Jornal Estado de Minas

Música

Caetano Veloso estreia turnê nacional do álbum 'Meu coco' com show em BH



Ao longo da apresentação que marca o lançamento da turnê nacional de "Meu coco", mais recente trabalho de Caetano Veloso, na noite desta sexta-feira (1/4), no Palácio das Artes, o cantor e compositor se desculpou várias vezes, dizendo que estava "meio atrapalhado", por se tratar de uma estreia. Mas se houve por parte dele alguma tensão, para o público o show foi pura celebração, pelo reencontro presencial com uma das mais importantes vozes da MPB.



Durante quase duas horas, um Caetano cheio de vitalidade e esbanjando simpatia, desfilou um repertório que abarcou praticamente toda sua carreira. Vestindo calça, camisa e terno - do qual logo se livrou - brancos, ele abriu os trabalhos tocando "Avarandado", que emendou com a faixa-título do novo álbum. Amparado por uma banda afiada, com forte acento percussivo, resgatou pérolas do passado que há muito não frequentam os roteiros de suas apresentações, como "Muito romântico" e "Araçá Azul".

Também jogou para a torcida ao incluir temas bastante populares, para cantar junto, como "O leãozinho", "Sampa", "Baby" e "Menino do rio". Costurando o desfile de clássicos de sua lavra, pontuaram algumas músicas de "Meu coco", como a faixa-título, "Anjos tronchos", "Sem samba não dá" e "Noite de cristal", a última das três programadas para o bis.

A primeira interação do cantor com a plateia só veio depois da sétima música do roteiro, "You don't know me", cujos versos "Eu agradeço / ao povo brasileiro / Norte, Centro, Sul inteiro / onde reinou o baião" incitaram o público a soltar o - previsível, considerando o espectro de sua audiência - coro de "fora Bolsonaro genocida", ao que Caetano respondeu com um enfático "sem sombra de dúvidas". Em seguida, ele comentou sobre o caráter autobiográfico que algumas pessoas próximas imputaram ao roteiro musical do show "Meu coco".



Show histórico

O baiano relativizou esse traço, disse que não era propriamente autobiográfico, mas assentiu que, sim, trata-se de um show histórico, tanto pelo momento "quase-pós-pandêmico", de reencontro olho no olho com seus fãs, quanto pelo fato de estar completando oito décadas de vida este ano.


Confira um trecho do show:



Como de praxe em suas apresentações, reservou intervalos entre algumas canções para revisitar sua trajetória, falando, por exemplo, de músicos e formações que o acompanharam - como A Outra Banda da Lua, a Banda Nova, Jaques Morelembaum e, mais recentemente, a banda Cê. Antes da execução de "Trilhos urbanos", logo após "You don't know me", disse que esta sim, tinha uma letra autobiográfica e documental, com uma mirada sobre sua infância.

Mais descontraído a partir da metade da apresentação, falou do R retroflexo presente na música "A outra banda da Terra", executou "Araçá azul" só ao violão, contou com um coro afinado da plateia em "Cajuína", soltou as cadeiras em "Reconvexo" - quando voltou a se levantar após apresentar alguns números sentado - e falou da importância de Augusto de Campos em sua formação, quando tocou "Pulsar".





Bem acompanhado

Depois de emendar "Baby" e "Menino do Rio", ressaltou o quanto era bom estar de volta a Belo Horizonte e apresentou a banda que o acompanha, começando pelos artífices do show, Pretinho da Serrinha, à frente do potente naipe percussivo, e Lucas Nunes, que cumpriu um regime de "cárcere privado" em sua casa durante a produção do disco e, no palco, se alternou entre guitarra, violão e teclados.

Confira um trecho do show: 


Em texto divulgado previamente, Caetano disse que procurou juntar peças marcantes de seu novo álbum com obras que registram momentos históricos de seu trabalho, num roteiro quase cinematográfico. Também destacou, tanto nesse texto quanto no palco, que o show presta uma homenagem póstuma ao artista visual e cenógrafo Hélio Eichbauer, com quem trabalhava desde o álbum "O estrangeiro" e que deixou pronto o esboço do cenário de "Meu coco".

Antes de se retirar do palco e voltar para o bis - para o qual guardou "Mansidão", "Odara" e "Noite de cristal" - tocou "Lua de São Jorge", espécie de senha para que o público se levantasse das cadeiras e fosse dançar junto ao palco. E a partir daí foram só aplausos efusivos e a sensação de alma lavada, pela possibilidade do reencontro com o ídolo.