Qualquer desavisado que estiver zapeando pelo catálogo da Netflix e escolher assistir à animação japonesa "Kotaro vai morar sozinho" pode, a princípio, pensar tratar-se de um garoto de 4 anos tendo de enfrentar os desafios de cuidar de si mesmo. A premissa pode parecer aprioristicamente absurda, mas, à medida que os episódios avançam, percebe-se que a série vai muito além disso.
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Luísa Sonza e Pabllo Vittar comandam aposta da HBO Max no formato reality 'Tarsilinha' leva quadros da pintora modernista à telona'Winning time' escala Magic Johnson e Lakers para a guerra do streamingSérie sobre espiões escanteados faz mistério com o erro dos ''fracassados''Netflix já cobra taxa em três países por conta compartilhadaDiretor de "Atração fatal" volta ao thriller erótico com "Águas profundas"Negligenciado pelos pais por motivos revelados ao longo da trama, Kotaro é uma criança incomum. Obrigado a amadurecer precocemente, ele adota uma fala e um gestual pomposos, aprendidos com seu desenho de TV favorito, “Tanosaman”, que está às vésperas de ser cancelado.
CARISMA
A formalidade exagerada de Kotaro no trato com as pessoas, entretanto, não passa da página dois. Com leveza e carisma, ele é capaz de tocar tanto os personagens da série quanto o espectador.
Como uma espécie de Amélie Poulain, Kotaro cria ao seu redor uma corrente do bem, fazendo de tudo para ajudar todos que cruzam seu caminho, sem deixar que eles o ajudem de volta. O drama de Kotaro, porém, é mais profundo que o da heroína do filme cult francês.
O garoto é submetido a uma rotina de abuso físico, rejeição e abandono parental, em cenas que podem ser especialmente difíceis para uma parcela do público. No entanto, assim como os personagens são afetados pelo protagonista, ele também acaba se deixando tocar pelos gestos de carinho e cuidado e desabrochando, como as flores das cerejeiras, tão presentes nos cenários do anime.
Nem tudo são lágrimas na série. Acompanhado de sua espadinha, que emula a usada pelo seu ídolo da TV, Kotaro garante boas risadas e entretenimento ao lado de seus vizinhos, um mangaká relapso, uma garota de programa, e um mafioso da Yakuza. Todos eles veem suas vidas transformadas após a chegada do pequeno.
* Estagiário sob a supervisão da editora Silvana Arantes