Jornal Estado de Minas

CINEMA

Amor e ciúmes complicam a vida do ''Garoto chiffon''


Ao final da quarta temporada de “Dix pour cent”, Hervé descobre que tem mais talento para atuar do que para ser agente de atores. Com humor cáustico, o personagem garantiu uma boa dose das gargalhadas na série francesa. Hervé é o oposto de Jérémie, um ator à procura de seu grande papel. O ciúme doentio o atrapalha em tudo, principalmente em seus relacionamentos. À beira do abismo, ele deixa Paris e vai se refugiar na região de Limousin, onde sua mãe tem uma pousada.





É esse o ponto de partida de “Garoto chiffon”, que estreia nesta quinta (24/3), no Cine Ponteio. É o longa-metragem de estreia de Nicolas Maury, de 41 anos, que o mundo conheceu por meio do exuberante assistente de agentes de atores da série francesa. Aqui, além de dirigir, Maury também interpreta o personagem-título. A narrativa, segundo ele, é mais “pessoal do que autobiográfica”. O filme foi indicado ao César, o Oscar francês, na categoria primeiro longa.

Foi no verão de 2010 que Maury, preocupado com a relação com a própria mãe, resolveu escrever uma história sobre os dois. “Incluí também a questão do ciúme para que o filme tivesse duas linhas”, conta. Na comédia dramática, Jérémie tem um namoro com o veterinário Albert (Arnaud Valois). 
 

CONFUSÃO

O ciúme obsessivo o leva a procurar um grupo de apoio, o que não dá em nada. A gota d’água para o fim do relacionamento acontece quando Jérémie segue Albert e apronta uma confusão com o novo assistente do namorado. 





Depois de perder também um papel em um filme, ele arruma as malas e vai para o colo da mãe, uma senhora sem muitos limites com o único filho. A traumática morte recente do pai complica ainda mais a situação. É nesse cenário agridoce que o personagem vai tentar se encontrar, pois tenta se preparar para uma importante audição.



Filmando “em casa”, já que nasceu na mesma região onde rodou a maior parte da história, Maury está quase todo o tempo em cena. “(Dirigir e interpretar) Foi exaustivo e interessante ao mesmo tempo. Mas, depois de uma semana, vi o processo quase como uma coreografia, pois estava muito bem acompanhado da minha equipe e de grandes atores e atrizes. Foi difícil, mas foi também um dos melhores momentos da minha vida.”

Nesta viagem, que é principalmente interna, o personagem volta ao passado, às dores da vida em família e com os colegas. A música tem papel determinante para Jérémie. Em dado momento, dubla Vanessa Paradis em “Marilyn et John”. 





“Assim como no filme, amo essa música, e sempre vi a Vanessa Paradis como uma fada na minha vida.” Em outro momento, interpreta “Garçon velours”, composta por Olivier Marguerit especialmente para o filme. “Adoro canções folk e essa é sobre ver sua própria história”, diz.

Maury busca ser pessoal em seu próprio filme porque, na opinião dele, “quando você generaliza, se torna um diretor pior. Para mim, a grande qualidade de um diretor é a verdade. Tento ser o mais preciso e detalhista em cada personagem, sentimento e objeto de cena.” 

A mãe do ator e diretor aprovou o filme, ele diz. “Ficou muito impressionada. Mas o que ela adorou mesmo foi ver a Nathalie Baye fazendo o papel de minha mãe. O filme acabou permitindo que a minha família fosse mais honesta com os próprios sentimentos”, diz.

Em meio a outros projetos e já pensando em um novo filme, Maury, neste momento, tem pouco a dizer sobre a continuação de “Dix pour cent”. A série, exibida entre 2015 e 2020, terminou oficialmente após a quarta temporada. 

Mas foi confirmado um especial de duas horas com os personagens da agência ASK. “A questão é que todo o elenco tem que encontrar um tempo para fazer o projeto. Sabemos a história de cada personagem, mas o roteiro ainda não está pronto, então não lemos nada ainda”, comenta.

“GAROTO CHIFFON”

(França, 2020, 108min., de Nicolas Maury, com Nicolas Maury e Nathalie Baye) – Estreia no Ponteio 2, às 17h25 e 21h20.