Quem abre o LP “Clube da Esquina” logo se depara com um álbum de fotografias no miolo das duas capas do disco duplo, com dezenas de imagens pequeninas retratando o mundo de Milton Nascimento, Lô Borges e seus companheiros de aventura musical naquele início dos anos 1970.
No encerramento da série especial “Nada foi como antes - 50 anos do Clube da Esquina”, fotógrafos do Estado Minas mergulham no imaginário das canções do Clube.
Estado de Minas descobriu os meninos da capa
Durante décadas, manteve-se a lenda: Lô Borges e Milton Nascimento eram as crianças cuja foto correu o mundo na icônica capa do LP “Clube da Esquina”, lançado em 1972. Quando o álbum completou 40 anos, o Estado de Minas descobriu a verdade. Estavam ali os meninos José Antônio Rimes, o Tonho, e Antônio Rosa de Oliveira, o Cacau.
A repórter Ana Clara Brant e o fotógrafo Túlio Santos viajaram até Nova Friburgo (RJ), onde a dupla fora clicada, nos anos 1970, por Carlos da Silva Assunção Filho, o Cafi, na beira de uma estrada de terra. Eles acharam Tonho e Cacau, então com 47 e 48 anos, respectivamente.
Publicada em 18 de março de 2012, a reportagem do EM ganhou repercussão nacional e internacional, pois o disco tem fãs em vários países – entre eles, mestres do jazz e astros do pop.
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Durante quatro dias, Ana Clara e Túlio percorreram a área rural de Nova Friburgo. Antes, a jornalista havia feito contato com a rádio local, que anunciou aos ouvintes a chegada da equipe e informou aos moradores o motivo da visita.
Ana Clara e Túlio espalharam por lá cartazes com a fotografia da capa de “Clube da Esquina”. Conversaram com 53 pessoas. Elizabeth Fernandes Silva, a Beth, identificou os dois. “Oh, sou eu e o Cacau”, disse Rimes, quando os jornalistas lhe mostraram o LP.
Nem Rimes, que trabalhava no supermercado, nem Oliveira, pintor de paredes, sabiam que sua foto estampava a capa do disco famoso. Nascidos em famílias humildes de agricultores, revelaram que costumavam brincar na área do Rio Grande de Cima, local da foto de Cafi.
A família de Ronaldo Bastos, letrista de várias faixas do “Clube da Esquina”, tem fazenda na região. Nos anos 1970, a bordo de um Fusca, ele e Cafi viram os meninos sentados à beira da estrada. “Foi como um raio”, relembrou o fotógrafo na reportagem do EM. Para ele, a imagem de Cacau e Tonho era “a cara do Brasil”. Autor de três dezenas de capas de disco, Cafi morreu em 2019, aos 68 anos, de infarto.
A pedido do EM, Tonho e Cacau voltaram à estrada e repetiram a pose – a foto foi feita há exatos 10 anos, em 14 de março de 2012. Quando a história deles veio a público, a repercussão foi enorme – a redação recebeu inúmeros telefonemas, e-mails e manifestações de fãs do Brasil e do exterior.
Naquele mesmo ano, José Antônio Rimes e Antônio Rosa de Oliveira entraram na Justiça reivindicando R$ 500 mil por danos morais e uso indevido das respectivas imagens. A ação envolvia Milton Nascimento e Lô Borges, que lançaram “Clube da Esquina”, a gravadora EMI e a Editora Abril, responsável pela reedição do LP em CD.
A EMI (depois incorporada pela Universal) pediu a citação de Ronaldo Bastos, argumentando que ele cedera à empresa os direitos sobre o material gráfico do LP. Até hoje o processo corre no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Em 2019, Milton Nascimento iniciou a turnê comemorativa dos 50 anos do disco “Clube da Esquina”. A icônica foto-símbolo da capa do álbum não fez parte da cenografia, mas sim painel com um garoto negro e outro branco segurando violões, criado pela dupla Os Gêmeos, formada pelos grafiteiros paulistanos Otávio e Gustavo Pandolfo.