Sem gravar desde 2004, quando lançou o álbum “Beleza roubada” (Sony/BMG), a cantora e compositora Dulce Quental continuou trabalhando a todo vapor. E está de volta com “Sob o signo do amor”, que chega nesta quinta-feira (24/3) às plataformas digitais. É o sexto disco solo dela.
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BASTIDORES
“Vaga-lumes fugidios”, faixa do novo disco, expressa bem o que Dulce quer. “O vaga-lume tem pisca-pisca, aparece e desaparece. Sou meio assim, escondo, apareço. Quando sinto que tenho algo forte para dizer, entro na linha de frente. Quando sinto que não preciso estar na linha de frente, fico mais no bastidor”, observa.
Depois de gravar os LPs “Délica” (1986), “Voz azul” (1987) e “Dulce Quental” (1988), ela preferiu os bastidores. “Tive uma filha aos 36 anos, me formei em jornalismo, escrevi um pouco para jornais da área de cultura e fiquei trabalhando com meu ex-marido, que é produtor artístico”, relembra Dulce.
Na década de 1990, ela compôs para Frejat e a banda Barão Vermelho. Criava mais letras que melodias. “Sou numa pessoa mais da palavra que da melodia. Quando compunha e procurava parceiros, era sempre fazendo letras.”
Mas essa história mudou, ela passou a tocar mais violão. “Às vezes, tinha muita coisa para dizer, muitas ideias, mas nem sempre havia parceiros. Se dava letra para o Frejat, ficava uma coisa. Se desse para outra pessoa, ficava algo completamente diferente. Percebi que a melodia é que interpretava a letra”, observa.
A Dulce melodista surgiu dessa necessidade de expressão. “'Beleza roubada' traz várias composições minhas, mas a letra ainda está mais pesada do que a melodia.” A partir dali, ela se dedicou à pesquisa como cancionista. “O trabalho amadureceu neste novo álbum”, conta, observando que das 11 faixas de “Sob o signo do amor”, apenas duas não são assinadas apenas por ela.
“Musiquei poemas e letras, acho que encontrei uma medida. Pensei: não é possível que não consiga fazer minhas próprias músicas. Vou trabalhar com os recursos que tenho, mesmo que não seja uma grande melodista, mesmo que não domine a parte harmônica do instrumento”, explica.
A pandemia acabou sendo positiva para o processo de criação da cantautora. No início de 2020, ela se isolou em uma casa em Angra dos Reis, no litoral fluminense.
“Sozinha, trabalhando com o silêncio, fui encontrando o diálogo entre letra e música. Acho que ‘Sob o signo do amor’ tem um equilíbrio muito bom, as composições são equilibradas nesse aspecto.”
O novo disco, segundo ela, é canto falado, um “sussurro ao pé do ouvido”. “A MPB tem muito disso, a bossa nova trouxe isso. A fala disfarçada em canto, uma conversa”, observa.
Em meio à profunda mudança do mercado fonográfico, a cantora e compositora abriu a Editora Cafezinho. “Comecei a trazer alguns parceiros e a trabalhar com vários autores novos também”, relembra. “Trouxe o Zé Manuel, compositor pernambucano. Para mim, um dos maiores que surgiram nessa nova geração.”
Trabalhar com jovens parceiros significa renovação. “Como compositora, me incomodava muito essa coisa de ficar parada nos anos 1980. As pessoas têm demanda de mim sempre em relação ao passado. Não posso viver do passado, tenho tanta coisa para dizer”, explica, deixando claro que não renega o que já fez.
DIÁLOGO PROMISSOR
O novo disco foi produzido por Jonas Sá e Pedro Sá. Ela pediu à dupla de produtores respeito às características de seu trabalho, “às minhas respirações, às minhas pausas e ao meu violão”. Funcionou, e Dulce está satisfeita com o seu diálogo com a nova geração.
“Tem a riqueza dessa conversa entre mim e os meninos. Isso é importante. Esse disco é mais sensorial, musical porque é menos cerebral”, comenta. “Estou me dando melhor com as harmonias, então há um crescimento em nível musical mesmo”, conclui.
Também participaram do disco os músicos Jacques Morelembaum (cello), Itamar Assiere (piano), Marcelo Costamas ( vassourinha) e Mariano Gonzáles (bandoneon).
“SOB O SIGNO DO AMOR”
Disco de Dulce Quental
Cafezinho Edições
11 faixas
Disponível nas plataformas digitais