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Estado de Minas MÚSICA

48 artistas cantam 22 músicas para traduzir o Brasil no especial ''2022''

Com direção de Monique Gardenberg, show gravado em dezembro passado tem participação de Elza Soares e outros grandes nomes. Produção está disponível na HBO Max


12/03/2022 04:00 - atualizado 12/03/2022 00:36

Mosquito, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila, em pé no palco, segurando microfones, com cenografia de pinturas modernistas atrás de si
Mosquito, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila cantam juntos ''Conselho'', de Adilson Bispo e Zé Roberto, no especial que apresenta um total de 22 músicas (foto: HBO Max / Dueto Filmes / Divulgação)

Plataforma de streaming do grupo WarnerMedia que estreou no Brasil em junho do ano passado, a HBO Max lançou na última sexta-feira (11/3) o especial musical “2022”. Conduzida pela cineasta e produtora cultural Monique Gardenberg, a atração chega com o propósito algo quixotesco de traduzir o Brasil – ou um projeto de Brasil – por meio de sua música, seus compositores e intérpretes. O elenco que marca presença no especial, que é dividido em dois atos, com 11 números musicais em cada um, é de encher os olhos.

Participam de “2022” Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Martinho da Vila, Emicida, Nação Zumbi, João Bosco, Racionais MCs, Zeca Baleiro, Zeca Pagodinho, Baiana System e outros tantos – muitos deles dividindo o palco em duos, trios ou formações maiores. Tais nomes e as músicas que interpretam foram escolhidos por uma curadoria que Monique dividiu com o antropólogo, pesquisador musical e roteirista Hermano Vianna e com o músico Lourenço Rebetez.

A produção original da HBO Max envolve ainda diversos outros expoentes do fazer artístico no país. Monique compartilha a direção geral com Felipe Hirsch; Daniela Thomas assina a direção de arte; Fernando Young responde pela direção de fotografia; a direção musical é de Liminha e Kassin, com regência de Jaques Morelenbaum e Pretinho da Serrinha. Além dos números musicais, o especial também traz um registro dos bastidores, com entrevistas e cenas inéditas da produção.

Hermano Vianna observa que o especial também alude ao centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, na medida em que celebra a atemporalidade do movimento e de suas proposições por meio da potência e da inventividade da música brasileira, em seus mais diversos gêneros. O roteiro oferece, conforme ele diz, uma reflexão sobre o Brasil e confirma a cultura como força independente e indestrutível de uma nação.

''A ideia era que o show fosse uma grande união da música brasileira, celebrando a inventividade, e foi o que orientou essas costuras que propusemos. Os encontros têm um significado também. Tudo ali tem uma razão de ser''

Monique Gardenberg, diretora


COLABORADORES

Monique explica que diversos outros artistas, pesquisadores e intelectuais colaboraram com o processo de seleção das músicas e dos cantores presentes em “2022”. Atendendo a um chamamento dos curadores, José Miguel Wisnik, Ronaldo Lemos, Tárik de Souza, Iara Rennó, Juçara Marçal, Dodô Azevedo e Bernardo Oliveira, entre muitos outros, enviaram listas com sugestões de músicas e músicos.

“Depois de ficarmos três meses quebrando a cabeça pensando em um roteiro que carregasse a narrativa que pretendíamos – uma reflexão sobre o Brasil e uma celebração da música brasileira –, eu, Hermano e Lourenço recorremos a essa turma. Francisco Bosco, que foi um dos colaboradores, conseguiu traduzir nossa ideia em palavras. A gente só tinha o sentimento: queríamos canções que pudessem ter representatividade e força narrativa”, diz.

Ela explica que a partir do momento em que foi fechado o roteiro com as 22 canções é que a equipe responsável pela produção começou a pensar o elenco de artistas e as colaborações – quem poderia dividir o palco com quem. 

O resultado dessa equação traz, por exemplo, Arnaldo Antunes, Paralamas do Sucesso e Nação Zumbi interpretando “Da lama ao caos”; Chico Buarque e Mônica Salmaso defendendo “Imagina”; Criolo e Emicida dando sua versão para “Construção”, e Caetano Veloso e o jovem rapper indígena Owerá, da etnia guarani, emendando “Um índio”, do primeiro, com “Mbaraeté”, composição do segundo.

ENCONTROS

“A ideia era que o show fosse uma grande união da música brasileira, celebrando a inventividade, e foi o que orientou essas costuras que propusemos. Os encontros têm um significado também. Tudo ali tem uma razão de ser”, aponta Monique. Hermano ressalta que o roteiro não pretende ser uma lista das melhores músicas ou uma seleção das que os curadores mais gostam – elas compõem um retrato da modernidade brasileira.

“As músicas conversam umas com as outras. Uma determinada canção responde ao que a anterior abriu em termos de temática. A gente quis deixar que as músicas falassem por si. Poderia ter um apresentador ou um texto explicando as coisas, mas não quisemos dessa forma. Pode ter uma garotada que talvez não saiba quem foi Nelson Cavaquinho, não conheça ‘Juízo final’, mas a força daquela música se impõe”, destaca.

Lourenço Rebetez aponta que, para chegar à lista final de canções e intérpretes, os curadores se balizaram por uma narrativa, mas também se deixaram levar pelo coração para chegar a um roteiro que traduzisse um sentimento de brasilidade. 

“A gente logo se convenceu de que era impossível dar conta de um formato de antologia, no sentido de, por exemplo, ter representantes de cada região do país. É um retrato, é para passar uma impressão, não é para fazer um painel da diversidade, apesar de ela claramente estar presente”, diz.

Com a banda postada atrás de si no palco, Caetano Veloso e o rapper indígena Owerá cantam em frente aos seus respectivos microfones
Caetano Veloso e o rapper indígena Owerá, de 20 anos, se unem na interpretação de ''Um índio'', seguida de ''Mbaraeté'' (foto: HBO Max / Dueto Filmes / Divulgação)

SEMANA DE 22

De acordo com Hermano Vianna, a celebração do centenário da Semana de 22 está presente no especial, na medida em que ele nasce a partir do pensamento sobre um projeto de modernidade no Brasil. 

“Isso é repensado em vários momentos ao longo dos últimos 100 anos. Esse roteiro de canções fala sobre isso, propõe ideias de um Brasil, são manifestos sobre o que queremos, o que esperamos do país, o que gostamos e o que não gostamos nesse contexto de produção de arte moderna, de um país moderno”, afirma.

Ele destaca que a própria ideia de modernidade foi sendo revista todo o tempo a partir da Semana de 22, e a música popular brasileira reflete esse debate. “A MPB é um dos espaços mais importantes para a reflexão sobre o país. O alcance que a música brasileira tem, não só no sentido da construção de identidade, mas também para a imagem que o Brasil projeta para o resto do mundo, é o que nos levou a ter esse foco no que as canções que compõem esse roteiro dizem, não só as letras, mas a linguagem musical mesmo”, destaca.

''A MPB é um dos espaços mais importantes para a reflexão sobre o país. O alcance da música brasileira, no sentido da construção de identidade e na imagem que o Brasil projeta para o resto do mundo, é o que nos levou a ter esse foco''

Hermano Vianna, curador do projeto


ARTES VISUAIS

Ele aponta que esse painel de uma identidade brasileira moderna que “2022” procura desenhar passa não só pelas canções, mas também pelas imagens que emolduram cada apresentação. Enquanto a música é celebrada pelos intérpretes no palco, a cenografia traz obras de artistas plásticos brasileiros, com forte presença da nova geração de nomes surgidos das periferias de todo o país, como Elian Almeida, Denilson Baniwa, Kika Carvalho, Vânia Mignone, Desali, Márcia Falcão, Maxwell Alexandre, entre muitos outros.

“Nesse sentido, a Daniela Thomas foi fundamental. Fizemos uma opção por artistas muito recentes, que representassem a diversidade do país, pensando no que será o futuro dessa ideia de modernidade”, diz Vianna. “Tem gente de Minas, de Pernambuco, tem o Éder Oliveira, do Pará, que ganhou o prêmio Pipa em 2017; ele fez o cenário dos Racionais (com a obra “Autorretrato vermelho”). Esse componente visual de ‘2022’ é muito importante”, completa Monique.

Vestidos de preto e usando bonés, os Racionais MCs se apresentam com imagem de figura em fundo vermelho atrás do palco
Os Racionais MCs interpretam ''Negro drama'', tendo ao fundo imagem da obra ''Autorretrato vermelho'', do artista paraense Éder Oliveira (foto: HBO Max / Dueto Filmes / Divulgação)

PROCESSO

Ela explica que o processo de realização do especial durou cerca de um ano, a partir de janeiro de 2021, quando teve a ideia, até dezembro, quando ocorreram as gravações, entre os dias 9 e 13, seguindo depois com as etapas de pós-produção. O especial traz uma apresentação de Elza Soares, que morreu em 20 de janeiro deste ano, cantando “Mulher do fim do mundo” ao lado de Renegado.

 Monique conta que, quando pensou em realizar um projeto de tal vulto, ligou para Hermano e para Lourenço para que eles opinassem se era viável ou se ela estava doida. “Nós achamos que ela estava doida”, graceja o antropólogo. “A HBO Max também achou que eu estava doida, mas a verdade é que todo mundo se juntou em torno dessa ideia”, ela diz. 

“A força vinha da Monique; eu estava desanimado, mas resolvi que tinha que embarcar nessa. Quando a gente começou a fazer os convites para os artistas, todo mundo respondeu positivamente, porque achava que era um momento muito importante”, ressalta Hermano. “Só foi possível juntar tanta gente porque todo mundo estava buscando essa energia que o projeto ensejava”, comenta Lourenço.

VEJA O QUE VOCÊ VAI OUVIR

Confira o roteiro musical do especial musical “2022”

» ATO 1
1. “Sorriso aberto” (Guaraci Sant’anna)
Intérpretes: Leandro Lehart e Terreiro de Crioulo
2. “Diáspora” (Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown, Castro Alves e Joaquim Sousa) / “Revolta Olodum” (Domingos Sérgio/ José Olissom)
Intérpretes: Carlinhos Brown, Mateus Aleluia, Olodum
3. “Da lama ao caos” (Chico Science)
Intérpretes: Arnaldo Antunes, Nação Zumbi, Paralamas do Sucesso
4. “Um índio” (Caetano Veloso) / “Mbaraeté” (Owerá/ Rod Krieger)
Intérpretes: Caetano Veloso e Owerá
5. “Canoa canoa” (Fernando Brant/ Nelson Ângelo)
Intérpretes: Maria Gadú e Péricles
6. “Ronco da cuíca” (Aldir Blanc/ João Bosco)
Intérprete: João Bosco
7. “Zé do Caroço” (Leci Brandão)
Intérpretes: Leci Brandão e Késia
8. “Negro drama” (Mano Brown/ Edi Rock)
Intérpretes: Racionais MCs
9. “Rap da felicidade” (Julinho Rasta/ Katia)
Intérprete: Ludmilla
10. “Conselho” (Adilson Bispo/ Zé Roberto)
Intérpretes: Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Mosquito
11. “Imagina” (Chico Buarque/ Tom Jobim)
Intérpretes: Chico Buarque e 
Mônica Salmaso

» ATO 2
1. “Reza forte” (Bernardo Santos/ Marcelo Santana/ Roosevelt Carvalho)
Intérpretes: BaianaSystem e BNegão
2. “Construção” (Chico Buarque)
Intérpretes: Criolo e Emicida
3. “Vapor Barato” (Waly Salomão/ Jards Macalé)
Intérprete: Gal Costa
4. “Tente outra vez” (Marcelo Motta/ Paulo Coelho/ Raul Seixas)
Intérpretes: Ana Frango Elétrico e Tim Bernardes
5. “O seu amor” (Gilberto Gil)
Intérpretes: Assucena, Jaloo, Johnny Hooker e Preta Gil
6. “De onde vem o baião” (Gilberto Gil)
Intérpretes: Gilberto Gil e Duda Beat
7. “Chão da praça” (Junior/ Fausto Nilo Costa/ Antônio Carlos de Moraes)
Intérpretes: Luiz Caldas, Pepeu Gomes e Davi Moraes
8. “Toda vez que eu dou um passo o mundo sai do lugar” (Siba/ Marcio Sergio) / “Semente do bem” (Buco do Pandeiro/ Geraldo Maia)
Intérpretes: Siba, Zeca Baleiro, Mestre Nico
9. “Magrelinha” (Luiz Melodia)
Intérprete: Alexandre Carlo
10. “Mulher do fim do mundo” (Rômulo Fróes/ Alice Coutinho)
Intérpretes: Elza Soares e Renegado
11. “Juízo final” (Elcio Soares/ Nelson Silva)
Intérpretes: Alcione, Luedji Luna e Majur
Tema de Encerramento: “Honra ao rei (Letieres dos Santos Leite)”
Intérprete: Orkestra Rumpilezz


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