Durante a pandemia, alunos tiveram aulas on-line, mas voltaram para a escola sem saber ler e escrever. O alerta vem de Denise Ramalho, coordenadora da pesquisa “O Brasil que lê”, que chama a atenção para o abandono do ensino público e de seus estudantes.
O levantamento sobre hábitos de leitura foi realizado em 2020 por iniciativa do Instituto Interdisciplinar de Leitura e da cátedra Unesco de Leitura da PUC Rio em parceria com Itaú Cultural e a consultoria JCastilho.
A pesquisa detectou a ausência do governo federal em iniciativas voltadas para área, por meio do Plano Nacional de Livro e da Leitura (PNLL), cabendo a projetos voluntários a missão de atender, com recursos próprios, cerca de 220 mil pessoas.
“Quando a gente fala de um projeto de leitura, a gente fala de um projeto que está formando a pessoa capaz de ler as letras, mas também de ler o mundo, de ter pensamento crítico e de se colocar como cidadão que entende como ler o que está à sua volta”, explica Denise Ramalho.
Os dados da pesquisa serão apresentados em webinário marcado para as próximas terça e quarta-feira (8 e 9/3), das 14h30 às 16h, no canal do Itaú Cultural no YouTube.
Será abordado o uso da tecnologia para impulsionar a leitura durante a pandemia. Por meio do Facebook, Instagram e YouTube, vêm sendo divulgadas obras literárias, realizadas videoconferências e promovidos eventos on-line.
O perfil dos mediadores que coordenam projetos voltados para a leitura é majoritariamente de professores, bibliotecários e contadores de histórias. Registraram-se 382 programas de 24 dos 27 estados – com exceção do Acre, Sergipe e Alagoas.
A maioria das iniciativas vem do Rio de Janeiro (71), estado seguido por São Paulo (65), Minas Gerais e Santa Catarina (39, cada). Representando 47,81% e 19,84%, respectivamente, das ações analisadas, o Sudeste e o Sul registram a preponderância de programas urbanos, enquanto iniciativas voltadas para as áreas rurais se destacam nas regiões Norte e Nordeste.
Um desses projetos é o aplicativo mineiro de leitura Bamboleio, desenvolvido pelas primas Roberta e Tanira Malta. Trata-se de uma biblioteca digital, que está disponível nas lojas de apps. Compatível com tablets e smartphones, ele pode ser espelhado em telas de televisão para exibição coletiva.
Roberta Malta explica que o Bamboleio surgiu em 2019, destinado a crianças e famílias. Durante a pandemia, ela e Tanira liberaram o acesso ao aplicativo, que ganhou nova dimensão social ao atender ONGs e escolas.
O Bamboleio também oferece atividades de formação em literatura para educadores. “Nunca disponibilizamos só o aplicativo. A gente faz dois encontros para falar de literatura, curadoria e sobre como a literatura apoia a educação. Depois, há reuniões de acompanhamento para a gente saber como foi a prática”, explica Roberta Malta.
O convite para participar da pesquisa “O Brasil que lê” chegou ao Bamboleio por meio das redes sociais. Tanira e Roberta, por iniciativa própria, se inscreveram no projeto. Para elas, é essencial participar de editais de incentivo voltados para o incentivo à leitura.
A modalidade on-line permite ao Bamboleio chegar a todo o país. Roberta Malta revela que o aplicativo mineiro tem repercussão na Bahia, Pará, Distrito Federal e São Paulo, além de Minas Gerais.
* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria