ilse Salas interpreta Concepción, a chefe de tudo. “No começo da história, ela é apresentada só como uma vilã. Para mim, é uma personagem muito mais complexa. Assim como qualquer monstro, não se nasce como tal, mas se torna um por causa das circunstâncias. E as de Concepción estão em seu passado”, diz.

Assim que chegam a La Encantada, as candidatas têm que assinar um documento em que abrem mão de muita coisa, inclusive da própria liberdade. Não podem ir e vir, além de ter que seguir regras rígidas.





Diretora e roteirista argentina, Lucía Puenzo, quando recebeu o convite dos irmãos Pablo e Juan de Dios Larraín, da produtora chilena Fabula, ouviu deles apenas que queriam uma série sobre o “mundo da beleza”. “Nunca foi um tema que tenha me interessado”, ela diz. À medida que começou a pesquisar o universo das misses, ela viu que havia “linhas vermelhas” e que poderia colocar outros temas, “como um cavalo de troia” na narrativa.

“O que me fascinou é que a história falaria também de política, da indústria do espetáculo, da mídia. Quando entendi que na década de 1990 os concursos de miss eram centrais no México, que eram como fábrica de misses, eu entrei de cabeça na história”, comenta Lucía. 

De acordo com ela, na proposta original, a série giraria em torno de uma universitária branca que entraria no concurso. “Achei muito perigoso. Então resolvemos incluir como protagonistas quatro candidatas bem diferentes de outras regiões do México, além da Concepción.”





Para Ilse Salas, são várias as questões tratadas. “Abuso é um deles. Mas também sororidade e estereótipos que normalizamos por muitos anos. A série acaba questionando como eles afetam nossa vida enquanto mulheres e na sociedade em geral.”


JÚRI 

A atriz diz que começou a se preparar para o papel por meio das lembranças que tinha dos concursos. “No México, nos anos 1980, era um programa das famílias passar os domingos assistindo aos concursos. Olhando agora, percebi um monte de coisas que não tinha visto quando criança. Na época, a gente falava: ‘Aquela ali é feia, por que ela está lá?’. Eu era terrível, assim como milhões de outras pessoas. O júri era quase todo formado por homens brancos. Por que teriam que ser eles, sempre no topo na pirâmide, a dizer como as coisas teriam que ser?”

Filha do cineasta argentino Luis Puenzo, vencedor do Oscar (o primeiro de um país latino-americano na categoria filme internacional) por “A história oficial” (1985), Lucía está no universo do cinema desde que se entende por gente. “Éramos como uma família de ciganos, sempre viajando para filmar. E não só meu pai, mas minha mãe, meus tios, todos trabalhavam nos filmes. Eu era do tipo que não queria ir para escola para poder acompanhar meu pai filmando.”

Ela diz que a indústria audiovisual tem mudado muito rapidamente. “Meu primeiro longa, ‘O médico alemão’ (2013), foi uma coprodução da Argentina com países europeus. Desde então, tudo o que fiz depois, seja filmes ou séries, foi em coprodução não mais com a Europa, mas com países da América Latina. Vejo essas produções como um grupo de pessoas de vários países que se uniram para fazer algo juntos. A COVID, de certa maneira, antecipou o futuro muito rapidamente. Além disso, o streaming aceita nossa língua. Antes, me pediam histórias universais em inglês, que eu odiava. Agora, pedem em espanhol. Querem escutar a nossa língua”, diz.

“SEÑORITA 89”

 Série em oito episódios. Os dois primeiros estreiam neste domingo (27/2), na Starzplay. Os demais serão lançados semanalmente, sempre aos domingos