Seis anos após estrear no Rio de Janeiro, a montagem brasileira da peça "Love, love, love", do Grupo 3 de Teatro, será apresentada pela primeira vez em Belo Horizonte nesta sexta-feira (18/3), às 20h, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Com sessões também no sábado (19/3) e no domingo (20/3), o espetáculo abre a programação deste ano do projeto Teatro em Movimento, que completa 21 anos em 2022.
Com direção de Eric Lenate e elenco composto por Alexandre Cioletti, Ary França, Débora Falabella, Mateus Monteiro e Yara de Novaes, a peça acompanha diferentes gerações de uma mesma família, em três atos.
O primeiro se passa em 1967, na noite em que os Beatles cantaram na TV a música "All you need is love", o que entrou para a história como a primeira transmissão ao vivo via satélite.
É nesse contexto que Sandra (Débora) tem um encontro com Henry (Mateus Monteiro), mas acaba se interessando pelo irmão dele, Kenneth (Alexandre Cioletti).
No segundo ato, em meados dos anos 1990, Sandra (agora interpretada por Yara) e Kenneth (agora interpretado por Ary França) são um casal de classe média com dois filhos e um casamento prestes a ruir.
No terceiro e último ato, ambientado em 2011, a família se reúne e Rose (Débora), a filha, expõe suas insatisfações com a vida e culpa os pais por sua infelicidade.
GERAÇÃO
"É um espetáculo que se passa dentro de uma casa e mostra que, no passado, era hippie, e, aos poucos, se rendeu a tudo aquilo que eles eram contra. No último ato, aparece essa filha adulta que entra em busca de um acerto de contas. Ela é dessa geração que continua patinando para conquistar alguma coisa na vida", explica Débora Falabella.
Além do revezamento de atores de acordo com as fases da vida dos personagens, a passagem de tempo também está traduzida no cenário e no figurino, que vão se modificando diante dos olhos da plateia, ao longo dos 140 minutos de espetáculo.
"Na montagem original, que esteve até na Broadway, esse espetáculo tinha cenários grandes. Nós optamos por fazer algo mais simples e promover as mudanças de cenário diante do público. São signos que marcam a passagem do tempo. É quase como se esses anos que a peça retrata estivessem passando na frente de quem está assistindo", afirma Débora.
"Love, love, love" é o segundo trabalho do Grupo 3 de Teatro feito a partir de um texto do dramaturgo britânico Mike Bartlett. O primeiro foi "Contrações", montado em 2013, que retratava a relação manipuladora de uma gerente com sua funcionária.
Débora Falabella conta que um texto levou ao outro. "Quando começamos a pesquisar, a nossa vontade era fazer um texto só para duas atrizes. Eu já tinha gostado muito desse formato. Então a gente se deparou com o 'Love, love, love', que requer um elenco maior".
Para ela, as duas peças se relacionam porque apresentam temas bastante comuns e se passam dentro de um espaço específico. "O texto do Bartlett conta a história de um jeito que é quase mundial e aborda temas muito ligados à nossa sociedade, mas dentro de lugares menores. 'Contrações' se passava dentro de um escritório. 'Love, love, love' se passa dentro de uma casa. É como se fosse a ampliação de um mesmo debate", analisa.
ÉPOCA
A atriz acrescenta que, por se passar em diferentes épocas, o texto mostra como a vida é uma sucessão de situações semelhantes. "Eu acho que, apesar de se passar em uma época determinada, ele mostra como a nossa história é cíclica. Quando a gente acha que acabou, volta."A chegada da peça em BH demorou principalmente por conta da pandemia. Apesar de ter estreado em 2017, "Love, love, love" seguiu sendo encenada até o início da crise sanitária. Nesse meio tempo, Débora acumulou outros trabalhos, como a minissérie "Se eu fechar os olhos agora" e a série "Aruanas", o filme "Depois a louca sou eu" (2021) e a peça "Neste mundo louco, nesta noite brilhante", do Grupo 3.
"Tem uma série de fatores que explicam essa demora. E um deles é a dificuldade de continuar fazendo teatro do Brasil. As leis de incentivo à cultura estão cada vez mais difíceis. Além disso, a gente ficou parada dois anos, justamente um período em que estávamos planejando uma viagem com o repertório do grupo", comenta a atriz.
Apesar disso, ela afirma que pretende retornar a Belo Horizonte em breve, com "Neste mundo louco", cujo texto é de Silvia Gomez e a direção é de Gabriel Fontes Paiva. Enquanto isso, ela também se prepara para a estreia do filme "Bem-vinda, Violeta", de Fernando Fraiha.
"Sempre estamos em conversa com os produtores para levar as nossas peças para BH. Eu adoro me apresentar na cidade onde eu nasci. O meu pai vai em todas as sessões, fica nos bastidores com a gente. Como o Grupo 3 nasceu aí, é sempre uma festa se apresentar em BH. Dá um frio na barriga diferente", ela afirma.
CONVITE
Convidado para dirigir "Love, love, love", o diretor e ator Eric Lenate conta que sempre acompanhou o trabalho do Grupo 3 de longe, com admiração. A relação ficou mais estreita depois que ele dirigiu a peça "Mantenha fora do alcance do bebê", com Débora Falabella no elenco."Eu acompanho o grupo desde o primeiro trabalho deles. Tinha uma certa proximidade, mas não passava de coleguismo. Depois que eu trabalhei com a Débora e ela conheceu o meu trabalho de perto, essa relação ficou mais estreita. Foi aí que surgiu o convite para fazer o 'Love, love, love'", ele diz.
Sem apresentar o espetáculo por dois anos, o grupo precisou retomar o ritmo para se preparar para a nova temporada. Segundo Eric, o fundamento da peça é o jogo de cena entre os atores e também os diálogos.
"Quando as pessoas assistem, ficam com a sensação de que todo mundo fala, mas ninguém se ouve. Esse é um tipo de espetáculo em que é necessário manter em sala de ensaio. Sempre. Quando estamos em temporada, isso não é necessário, a prática vai se desenrolando no palco. Mas quando estamos em turnê, é sempre bom ensaiar mais uma vez", ele afirma.
Segundo o diretor, "Love, love, love" é um comentário sobre conflitos geracionais e a desilusão com ideologias. Em cena, o que impera são as angústias de cada um, sem que necessariamente se chegue em algum lugar.
"O autor traça um panorama histórico de conflito de gerações e mostra uma disfuncionalidade nisso. Os filhos, que teoricamente deveriam ter tomado o lugar dos pais, não conseguiram chegar até lá", ele diz.
"No fim das contas, todo mundo tem muito a dizer, mas sempre há pouco espaço para ouvir. E o mais brilhante é que, no final, todo mundo tem razão. Não dá para tomar partido porque não existe razão inexorável. Todo mundo tem os seus porquês", Eric acrescenta.
Para ele, o texto de "Love, love, love" permite "grandes atuações". "É um texto muito bom, muito bem escrito. Ele permite atrair grandes atuações. E é totalmente calcado em uma grande dramaturgia. O primeiro ato começa bagunçado e, aos poucos, ele vai ganhando um aspecto asséptico. Tudo isso na frente do público."
Além do espetáculo com o Grupo 3, Eric Lenate assina a direção do espetáculo "Misery – Louca obsessão", adaptado da obra do autor norte-americano Stephen King, com Mel Lisboa e Marcello Airoldi no elenco.
"Estamos terminando uma temporada em São Paulo, depois faremos uma temporada no Rio de Janeiro e então a gente deve fazer outras cidades. Acredito que a peça chegue em BH em 2023", ele adianta.
“LOVE, LOVE, LOVE”
Nesta sexta (18/3) e sábado (19/3), às 20h, e domingo (20/3), às 18h, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 80 (inteira – plateia 1) e R$ 50 (inteira – plateia 2). Vendas pelo site Eventim e na bilheteria do teatro. Mais informações: (31) 3516-1360