Jornal Estado de Minas

TELEVISÃO

Autor da música de abertura de "Pantanal" estará hoje grudado na TV


Na noite desta segunda-feira (28/3), um telespectador da novela “Pantanal”, na TV Globo, estará com os ouvidos mais atentos do que os demais. O cantor, compositor e instrumentista mineiro Marcus Viana, de 68 anos, não vê a hora de saber como ficará na televisão a versão da canção-tema para o remake da novela, que a emissora carioca lança 32 anos depois de a produção ter feito história na extinta TV Manchete.





Viana, autor da canção “Pantanal”, como também da trilha original da trama de Benedito Ruy Barbosa que foi dirigida por Jayme Monjardim, não participa do remake. Mas viu com bons olhos a inclusão da canção de abertura.

“A Globo não me chamou para nada. Durante dois anos (desde que a nova versão foi anunciada), as pessoas perguntavam e nada, eu dizia que era um remake. Quando chegou novembro (de 2021) e ninguém me ligou, vi que não estaria na trilha, ou já teriam me chamado. Mas, nessa época, minha editora entrou em contato, pedindo autorização para a música ‘Pantanal’. Fiquei muito feliz, mas me reservei o direito de aprovar o intérprete”, comenta.

Quando soube que seria Maria Bethânia, Viana se sentiu “honradíssimo”. “Quem eu poderia imaginar de melhor? Ouvi e gostei muito. Foi gravada com uma orquestra de cordas, tem o Almir Sater na viola, está emocionante. E a voz da Bethânia dá um ar de nobreza à música”, conta ele, que, na gravação original, interpretou os versos “são como veias, serpentes/Os rios que trançam o coração do Brasil/Levando a água da vida/Do fundo da terra ao coração do Brasil.”





FITAS 
Para Viana, o registro já é uma “forma de estar no remake”. Lembrando-se do período em que trabalhou para a trilha da novela, ele conta algumas curiosidades. Nunca colocou seus pés no Pantanal, por exemplo.

“Todo mundo foi nadar pelado lá, menos eu. É engraçado, dizem que a minha música é a alma da novela, mas nunca fui. Me mandaram 47 fitas VHS para trabalhar em cima. Eu ficava vendo as fitas, imagens do Pantanal de chalana, visto do teco-teco, de avião alto. Aqueles capilares, os rios vistos de cima me inspiraram.”

Com a grana curta, ele conta que fez tudo praticamente sozinho. “A Manchete não tinha dinheiro. Eu gravava tudo no tecladinho e, como toco cordas, colocava os outros instrumentos. Hoje, com produção global, é mais fácil.” Monjardim, ele conta, convidou-o na época para fazer a trilha incidental. Depois pensariam na abertura.





“Ele me dizia que ia ver quem ia fazer a abertura.” Zé Ramalho e Chico Buarque foram alguns dos nomes aventados. Viana decidiu fazer sua própria canção para ver se conseguia emplacar. “Mandei para eles ‘Pantanal’ gravado em um estudiozinho em casa. Era bem artesanal e imaginei que, se aprovassem, eu faria com coral e grande orquestra.”

Passaram-se semanas e nenhum retorno. Até que, um dia, Viana ligou para Geórgia, a secretária de Monjardim. “Mandei uma música para a abertura, sabe se o povo gostou?”, perguntou ele. “Já até escolheram, a música toca o dia inteiro, ninguém aguenta mais”, respondeu ela. Quando Viana viu, a sua “Pantanal” havia sido a escolhida.

Mais do que prontamente ele refez o arranjo, pois a gravação enviada havia sido de uma demo. Monjardim não quis nem saber. “Disse que a nova canção estava sem alma, que boa era a outra, feita em casa. Foi a que entrou no ar”, diz ele. E o resto entrou para a história de “Pantanal”, que hoje ganha um novo início.