Criar uma banda de pífanos em Belo Horizonte sempre foi o desejo do flautista André Siqueira. O sonho foi realizado quando o músico mineiro iniciou o projeto André Siqueira e o Trem de Doido, que manda para as plataformas digitais o single-clipe “Pife de roda”. A canção fará parte de um disco cheio que deverá ser lançado até o fim do ano.
Além de André, que já é conhecido no meio musical por seu trabalho no Duo Veracruz, junto ao pianista Matheus Ribeiro e em bandas e rodas de choro de BH, participaram da gravação Alice Valle (pífano), André Oliveira (viola caipira), Mari Carvalho, Daniel Guedes e João Paulo Drumond (percussões). “Confesso que já venho matutando essa ideia há muito tempo. A minha intenção sempre foi montar uma banda de pífanos em Belo Horizonte. Antes, até que existia a Cataventoré, da qual cheguei a fazer parte da última formação.”
Como o grupo se desfez, André resolveu levar a sua ideia adiante. “Minha intenção ganhou mais força, em 2012, quando conheci o grupo Pife Muderno, criado pelo flautista carioca Carlos Malta, nos anos 1990. Fiquei encantado com o som deles, com os pífanos e a percussão. Pensei: 'É esse o som que quero fazer'. E, em 2019, criei então o projeto André Siqueira e o Trem de Doido.”
Ele explica que são dois pífanos, três percussionistas e uma viola caipira. “Resolvi acrescentar a viola, porque também queria fazer uma coisa mineira. Estamos acostumados a ver as bandas de pífanos do Nordeste. Sempre viajei na sonoridade delas, porém com a intenção de tocar a música feita em Minas Gerais. Então, imaginei os pífanos tocando música sertaneja, fazendo as duas vozes, como se fossem dois cantores e também as percussões.”
''Misturamos ritmos brasileiros. E 'Pife de roda' tem bastante disso. Começamos com a ciranda, o xaxado, voltamos para a ciranda e terminamos num samba de roda, com direito a atabaques''
André Siqueira, flautista
BITUCA
Com a inovação e os instrumentos de percussão de Minas, além da viola caipira, o músico quis trazer a sonoridade do sertão para a cultura mineira. “Juntei o pessoal e comecei a fazer arranjos para músicas de Milton Nascimento. Mas quando íamos fazer o show de lançamento do grupo, veio a pandemia e trancou todo mundo em casa. Mas agora já está na hora de replanejarmos o show.”
André ressalta que fez arranjos para “Cravo e canela”, “Credo”, “Maria três filhos” e “Maria Maria”, justamente para a formação do grupo. “A gente até gravou essas canções de Bituca de forma caseira mesmo e lançamos no YouTube. Depois, comecei a compor, pensando nessa formação atual do Trem de Doido, com pífanos, viola e percussões.”
Ele não esconde a influência das bandas de pífanos nordestinas, mas também ressalta que o grupo André Siqueira e o Trem de Doido se inspira na música e tradições mineiras, como folia, congado, sertaneja e o Clube da Esquina. “Tento trazer umas harmonias mais recheadas, porém com melodias mais simples. São desenhos simples, mas bonitos.”
O single-clipe “Pife de roda” é de autoria de André. “Gravamos em BH e fizemos um clipe muito legal. É uma música bem bacana, pois passeia por alguns ritmos brasileiros, porque a gente tem essa coisa mineira, mas toca de tudo. Tocamos um pouco de frevo, ciranda e serra abaixo, entre outros gêneros. Misturamos ritmos brasileiros. E ‘Pife de roda’ tem bastante disso. Começamos com a ciranda, o xaxado, voltamos para a ciranda e terminamos num samba de roda, com direito a atabaques.”
O músico garante que “Pife de roda” tem um caráter bem alegre. “Queria criar o grupo também para trazer uma alegria. Acho que Minas precisa de umas coisas alegres, porque é tudo muito introspectivo. Assim, trazemos esse ritmo, essa alegria, o som do povão. Estamos lançando um single-clipe que fará parte de um disco cheio quase todo autoral, que lançaremos mais pra frente. Estamos tentando conseguir verbas para concluir o álbum, porque o projeto já está pronto.”
SÉRGIO PERERÊ
André ressalta que a música e os arranjos já estão prontos e agora é só ir para o estúdio e gravar. "O segundo single ainda será gravado. Trata-se de uma parceria minha com Sérgio Pererê. Aliás, será a única música cantada do disco, chama-se ‘São Sebastião’. As demais são instrumentais.”
Determinado, o flautista garante que o álbum sairá de qualquer jeito, mesmo que a banda não consiga um projeto ou uma campanha de financiamento coletivo. “Vamos dar um jeito, porque o disco está muito legal e precisa ser mostrado para o público. Será um CD basicamente autoral, com composições para essa formação de banda de pífanos e percussão, com o acréscimo de umas três canções de Milton Nascimento.”
Pouco conhecido em Minas, o pífano surgiu na Europa medieval, ganhando adaptação nativa no Brasil, com forte influência indígena. É uma espécie de flauta, de tamanhos variados, e passou a ser feita de madeira taboca ou bambu pelos caboclos nordestinos, que o tocavam em festejos religiosos.
PRÊMIOS E PROJETOS
Natural de Varginha, no Sul de Minas, André Siqueira é flautista, compositor, professor de música e reside em BH há oito anos. Conquistou o prêmio Jovem Músico e Jovem Instrumentista pelo BDMG e traz experiências diversas que passam pela cena da música instrumental, orquestra de flautas (Flutuar) e a vivência constante nas rodas de choro.
Atualmente, prepara-se com o pianista Matheus Ribeiro para o lançamento do primeiro disco do Duo Vera Cruz, que reúne composições autorais e releituras, além de contar com a participação de Toninho Horta. Em 2021, gravou dois shows com Sérgio Pererê – “Samba de preto velho” e “Canto negro para Milton Nascimento”.
“PIFE DE RODA”
Single-clipe de André Siqueira e o Trem de Doido
Disponível nas plataformas digitais