Desde que o ator Will Smith deu um tapa no comediante Chris Rock, durante a cerimônia de entrega do Oscar, no último domingo (27/3), muitas personalidades têm manifestado sua opinião a respeito do ocorrido. Um texto publicado por Kareem Abdul-Jabbar, um dos maiores jogadores de basquete dos EUA em todos os tempos, com duras críticas ao gesto do ator gerou grande repercussão.
Abdul-Jabbar é considerado uma lenda do basquete americano e compartilha pensamentos sobre esportes, política e cultura popular em seu site.
Nessa segunda-feira (28/3), o ex-jogador fez um texto afirmando que “quando Will Smith invadiu o palco do Oscar para atacar Chris Rock por fazer uma piada sobre o cabelo curto de sua esposa, ele causou muito mais danos do que apenas ao rosto de Rock.”
Nessa segunda-feira (28/3), o ex-jogador fez um texto afirmando que “quando Will Smith invadiu o palco do Oscar para atacar Chris Rock por fazer uma piada sobre o cabelo curto de sua esposa, ele causou muito mais danos do que apenas ao rosto de Rock.”
Segundo ele, com um único golpe “petulante”, Smith defendeu a violência, diminuiu as mulheres, insultou a indústria do entretenimento e perpetuou estereótipos sobre a comunidade negra.
Na piada de Rock, a esposa de Smith, Jada Pinkett Smith, é comparada com a atriz Demi Moore em "GI Jane", produção na qual Demi havia raspado a cabeça. Jada sofre de alopecia, doença autoimune que causa queda de cabelo.
Abdul-Jabbar admite que a família Smith pode não ter achado a piada engraçada, mas afirma que nas premiações de Hollywood, tradicionalmente, são faladas coisas muito piores sobre celebridades, “como forma de minimizar o fato de que é basicamente uma reunião de multimilionários dando prêmios uns aos outros para impulsionar os negócios, para que possam ganhar ainda mais dinheiro.”
De acordo com o ex-jogador, o casal poderia ter rido ou olhado para Rock com desaprovação.
“Alguns romantizaram as ações de Smith como as de um marido amoroso defendendo sua esposa.” Ele cita a comediante Tiffany Haddish, que elogiou a atitude do ator: “Para mim, foi a coisa mais linda que eu já vi porque me fez acreditar que ainda existem homens por aí que amam e se preocupam com suas mulheres, suas esposas.”
“Alguns romantizaram as ações de Smith como as de um marido amoroso defendendo sua esposa.” Ele cita a comediante Tiffany Haddish, que elogiou a atitude do ator: “Para mim, foi a coisa mais linda que eu já vi porque me fez acreditar que ainda existem homens por aí que amam e se preocupam com suas mulheres, suas esposas.”
Porém, para Abdul-Jabbar, o gesto também foi um tapa para as mulheres.
“Se Rock tivesse atacado fisicamente Pinkett Smith, a intervenção de Smith teria sido bem-vinda. Ou se ele tivesse permanecido em seu assento e gritado sua ameaça pós-tapa, isso teria sido desnecessário, mas compreensível. Mas ao bater em Rock, ele anunciou que sua esposa era incapaz de se defender – contra palavras. De tudo o que eu vi de Pinkett Smith ao longo dos anos, ela é uma mulher muito capaz, forte e inteligente que pode, sozinha, se defender de uma piada sem graça no Oscar.”
Atitude que infantiliza as mulheres e legado de violência
Segundo o ex-jogador, a atitude de Smith foi paternalista e paternal. “Infantiliza as mulheres e as reduz a donzelas indefesas que precisam de um Homem Grande e Forte para defender sua honra, para não desmaiar dos vapores.”
Em outro trecho do texto, ele afirma que o argumento de que “as mulheres precisam de homens para defendê-las” tem a mesma justificativa usada pelos conservadores que aprovam leis para restringir o aborto e a comunidade LGBTQ+.
Em outro trecho do texto, ele afirma que o argumento de que “as mulheres precisam de homens para defendê-las” tem a mesma justificativa usada pelos conservadores que aprovam leis para restringir o aborto e a comunidade LGBTQ+.
Outra crítica que Abdul-Jabbar faz ao gesto de Will Smith é que ele deixa um legado de violência.
“Meninos – especialmente meninos negros – assistindo seu ídolo de cinema não apenas bater em outro homem por causa de uma piada, mas depois justificá-lo como um protetor semelhante a um super-herói, agora estão muito mais propensos a seguir seus passos infantis. Talvez a confirmação mais triste disso seja o tweet do filho de Smith, Jaden: ‘E é assim que fazemos’”, destaca.
Ele cita que a comunidade negra também recebe um golpe direto do ator. “Um dos principais pontos de discussão daqueles que apoiam o racismo sistêmico na América é caracterizar os negros como mais propensos à violência e menos capazes de controlar suas emoções. Smith apenas deu conforto ao inimigo, fornecendo-lhes a ótica perfeita com a qual sonhavam. Muitos serão revigorados para continuar sua campanha para marginalizar os afro-americanos e outros por meio da campanha de supressão de eleitores.”
Participação na série "Um Maluco no Pedaço"
Abdul-Jabbar lembra ainda da participação que fez na série estrelada por Will Smith, "Um Maluco no Pedaço", quando conheceu o ator.
“Eu estive na casa dele. Eu gosto dele. Ele é charmoso, sincero e engraçado. Eu também sou um grande fã de seus filmes. Ele é um ator talentoso e dedicado que merece os elogios profissionais que recebeu. Mas será difícil assistir ao próximo filme sem lembrar dessa triste atuação.”
“Não quero vê-lo punido ou condenado ao ostracismo por causa desse erro, ainda que grande. Eu só quero que este seja um conto de advertência para que os outros não romantizem ou glorifiquem o mau comportamento. E eu quero que Smith seja o homem que realmente protege os outros – admitindo o mal que fez aos outros”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão de Álvaro Duarte