Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Antonio Nóbrega e Orquestra Ouro Preto vão ao Nordeste armorial de Suassuna

De volta ao palco do Grande Teatro do Sesc Palladium hoje (20/3), às 11h, a Orquestra Ouro Preto, regida pelo maestro Rodrigo Toffolo, recebe o multiartista e brincante Antonio Nóbrega para apresentar o espetáculo “Tirando a casaca”. O evento desta manhã, que marca a retomada da série “Domingos clássicos”, presta homenagem ao Movimento Armorial.





“É a terceira ou quarta apresentação que faço com a Orquestra Ouro Preto. Inclusive, uma delas foi no Sesc Palladium também. Ela dá início à turnezinha que vai passar por São Luís, Recife e algumas outras cidades, que vem celebrar esse casamento”, comenta Nóbrega.

MERGULHO 

O concerto convida o público a um mergulho nas raízes musicais brasileiras, a partir de obras que mesclam frevo, maracatu e outros ritmos nordestinos. O repertório reverencia a obra de Antonio Nóbrega e de outros artistas por meio da dança, da voz e da orquestração.

“Parte dele é inédito, vai ser apresentado pela primeira vez. E outra parte são músicas que já apresentamos em outras ocasiões. São músicas que eu toquei com o Quinteto Armorial, que completa seu cinquentenário neste ano de 2022, e outras que fazem parte do repertório da música popular brasileira”, explica o multiartista.





Criado na década de 1970 por Ariano Suassuna (1927-2014), o Movimento Armorial buscou criar arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste. Desse movimento nasceu o Quinteto Armorial, integrado por Antonio Nóbrega ao lado dos músicos Antônio José Madureira, Egildo Vieira do Nascimento, Fernando Torres Barbosa e Edison Eulálio Cabral.


Fundado em 1972, o grupo, precursor da música de câmara brasileira de raízes populares, esteve na ativa até 1980. Lançou quatro discos: “Do romance ao galope nordestino” (1974), “Aralume” (1976), “Quinteto Armorial” (1978) e “Sete flechas” (1980).

“Acredito que o Movimento Armorial teve, sim, importância para a música brasileira, mas acho que ele foi um momento que se difundiu mais na Região Nordeste. É lá que a gente percebe o maior florescimento das ideias que Ariano Suassuna postulava. Elas se sedimentaram mais vigorosamente na região nordestina”, analisa Nóbrega.





“Também não posso deixar de reconhecer que existem grupos de música armorial no Paraná, por exemplo, e também no Rio de Janeiro. Acredito que o próprio movimento é uma grande referência para jovens músicos que se sentem representados por ele”, acrescenta o artista.

Foi muito por conta do envolvimento com o universo da cultura popular brasileira que Antonio Nóbrega desenvolveu estilo próprio de criação em campos como as artes cênicas e a música. É dele a autoria dos espetáculos “A bandeira do divino”, “A arte da cantoria”, “O maracatu misterioso” e “O reino do meio-dia”.
 

 
 
Uma prova da continuidade dos valores do movimento armorial no trabalho de Nóbrega é o Instituto Brincante, criado em 1992 por ele e sua mulher, Rosane Almeida, com o objetivo de unir o processo artístico ao pedagógico em torno da cultura popular brasileira.





Durante a pandemia, a instituição funcionou por meio do ambiente virtual. “A impossibilidade de fazer atividades presenciais nos forçou a aprender a utilizar esse novo recurso da transmissão de conhecimento por meio do chamado processo on-line. Isso nos ofereceu mais um caminho para que a gente possa passar as nossas ideias para a frente”, avalia.

Como vários artistas, Nóbrega também enfrentou momentos de dificuldade nos últimos dois anos devido à crise sanitária. Apesar disso, afirma que esse período o obrigou a diminuir o ritmo. “A gente sofreu alguns reveses, não posso negar. Mas como concilio o meu trabalho artístico com a rotina de palestrante e professor, praticamente pude me safar desse momento difícil do país”, revela.

“Confesso que estava precisando de um tempo de recolhimento. Aproveitei esse período para isso: me recolher. Dentro do contexto geral da pandemia, no meu caso pessoal, não sou daqueles que sofreram mais”, acrescenta.





O pernambucano se indigna com o atual contexto do país, marcado por crise econômica e política. A saída, segundo Nóbrega, está em outubro, nas eleições presidenciais.

“A gente tem de tirar esse presidente da República do comando do país. Não há outra saída. Ele não pode permanecer por mais um mandato. Esta é a primeira condição. Precisamos juntar esforços no sentido de tirá-lo do comando do país. Ele não tem nenhuma atitude que tenha sido boa para o país e, até o último dia do mandato, vai continuar enganando e mentindo”, afirma.

Prestes a completar 70 anos em 2 de maio, Antonio Nóbrega iniciou neste mês de março residência na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde atuou como professor de danças regionais brasileiras entre 1985 e 1991.

EM PORTUGAL 

Ele vai integrar o Programa Hilda Hilst do Artista Residente, com duração de seis meses. Haverá a parte prática, com oficinas de dança, poesia, música e teatro, e encontros virtuais, quando ele irá a Portugal pesquisar a cultura popular lusitana e sua relação com o Brasil.





“Estou muito animado com esse evento. Serão atividades que vão ao encontro de minha formação acadêmica e minha formação artística. Junto a isso, estou desenvolvendo um livro, que será uma espécie de longo ensaio sobre o mundo cultural popular, especificamente sobre as manifestações cênicas”, ele explica.

Intitulado “Brasisbrasil”, o livro, fruto de uma longa pesquisa feita pelo pernambucano, deve ser lançado ainda em 2022.

“TIRANDO A CASACA”
Com Orquestra Ouro Preto e Antonio Nóbrega. Neste domingo (20/3), às 11h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada), à venda pelo site Sympla. Informações: www.orquestraouropreto.com.br