Primeiro filme indiano indicado ao Oscar na categoria melhor documentário, “Escrevendo com fogo”, dirigido e produzido por Rintu Thomas e Sushmit Ghosh, apresenta um panorama do país asiático com suas mazelas e contradições, enquanto acompanha o desenvolvimento do jornal Khabar Lahariya (Onda de Notícias), cuja equipe é formada exclusivamente por mulheres.
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Brasileiro indicado ao Oscar quer levar moradores de rua à cerimôniaCandidata ao Oscar, Jane Campion recebe cinco prêmios em dois diasEntrega do Oscar em oito categorias será pré-gravadaMercado de arte se recupera em 2021Foto em Pauta retoma edição presencial em Tiradentes a partir de amanhãArtista experimenta transformar o tecido em pintura, escultura e poesia'Estava em casa, com 48. Saí para fazer show e estava com 50', diz TakaiSelecionada para 100 festivais ao redor do mundo e distribuída em mais de 40 países, a produção é um dos títulos mais laureados da temporada, com mais de 20 prêmios conquistados, incluindo dois na edição 2021 do Festival de Sundance.
Ao longo de uma hora e meia, o espectador acompanha a impressionante história do veículo de comunicação criado em 2002. Em 2016, a partir de quando o documentário se desenrola, o jornal está num momento de transição para o digital.
CASTAS
Os letreiros iniciais do filme informam sobre o sistema de castas da Índia, pelo qual a sociedade é dividida hierarquicamente entre os sacerdotes, os guerreiros, os comerciantes e os servos. À margem desse sistema estão os dalits, considerados impuros e escancaradamente marginalizados. É a esse grupo social que as mulheres do Khabar Lahariya pertencem.
A história de “Escrevendo com fogo” gira, principalmente, em torno de três delas: Meera Devi, criadora e chefe de reportagem do jornal; Suneeta Prajapati, que se destaca como a mais prolífica e incisiva profissional da equipe; e Shyamkali Devi, que cumpre a mais emblemática jornada de crescimento ao longo da história.
A partir da primeira reportagem mostrada pelo documentário, com uma mulher que é rotineiramente estuprada por homens que invadem sua casa, fica claro que “Escrevendo com fogo” é, antes de mais nada, sobre a coragem daquele grupo de aproximadamente 20 profissionais que, contrariando todas as probabilidades, leva adiante o projeto do Khabar Lahariya.
As repórteres se lançam na apuração de fatos que vão desde a falta de saneamento básico na comunidade dalit até a promíscua relação entre governo, polícia e uma máfia de mineradores que opera em Uttar Pradesh, região do Norte da Índia onde o jornal tem sede e onde a maior parte da história se desenvolve. Pouco tempo após a chegada do Khabar Lahariya ao ambiente digital, o veículo contabiliza em torno de 100 mil visualizações em seu canal no YouTube.
BARREIRAS
O documentário vai conduzindo o espectador pela rotina das mulheres do jornal, num ambiente machista, violento e de extrema pobreza. Rompendo barreiras e obstáculos, elas seguem adiante com sua missão e, em pouco tempo, o número de visualizações no YouTube sobe para mais de 1 milhão, quando a reportagem sobre a mineração clandestina e seus efeitos nefastos ganha repercussão nacional.
Ao mesmo tempo em que acompanha o trabalho jornalístico, “Escrevendo com fogo” se debruça sobre os dramas pessoais e as inquietações das três personagens centrais. Numa determinada cena, o marido de Meera diz achar incrível que ela tenha conseguido conduzir o jornal por 14 anos, e acrescenta que ele não vai muito longe, já que, naquele momento, até as grandes empresas de comunicação estavam enfrentando dificuldades.
Noutra cena, vemos a mesma personagem preocupada com as notas baixas que seus filhos estão tirando na escola porque ela, por falta de tempo, não consegue dar a eles o acompanhamento de que necessitam.
O documentário chega a 2017, ano de eleições em Uttar Pradesh, com foco na ascensão do nacionalismo hindu na Índia e as esferas política e religiosa cada vez mais amalgamadas – um cenário que não é nada favorável para as mulheres.
Neste momento, o canal no YouTube do Khabar Lahariya já contabiliza mais de 10 milhões de visualizações. Os ingredientes de resiliência e superação que envolvem as mulheres que batalham por aquilo que consideram uma missão de sustentação da democracia é o que cativa em “Escrevendo com fogo".
EXPANSÃO
O documentário não só oferece um arco dramático eficiente, com a heroica jornada do Khabar Lahariya e de suas profissionais entre 2016 e 2021, como também revela, sem filtros, os cenários de uma Índia que não aparece nos cartões-postais e os costumes de seu povo. Entre reveses e sucessos, o jornal chega aos dias atuais, ativo, com mais de 150 milhões de visualizações em seu canal do YouTube e em rota de expansão.
“Geralmente, em um filme jornalístico, temos um caso que se torna o coração da história. Aqui, a forma que a história é estruturada e contada é totalmente diferente. Sim, elas são jornalistas, mas elas também são mulheres determinadas e era isso que queríamos colocar como o centro do filme”, disse o diretor Rintu Thomas por ocasião do lançamento do documentário.