O crime perfeito. Um assalto com natureza de furto, silencioso, sem despertar nenhuma suspeita ou fazer uso de violência. Um grupo de criminosos invade, por meio de um túnel subterrâneo, a caixa-forte de um banco e rouba uma quantia superior a R$ 160 milhões em cédulas de R$ 50 que, juntas, pesam mais de três toneladas.
Digna de cinema, essa história aconteceu de verdade, em 2005, e o alvo foi o Banco Central do Brasil, em Fortaleza, no Ceará. Já adaptada para a telona no filme "Assalto ao Banco Central" (2011), de Marcos Paulo, ela agora é tema da série documental "3 tonelada$", uma produção original da Netflix que estreia nesta quarta-feira (16/3).
A produção faz parte da iniciativa Mais Brasil na Tela, programa criado pela plataforma de streaming com o objetivo de aumentar a presença de conteúdos originais brasileiros em seu catálogo.
Dirigida e roteirizada por Daniel Billio, com direção geral de Rodrigo Astiz, "3 tonelada$" destrincha a história do assalto ao longo de três episódios de 60 minutos cada um. Para isso, são utilizadas entrevistas com policiais que investigaram o caso e com pessoas envolvidas no crime, imagens de arquivo e cenas que simulam situações que ocorreram de fato.
DEPOIMENTO
A série traz o depoimento inédito de um dos líderes do assalto, além de entrevistas com dois policiais que trabalharam infiltrados durante as investigações. Eles nunca haviam falado publicamente sobre o crime. Os três tiveram suas vozes e identidades preservadas.
Segundo informações da produção, foram necessários dois meses de negociações para que um dos líderes do bando aceitasse conceder o depoimento. Um segundo acusado chegou a negociar a participação na série quando foi preso por outro crime.
No total, mais de 30 pessoas foram entrevistadas para o documentário, entre policiais federais, jornalistas, pesquisadores, procuradores e juízes em São Paulo, Brasília, Fortaleza, Porto Alegre e da cidade de Boa Viagem, no interior do Ceará.
"3 tonelada$" mergulha não só na história do roubo, mas também na investigação e nos desdobramentos do crime.
ESQUEMA
O primeiro episódio, intitulado "O crime", conta em detalhes o engenhoso esquema desenvolvido para invadir o Banco Central. O segundo, "A caçada", mostra o processo de investigação que envolveu policiais de diferentes partes do Brasil. No terceiro e último, "Dinheiro maldito", a série revela as consequências do crime para os envolvidos, que se tornaram vítimas de extorsões, sequestros e assassinatos.
O primeiro episódio, intitulado "O crime", conta em detalhes o engenhoso esquema desenvolvido para invadir o Banco Central. O segundo, "A caçada", mostra o processo de investigação que envolveu policiais de diferentes partes do Brasil. No terceiro e último, "Dinheiro maldito", a série revela as consequências do crime para os envolvidos, que se tornaram vítimas de extorsões, sequestros e assassinatos.
O assalto ao Banco Central chocou o Brasil quando ocorreu, em agosto de 2005, e teve repercussão inclusive na imprensa internacional. A polícia estima que 34 pessoas participaram diretamente do roubo, que teria durado em torno de 11 horas.
Apesar disso, uma das principais excepcionalidades desse crime foi não ter feito nenhuma vítima. O plano dos criminosos foi pensado para ser silencioso, sem reféns, o que faz com que ele seja caracterizado como furto.
O grupo de assaltantes a banco, considerados na época a elite do crime, investiu alto para manter a quadrilha, boa parte oriunda de São Paulo, vivendo em Fortaleza durante o período da escavação.
Para isso, foi instalada uma empresa de fachada em uma casa localizada a aproximadamente 80 metros do Banco Central. Foi lá que eles começaram a construir um túnel subterrâneo de 75 metros com destino à caixa-forte da instituição financeira. Para prevenir o desabamento do túnel, foram instaladas vigas de madeira nas paredes.
CAMUFLAGEM
Após perfurar o chão da caixa-forte, eles camuflaram o buraco com empilhadeiras e conseguiram tirar de lá exatos R$ 164,5 milhões em cédulas não rastreáveis. Para transportá-las de volta até a casa, foram usados sacos de cereais e um sistema de roldana. Após o roubo, o bando se dividiu em subgrupos para despistar a polícia.
Bandidos de diversas partes do Brasil foram recrutados para o crime, conforme as características do trabalho que deveriam executar. Ao todo, 129 pessoas foram indiciadas pelo assalto ou por lavagem de dinheiro. No processo, cerca de 500 testemunhas foram ouvidas e, nas condenações em 1ª instância, as penas somadas chegaram a 2.452 anos de prisão.
Com ritmo de thriller policial, a série documental foca no trabalho de inteligência da Polícia Federal. Ao longo de cinco anos, uma equipe especializada em crimes contra o patrimônio investigou, localizou e prendeu os envolvidos no crime.
RECUPERAÇÃO
Além das prisões, a investigação resultou na recuperação de 20% do dinheiro roubado, além do desmonte de um túnel similar que estava sendo construído com destino a duas agências bancárias no Centro de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
"3 tonelada$" também mostra como o trabalho dos agentes foi prejudicado por policiais corruptos que extorquiram dinheiro, sequestraram e assassinaram assaltantes, na tentativa de tirar proveito do dinheiro roubado.
Para dar a dimensão dos acontecimentos, a produção da Netflix reconstruiu o túnel do crime em um galpão no interior de São Paulo.
Não só as medidas são praticamente as mesmas – porém com uma lateral aberta para que o interior pudesse ser filmado –, mas também os objetos encontrados pelos peritos lá dentro, como ventiladores, tubulação de ar refrigerado, lâmpadas, garrafas de água e de isotônico.
Para isso, a esquipe da diretora de arte Jennifer Schauff analisou fotos da perícia feita pela Polícia Federal, concedidas à produção, e também depoimentos.
Momentos fundamentais do caso também foram reencenados na série documental, como a prisão dos principais envolvidos, baseados em relatos dos criminosos ou policiais.
“3 TONELADA$: ASSALTO AO BANCO CENTRAL”
Série em três episódios, com estreia nesta quarta-feira (16/3), na Netflix