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Estado de Minas MÚSICA

Lô Borges lança 'Chama viva' e revela segredos de seu processo de criação

Cantor e compositor diz que 'recebe música' do Universo e já planeja discos para 2023, 2024 e 2025. Aos 70 anos, avisa: 'Não fico olhando muito o retrovisor'


25/03/2022 04:00 - atualizado 25/03/2022 02:43

Lô Borges sorri para a câmera, vestindo blusa preta, sentado em uma escada
Lô Borges, de 70 anos, diz que sua inspiração vem de uma força espiritual e da capacidade de cognição (foto: João Diniz/divulgação)

Com participações de Milton Nascimento, Beto Guedes, Patrícia Maês e Paulinho Moska, Lô Borges chega a seu quarto disco de inéditas em quatro anos. “Chama viva” (Deck) estará nas plataformas digitais nesta sexta-feira (25/3). Aos 70 anos, completados em janeiro, ele compõe sem parar, enquanto comemora as cinco décadas de dois álbuns fundamentais para sua carreira: “Clube da Esquina” e “Lô Borges”, mais conhecido como “Disco do Tênis”, ambos lançados em 1972.

“Chama viva” traz 10 canções autorais inéditas, parcerias de Lô com Patricia Maês. “O disco aconteceu quando eu estava terminando ‘Muito além do fim’, com letras de Márcio Borges. Esse álbum com Marcinho era adrenalina pura, quase rock and roll na veia. Tive uma semana de folga e deu vontade de ligar o teclado na função órgão. Veio uma coisa quase sinfônica na minha cabeça, porque órgão remete a uma coisa mais reflexiva, mais sinfônica. Em sete dias, compus sete temas”, conta Lô. “Era um tempo de descanso para a minha cabeça e para o meu espírito.”

PATRICIA

O repertório de “Chama viva” surgiu em apenas uma semana, em meio à pauleira do trabalho com Márcio Borges. No sétimo dia de produção de “Muito além do fim”, Patricia, ex-mulher dele, ligou. “Disse para ela: 'Compus sete melodias supertranquilas. Topa fazer as letras?'”. Patricia concordou – os dois já haviam trabalhado juntos em “Horizonte vertical”, álbum lançado em 2011.

A proposta é mais “viajante”, segundo Lô. “Nas letras, Patricia não tratou de assuntos cotidianos, casuais. Falou das forças da natureza e das energias cósmicas. Começamos a viajar nisso e fizemos esse disco lindo.”  Foi quase como fazer ioga, compara. Depois de sete faixas prontas, ele acrescentou outras três. “São músicas tranquilas, quase na energia da ioga. Não faço ioga, mas estava me sentindo compondo uma sinfonia.”
 

''Tenho o lado adrenalina e o lado mergulho profundo e reflexão. Gosto de ser diversificado. Não faço parcerias somente com o pessoal do Clube da Esquina. Já fiz com Tom Zé, Nando Reis, Samuel Rosa, Arnaldo Antunes. Estou muito feliz com os 50 anos do 'Clube da Esquina', como estava também com os 30, os 40. Não fico olhando muito o retrovisor, olho mais o presente e o futuro''

Lô Borges, cantor e compositor

 

O álbum foi gravado por Lô e seu “trio maravilhoso”, como ele diz, formado por Henrique Matheus, Thiago Corrêa e Robinson Matos. “Sou muito fã desse trio que trabalha comigo. Às vezes você escuta os discos que faço e parece que tem seis pessoas tocando, mas são somente três.”

Aos 70 anos, Lô Borges mantém o fôlego criativo – e haja energia! Conta que, na terça-feira passada (22/3), estava no estúdio gravando uma canção superagitada e já pensando no disco que planeja para 2023/2024. “Tem álbuns na fila aí. Mas não acho isso nenhuma vantagem. Não avalio música pela quantidade – se faço uma ou 50”, comenta. “Você tem de compor e se sentir feliz.”

Durante a pandemia, Lô Borges vem trabalhando sem parar. “Estou gostando dessa coisa de compor muito e fazer discos. Este é o meu quarto álbum de inéditas em quatro anos. E teremos discos em 2023, 2024 e 2025, cujas músicas já estão prontas”, avisa.

O mistério da criatividade e da produtividade ele atribui – e agradece – às energias positivas do Universo. “Minha irmã Solange fala sempre: ‘Você não faz música, você recebe música’. Há uma força espiritual, mas há também aquela da cognição. Certa vez, vi um compositor falando, não me lembro quem: ‘Se você não está disponível para o instrumento, você não vai compor não’. Sou o cara que pega um instrumento, dá um acorde e com a maior facilidade vai criando o encadeamento melódico. Em 20 minutos estou com 90% da música pronta. Estou sempre disponível para o instrumento.”

GLAUBER

Ao explicar seu prolífico processo de composição, ele recorre ao cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981). “Com ele, era uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Comigo é um instrumento na mão e uma ideia na cabeça, meio que psicografando.”

A nova canção é sempre um deslumbramento para o tarimbado autor mineiro. “Cada música que componho é algo que não existia antes. Tenho fascínio pelo inusitado, pelo desconhecido. A cada música nova que faço, penso: o Lô hoje partiu para uma coisa muito maluca... Poxa, ele está mais calmo hoje, mais extrovertido. Fico fazendo análise crítica, muitas vezes ali na hora. Aliás, na hora não estou nem aí, vou compondo o que me vem à cabeça.”

Uma preocupação dele é diversificar sua obra. “Não gosto de fazer um álbum parecido com o anterior. Faço disco mais adrenalina e, em seguida, outro totalmente calmo. E o que vem depois desse será uma coisa mais animada.”

Detalhe: ele não guarda música em casa. “Não tenho pro-tools (programa de computador). Meu negócio é gravar no celular e depois ir para o estúdio. Lá, tenho tudo de que preciso. Esse negócio de pro-tools em casa vira algo meio dispersivo. Você fica querendo fazer arranjos demais. Arranjos a gente faz em estúdio; em casa fazemos é música”, diz.
 

''Nunca parei, mas nessa pandemia fiz quatro discos. Foi uma loucura, uma compulsão, não sentia falta de sair casa. Tinha muita coisa para fazer em casa. Pegava uma viola caipira e fazia 10 músicas''

Lô Borges, cantor e compositor

 

Em 2022, Lô Borges voltou a fazer shows, depois de aproveitar o período de isolamento social para criar. “Já prometi para meus técnicos, produtor e músicos que vou voltar a me apresentar mais para o público. Então, este ano vou deixar a composição um pouco de lado”, adianta.

“Minha gravadora, Deck, acha que é legal lançar apenas um disco por ano. Se pudesse, lançava uns três. Então, minha capacidade de fazer músicas é maior do que lançá-las. Não adianta também ficar enchendo a cabeça do público lançando 30 músicas por ano. Como o povo vai digerir isso? Mas tenho compulsão desde menino de fazer música.”

Além de Lô Borges (voz e órgão), participaram das gravações de “Chama viva” os músicos Henrique Matheus (guitarras), Thiago Corrêa (contrabaixo, teclado e percussão) e Robinson Matos (bateria).

Lô faz questão de agradecer aos convidados de seu novo álbum: Milton Nascimento canta na faixa “Veleiro”; Beto Guedes participa de “Primeira lição”; Patricia Maês de “Desabrochando flor”; e Paulinho Moska canta em “Fica no ar”.
 
Lô Borges, muito jovem, toca violão e tem um cachorro a seus pés
O garoto Lô Borges, ''fundador'' do Clube da Esquina no Bairro Santa Tereza, nos anos 1960 (foto: Paula Castelo Branco/divulgação)
Coautor do álbum “Clube da Esquina”, que gravou muito jovem a convite do amigo Bituca, marco da música brasileira que ganhou o mundo e completou 50 anos este mês, Lô comemora a efeméride, mas avisa: está de olho no futuro.
      
  “Eu era muito novo, tinha menos de 20 anos. Tenho o maior orgulho do ‘Clube da Esquina’, mas a minha cabeça não olha para o retrovisor da minha discografia, da minha história. Amo o ‘Clube da Esquina’, amo o 'Disco do Tênis', tenho o maior orgulho das obras que construí com vários amigos e parceiros, mas o meu foco é a música inédita”, conclui.

REPERTÓRIO


» “SEM VÉU”
» “VELEIRO”
. Com Milton Nascimento
» “DESABROCHANDO FLOR”
. Com Patricia Maês
» “SILÊNCIO NO MAR”
» “PRIMEIRA LIÇÃO”
. Com Beto Guedes
» “OUTRO VERÃO”
» “FICA NO AR”
. Com Paulinho Moska
» “NO COLAR”
» “ASCENDER”
» “CHAMA VIVA DA CANÇÃO”

Canções de Lô Borges e Patricia Maês

Capa do disco Chama viva, de Lô Borges, com ilustração em vermelho e preto
(foto: Deck/reprodução)

“CHAMA VIVA”

• Disco de Lô Borges
• Deck
• 10 faixas
• Disponível nas plataformas digitais


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