Jornal Estado de Minas

LUTO

Morre a professora Eneida Maria de Souza, referência em literatura na UFMG

No centenário do Modernismo brasileiro, morreu nesta terça-feira (1/3), aos 78 anos, a professora  Eneida Maria de Souza, emérita da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e considerada a maior especialista brasileira na obra de Mário de Andrade, uma das principais referências do movimento marcado pela Semana de Arte Moderna, realizada entre 13 e 17 de fevereiro de 1922.



Eneida teve um câncer, descoberto tardiamente. O velório será realizado nesta quarta-feira (2/3), na Funeral House (Av. Afonso Pena, 2.158, Funcionários), entre 8h e 10h. 

“Narrativas Impuras” (Cepe Editora) foi a última obra publicada por Eneida Maria de Souza em novembro de 2021, reunindo parte representativa de  sua produção ao longo das duas últimas décadas de sua trajetória acadêmica. “As ideias surgem e desaparecem rapidamente no meio acadêmico, contaminadas pela insurgência do novo e pelo apelo das redes sociais. É um desafio entregar aos leitores os ensaios produzidos ao longo de duas décadas”, declarou Eneida à época do lançamento do livro, em grande expectativa em relação à obra crítica - análises e revisões - que esperava para este 2022,  centenário da Semana da Arte Moderna.

É extensa a obra e amplos os interesses de  Eneida Maria de Souza, que em 1985, focada na reflexão  sobre teorias literárias,  foi uma das fundadoras do doutorado em Literatura Comparada da Faculdade de Letras da UFMG, ao lado de Ana Lúcia Gazzola, Vera Casanova e Ruth Silviano Brandão. O curso, que representou um ponto de inflexão nas pesquisas e estudos culturais, destaca-se pela transdisciplinaridade e, por isso, é frequentado não só por alunos das Letras, mas também da filosofia, história, psicologia, artes plásticas, entre outros.

Entre 1988 e 1990, Eneida presidiu a Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), período em que firmou intercâmbios e convênios com universidades brasileiras e do exterior, promovendo a consolidação do curso de doutorado, a partir do qual a teoria literária é produzida observando o contexto, ou seja, a  relação entre a obra e a vida do escritor, o que permite extrapolar a análise meramente textual. 




 
Interessada em valorizar a produção intelectual de Minas, em 1989 Eneida Maria de Souza fundou, na UFMG,  ao lado dos professores colegas Wander Melo Miranda e Melânia Silva de Aguiar,  o Acervo de Escritores Mineiros. Sediado na Biblioteca Universitária, o espaço reúne cerca de 25 mil volumes e, além de abrigar livros e teses, oferece outros materiais para a pesquisa, como fotografias, manuscritos e correspondências de escritores como Henriqueta Lisboa, Cyro dos Anjos e Murilo Rubião.


Biografia

 
Nascida em Manhuaçu, na Zona da Mata, a mãe era professora de português e o pai também gostava de ler. Em depoimento em abril de 2013 à Diversa, Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, Eneida contou como desenvolveu a sua paixão pelos livros desde muito nova: “Eu tinha uma biblioteca em casa. Li toda a obra do Monteiro Lobato durante o curso primário”, conta. Eneida formou-se em Letras, na UFMG, e em 1968, foi aprovada em concurso passando a lecionar na própria UFMG. 

Em 1975, defendeu a sua dissertação de mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) sobre o escritor Autran Dourado. Defendeu o doutorado na Universidade Paris 6, na França, em trabalho de pesquisa que se tornou um marco no campo dos estudos do Modernismo e também, o início de uma longa trajetória: pesquisou a mais importante obra do modernismo brasileiro, Macunaíma, de Mário de Andrade. A tese deu origem ao livro “A pedra mágica do discurso”, publicado pela Editora UFMG.
Eneida é autora dos livros “Crítica cult”, “Pedro Nava – o risco da memória”, “Tempo de pós-critica”, “O século de Borges”, “Correspondência – Mário de Andrade & Henriqueta Lisboa”, “Ensaios de crítica biográfica” e “Modernidade toda prosa” , este em coautoria com Marília Rothier.