Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Dada Hotel mostra as várias facetas de BH em novo álbum


As múltiplas facetas de BH, terra natal dos integrantes da banda Dada Hotel, dão o tom do álbum “Dilúvio/Deserto”. O trabalho já está disponível em todas as plataformas digitais e chega junto com um clipe da faixa-título. O grupo é formado por Fabio Walter (vocal, guitarra e sintetizadores), Marcus Soares (baixo e backing vocals) e Victor Piva Schiavon (bateria e backing vocals).





Fabio conta que a Dada Hotel buscou inspiração no começo dos anos 1980, com o new wave e o pós-punk. “Esses estilos transformaram o rock em algo maleável, mais pop e melodioso, mas, ao mesmo tempo, sombrio. É uma dualidade, que também está presente no título do nosso álbum e da nossa estética. Naquela época, imagem e música estavam juntos no underground. Tentamos recuperar isso, como pode ser visto na capa do disco e nos clipes, feitos de forma experimental, com videocassetes e elementos analógicos.”

O músico ressalta que todos os integrantes viveram a transição do analógico para o digital. “A Dada Hotel se reconecta a uma época quando o superestímulo de informações era mera distopia. É o caso do clipe de ‘Dilúvio/Deserto’, uma referência ao programa setentista de ‘TV Beat Club’ e uma tentativa de transportar quem assiste para aquele contexto. O nosso embrião veio por meio da nossa antiga banda que se chamava Paraná Avenue. O olhar urbano já aparecia com um gosto contemporâneo nos singles “In sane days”, sobre uma busca por saúde mental no dia a dia e “Ninguém”, sobre a solidão.”


INFLUÊNCIAS

Fabio conta que a Dada Hotel começou com esse projeto, em 2017. Ele lembra que, quando 2018 chegou, começou a ficar incomodado com o fato de fazer música em inglês. “Pensei: 'estou no Brasil e comunicando com quem?' Não estou fazendo carreira internacional. Então, vou começar a compor em português. Sempre tive influência desde o rock and roll ao punk rock, até do cancioneiro popular, do samba de Paulinho da Viola, dos Mutantes e da Tropicália, coisas um pouco mais recentes também, tipo anos 1980.”

Nesta época, o artista estava tocando em duas bandas que cantavam em português – Desejo Terrível e Cadelas Magnéticas. “Era um som que gostava de fazer. Estava achando legal essa questão de estar em uma cena independente, bem underground, mas que estávamos conseguindo comunicar com algumas pessoas.” No fim de 2019, Fabio se juntou com os outros dois integrantes da Dada Hotel. “Porém, quando entramos em estúdio para gravar as bases das três primeiras músicas, a OMS decretou a pandemia”, lembra.





Mas, mesmo com os efeitos indiretos da COVID-19, o projeto andou.“Em novembro, a gente já tinha oito músicas pré-gravadas. Fiz a inscrição para a Lei Aldir Blanc e eles pediram para que tivéssemos, pelo menos, 45 minutos de música. Conseguimos finalizar com 12 músicas”, detalha o músico.

Fabio lembra que as músicas do disco têm um pouco da visão de tempo rápido e de coisa urbana. “Temos que fazer e escutar música, vivendo uma arte, mas, ao mesmo tempo, vivendo outro sentimento, com um pouco mais de abandono, solidão, decepção e euforia. Ao mesmo tempo, temos que sair cedo para trabalhar e voltar para casa, sair para tomar uma cerveja ou ficar preso por causa da pandemia. Porém, nunca conseguimos ter esse tempo de parar, para poder juntar a banda por cinco dias em um lugar e poder fazer uma pré-produção em que só pensássemos nisso. Isso reflete um pouco nas músicas.”

À DERIVA

O músico ainda explica o conceito de “Dilúvio/Deserto”. “Foi um conceito que surgiu a partir dessa música instrumental que compus, tentando remeter algumas coisas dos anos 1970. É uma música que foi gravada em um dia de chuva, raios e trovões. Então, acabou virando um mote, uma coisa meio de conceito mesmo, de entender a gente como indivíduo, na sociedade atual. Uma sociedade pós-industrial, na qual a gente, praticamente, trabalha o tempo inteiro. Passamos por esse momento de dilúvio, de torrente de emoção, de estresse e de deserto, em que nada parece se movimentar. A gente se sente à deriva, esperando alguma coisa mudar."

A produção de “Dilúvio/Deserto” coube a Fabio Walter, mixagem e masterização a Fabrício Galvani. O disco foi finalizado com recursos da Lei Aldir Blanc e chega de forma digital e em vinil, via Speri Record.





Repertório

» “NAZAREH” (PANK SONG)
» “NINGUÉM”
» “IN SANE DAYS”
» “SILENT LOVE” 
» “NADA DE NADA” 
» “DILÚVIO/DESERTO” 
» “JAMAIS” 
» “CHORO”
» “BANAL” 
» “SOMBRAS” 
» “THE END”
» “BOCAS DE LOBO” 
(foto: REPRODUÇÃO)

“DILÚVIO/DESERTO”
• Álbum da banda Dada Hotel
• Disponível nas plataformas digitais