Jornal Estado de Minas

CINEMA

Conheça os trunfos da Família Mitchell para levar o Oscar em março


Aposta da Netflix para o Oscar de melhor animação em longa-metragem, “A família Mitchell e a revolta das máquinas” tem fôlego para enfrentar três produções da Disney – “Raya e o último dragão”, “Encanto” e “Luca” –, além do dinamarquês “Flee”, que vai brigar também pelas estatuetas de filme internacional e documentário.





Agora em parceria com a Sony e a Columbia Pictures, a Netflix busca o prêmio que não conseguiu em 2021, com “A caminho da lua”, por meio da história de Katie Mitchell, seus pais, Rick e Linda, seu irmão, Aaron, e Monchi, o cachorro da família.

VICIADOS EM WI-FI

O clã tem de lidar com a revolução causada pela mudança do sistema operacional de uma empresa do Vale do Silício. Comandados pela inteligência artificial Pal, robôs aprisionam a humanidade usando como isca o vício das pessoas em celulares conectados à rede wi-fi.


O clã Mitchell cruza os Estados Unidos, pois Katie vai estudar cinema na Califórnia. Quando a família chega à Costa Oeste, enfrenta os vilões tecnológicos com o apoio de robôs defeituosos.





Tiago Ribeiro, diretor da animação “A formidável fabriqueta de sonhos da menina Betina”, que recebeu menção honrosa no Festival de Gramado em 2018, destaca a opção da Sony de mesclar recursos 2D e 3D desde “Homem-aranha no aranhaverso”, vencedor do Oscar de animação em 2019.

“Quando surgiu, o 3D era meio uma imitação da realidade. Se você pegar o primeiro 'Toy story', eles não tinham capacidade técnica para fazer seres humanos, então fizeram brinquedos de plástico, borracha, etc, porque era mais fácil simular esse material. O 3D vinha no caminho de se tornar cada vez mais real em jogos, filmes e computação gráfica em filmes de heróis. Foi então que a Sony, principalmente, trouxe essa roupagem nova do 3D, com a parte do 2D em uma animação muito dinâmica e expressiva”, comenta.

A caracterização dos personagens de “A família Mitchell” chamou a atenção do diretor. “Aqueles olhos grandes, formatos de rosto bem diferentes, isso era bem característico do 2D cartum. Eles conseguiram fazer a união muito legal da técnica do 3D com a pegada cartunista do 2D e ainda inserir elementos de tecnologia e efeitos especiais mais realistas”, detalha.





“O trabalho de arte é muito impressionante”, observa, comparando o produto da Sony com os da Disney, Pixar e Dreamworks. Esses estúdios, lembra, dominam o mercado e impuseram seu próprio padrão de animação.

Tiago Ribeiro destaca o uso de figurinhas e filtros em “A família Mitchell”, afirmando que eles dialogam com o modelo 2D, a história do filme e com a cena atual da cultura pop, em que filtros e figurinhas são usados em stories e em fotos postadas nas redes sociais.

ROTEIRO DINÂMICO

Para ele, os Mitchell têm mais chance no Oscar que a animação apresentada pela Netflix em 2021. “'A caminho da lua' tinha diretor muito bom, mas parece que não houve acompanhamento de roteiro. Os primeiros 10, 15 minutos são interessantes, mas depois ele se perde totalmente, algo que não acontece com os Mitchell. E agora o tema é superatual. Além da tecnologia, há questões perenes, como dramas familiares e conflito de gerações. Conseguiram colocar isso de uma forma muito dinâmica e interessante”, comenta.





Outro destaque, aponta Tiago Ribeiro, é a metalinguagem: Katie quer ser diretora de cinema e tem o seu próprio canal no YouTube. “O filme dos Mitchell tem muitas camadas. Pode ser um filme sobre família, sobre tecnologia. Pode ser road movie ou então filme de ação, de comédia ou de drama. De uma forma bem legal, a animação consegue preencher todas essas camadas, sem pesar muito para um lado só. Animação, para mim, não é gênero, é técnica”, finaliza.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

“A FAMÍLIA MITCHELL E A REVOLTA DAS MÁQUINAS”

Direção de Michael Riana. Disponível na Netflix. Indicado ao Oscar de melhor animação em longa-metragem. O prêmio será entregue em 27 de março.