Grupo de policiais se infiltra no Complexo do Alemão para missão de alto risco. A operação é descoberta por traficantes e eles têm pouco tempo para deixar a favela. Grosso modo, o mote de “Alemão” (2014) e de “Alemão 2”, que chega nesta quinta-feira (31/3) aos cinemas, é o mesmo.
Mas há grandes diferenças entre as duas narrativas de ação ambientadas na favela carioca, tanto que não há sentido de chamar o segundo filme de continuação. “O Rodrigo (Teixeira, produtor, e idealizador dos longas) chama de antologia”, comenta o cineasta José Eduardo Belmonte, que dirige as duas produções.
Há novo elenco (a única personagem da história anterior é Mariana, papel de Mariana Nunes, que teve um filho com Playboy, interpretado por Cauã Reymond no original) e um contexto diferente. A história parte da falência do modelo de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e da ascensão das milícias. “As milícias sempre existiram, mas a normalização delas trouxe a necessidade de maior problematização”, comenta Belmonte.
AÇÃO ''LIMPA''
A trama acompanha o policial civil Machado (Vladimir Brichta) e seus subordinados, Ciro (Gabriel Leone) e a novata Freitas (Leandra Leal), que vão até o Complexo do Alemão em missão comandada pela delegada Amanda (Aline Borges), da inteligência da polícia carioca. Devem prender Soldado (Digão Ribeiro), líder do tráfico. A ideia é executar ação “limpa”, ou seja, sem mortes.
O grupo tem ajuda de um informante, mas a ação sofre emboscada por outro núcleo do tráfico. Os policiais são caçados e, no centro de operações, Amanda corre contra o tempo para salvá-los. A delegada ainda enfrenta a descrença de seus superiores.
Desde o primeiro filme – que ganhou versão em minissérie do Globoplay, “Alemão: Os dois lados do complexo” (2016) –, havia a intenção de lançar o segundo longa. Mas até que ele se tornasse real, muita coisa aconteceu.
“O trajeto foi longo e houve vários roteiros. Além do mais, a realidade das UPPs mudava rápido”, conta Belmonte. A intenção inicial era reunir novamente Reymond e Antônio Fagundes, mas a agenda dos atores não casava com a da produção e o projeto foi sendo adiado. O filme que chega agora ao público foi rodado em 2019 – a pandemia postergou seu lançamento.
A maior presença de personagens femininos é uma correção que “Alemão 2” busca fazer em relação ao original.
“A gente viu que tinha de expandir o tema tanto na polícia quanto na comunidade. Fomos à Casa das Mulheres da Maré (espaço criado em 2016, na Favela da Maré, para estimular o protagonismo feminino das moradoras da região). Entendemos que o enfoque tinha que ser aprofundado”, completa o diretor. O filme conta com a participação de Zezé Motta, no papel de uma respeitada moradora local.
Ainda que tenha um contexto político-social, utilizando registros jornalísticos para colocar o espectador no ambiente da história, “Alemão 2”, em essência, é um filme de ação. Belmonte comenta que, a despeito disso, há somente quatro (longas) sequências.
MESTRADO EM ''CARCEREIROS''
“Fiz um ‘mestrado’ antes desse filme, que foi ‘Carcereiros’ (série do Globoplay com três temporadas, de 2017 a 2021). Ali, a gente fazia uma cena de ação por semana com 300 figurantes. Filme de ação é estigma (no Brasil) por ser caro, e o (alto) padrão americano inibe um pouco”, acrescenta Belmonte.
Com os melhores profissionais do meio no Brasil e após muito planejamento, o cineasta criou as quatro sequências. “São complexas, mas o orçamento não dava mais do que isso”.
“Alemão 2” é o primeiro dos três filmes que Belmonte lança neste ano. “As verdades”, que deve chegar aos cinemas ainda neste semestre, é um drama ambientado no interior da Bahia em torno de três assassinatos (Lázaro Ramos e Drica Moraes encabeçam o elenco).
Previsto para setembro, “O pastor e o guerrilheiro”, com Johnny Massaro, é inspirado em uma história real que ocorreu em Brasília no final dos anos 1960. “(Com esse filme) Voltei a filmar em Brasília depois de 10 anos”, comenta Belmonte. Paulista, ele foi criado na capital federal e vive hoje no Rio.
Diretor que despontou em 2005 com o polêmico longa “A concepção”, Belmonte começou no cinema independente depois de bem-sucedida trajetória em curtas e clipes (assinou vários da banda Raimundos).
Depois de filmes em que atuou como diretor, produtor e roteirista, ele chegou ao cinema comercial trabalhando com outros produtores. “Depois de ‘Se nada mais der certo’ (2008), fiquei muito exaurido. Buscava a renovação, ir para outro lugar. Achava interessante o processo dialético, comum em outros mercados, em que você pode fazer ‘Nomadland’ e ‘Eternos’”, diz, referindo-se à cineasta Chloé Zhao, que, depois de uma trajetória autoral, assinou a superprodução Marvel.
Mais recentemente, ele dirigiu a comédia farsesca “Billi Pig” (2012) e a comédia dramática “Entre idas e vindas” (2016). Atualmente, é diretor artístico da Globo.
“Quero experimentar várias coisas, tanto que estou buscando outras narrativas não só no cinema. Quero novas experiências no audiovisual, como game e podcast de ficção. Sou um curioso”, finaliza.
“ALEMÃO 2”
(Brasil, 2022, 109min, de José Eduardo Belmonte, com Vladimir Brichta, Leandra Leal e Gabriel Leone) – Estreia nos cines BH 9, às 16h50, 19h30 e 22h05 (exceto sábado e domingo) e 15h30, 19h20 e 22h (sábado e domingo); Big 2, às 16h50 e 21h; Cidade 3, às 19h e 21h (exceto domingo) e 13h30 e 19h30 (somente domingo); Contagem 7, às 18h45 e 20h45; Del Rey 7, 16h30 e 20h50; Diamond 3, às 16h50 e 19h25 (exceto sábado e domingo) e 16h10 e 18h45 (sábado e domingo); Estação 2, às 13h30 e 18h30; Itaupower 1, às 13h20 e 18h40; Minas 6, às 16h40 e 18h40; Monte Carmo 5, às 16h30 e 20h40; Norte 3, às 16h50 e 21h; Pátio 2, às 19h40 e 22h15 (exceto quarta-feira); Pátio 7, às 16h20 e 22h15 (somente quarta).