Se existe um diretor que sabe fazer um thriller erótico em Hollywood é Adrian Lyne. Autor dos filmes "Nove e meia semanas de amor" (1986), "Atração fatal" (1987) e "Proposta indecente" (1993), Lyne, de 81 anos, definiu o gênero nas décadas de 1980 e 1990.
Em seguida, sua carreira parou, no início dos anos 2000. Ele não rodava um filme há duas décadas, mas seu retorno às telas tem sido grande. "Águas profundas", que será lançado pela Amazon Prime Video nesta sexta-feira (18/3), revisita a questão da infidelidade conjugal, com Ben Affleck e Ana de Armas.
Os dois foram brevemente um casal na vida real e com menos drama do que no filme, em que a personagem de Armas quase enlouquece o marido com sua infidelidade.
"Quando fiz a seleção de elenco, fiz um teste em minha casa em Los Angeles", explicou Lyne, em entrevista via Zoom. "Eu não sabia muito sobre Ana... Mas quando vi como ela trabalhava com Ben, imediatamente percebi que a química entre eles funcionava. Não é sobre ele ou ela, mas sobre os dois juntos", disse.
CONFIANÇA
"Fiquei chocado com a perspectiva (de trabalhar com os ‘coordenadores de intimidade’)", afirma Lyne. "Eu não gosto que não haja confiança entre os atores e o diretor. Se você não tem isso, não tem nada. Tenho que estar disposto a morrer por eles e eles por mim."
A parte mais difícil, no entanto, foi preservar a mensagem desestabilizadora do filme: "Muitas vezes, o instinto dos estúdios é eliminar as partes estranhas de um roteiro. Mas essas partes geralmente são as mais interessantes."
Lyne diz que "queria fazer um filme em que houvesse cumplicidade entre os dois. Não é um casamento feliz, convencional. Há uma sensação de desconforto". No filme, a personagem interpretada por Ana de Armas engana abertamente o marido, com certa cumplicidade da parte dele, algo que colide com a atual onda de puritanismo e discurso politicamente correto presente em Hollywood.
O tema central do filme é o ciúme. "Uma emoção tão complicada... Obviamente, incrivelmente destrutiva, mas também tem um componente erótico", argumenta o diretor.
Lyne está casado há quase 50 anos. Seu último filme foi "Infidelidade" (2002), com Richard Gere. Sua esposa se incomoda com essa obsessão pelo adultério?, é a pergunta. "Ela está sentada ao meu lado, então eu tenho que ter cuidado", responde Lyne com uma risada, durante a entrevista em vídeo. "Não sei por que continuo fazendo esse tipo de filme", confessa.
"Pode parecer brega, mas gosto de filmes em que você pode se colocar no lugar do ator. Posso gostar de 'Duna' ou 'Matrix', mas prefiro filmes de orçamento menor sobre você ou sobre mim."
Lyne afirma que não há nenhuma razão específica para ter ficado afastado das filmagens por 20 anos. Simplesmente, a realidade da indústria cinematográfica, na qual os projetos às vezes naufragam após anos de esforço. "Não posso esperar outros 20 anos", ele ri. "Terei 100 anos!"