O cantor, compositor e violonista João Bosco e o bandolinista Hamilton de Holanda vão celebrar o samba, a cultura e a ancestralidade brasileira no show desta sexta-feira (8/4), no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, em BH. “Nação” e “Coisa feita”, clássicos de João, chegam ao palco com novos arranjos. O repertório conta também com “Isso é Brasil”, de Ary Barroso, “Milagre” e “Vatapá”, de Dorival Caymmi, entre outros autores consagrados.
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O repertório da dupla já mudou algumas vezes. “Estamos sempre atualizando os nossos encontros.
Basicamente, o show ‘Eu vou pro samba’ é o 'Eu vou para a minha ancestralidade', que é a do Hamilton também, essa coisa da formação musical brasileira”, explica João Bosco.
Basicamente, o show ‘Eu vou pro samba’ é o 'Eu vou para a minha ancestralidade', que é a do Hamilton também, essa coisa da formação musical brasileira”, explica João Bosco.
“Acaba que a gente está fazendo algo que, hoje em dia, é bem 'redondo', no sentido de certa fidelidade à nossa formação. Acho que atingimos a maturidade nessa formação de duo, trazendo para os dois instrumentos e para a voz uma situação musical muito pertinente a tudo o que estamos fazendo ao longo desses anos”, afirma, referindo-se a seu violão e ao bandolim do parceiro.
João Bosco destaca que o encontro com Hamilton de Holanda é “a reverberação do Brasil em que muitos acreditam e querem que siga assim”, muito diferente do país comandado por Jair Bolsonaro.
“Vivemos momentos em que essa cultura, essa ancestralidade, é sempre atacada pelo governo atual. Não é respeitada, para dizer o mínimo. O governo tenta anular essa história e reinventar uma outra, falsa, que não corresponde à nossa. Mas a música é muito forte e transcende momentos políticos, que são simplesmente passageiros. Eles passam, a nossa cultura fica e vamos seguindo em frente.”
Para João Bosco, o show dele com Hamilton expressa o verdadeiro Brasil. “Um país que muitas pessoas conhecem, mas pode ainda estar um pouco adormecido, principalmente para os mais jovens. Mas a gente vai, dá uma cutucada e ele se acende. Tem muito jovem na faixa dos 20 anos assistindo a nossos encontros. Eles ficam felizes de encontrar a nação ali dentro. Isso é gratificante para nós.”
João, de 75 anos, é só elogios ao parceiro, de 46. “O Hamilton é bem mais jovem do que eu, mas é um cara que tem um retrovisor muito atuante, no qual pode perceber coisas que foram feitas antes mesmo de ele nascer”, ressalta o mineiro, citando o compositor Jacob do Bandolim (1918-1959) como uma das referências dele e do companheiro de palco.
“Você pega a canção ‘Noites cariocas’ de Jacob, e aquilo é uma enciclopédia de situações, da carioquice. Música de alto nível, choro balançado, com suingue. A gente carrega tudo isso conosco”, comenta.
“Jacob faz parte da nossa ancestralidade, é de uma época em que o Hamilton nem havia nascido. A gente pegou o Época de Ouro, com o qual tive o prazer imenso de gravar algumas vezes”, conta o mineiro, referindo-se ao regional do choro criado por Jacob do Bandolim, em 1964. “Ele já tinha falecido (na época das gravações), mas estavam lá os outros integrantes, todos baluartes do instrumental brasileiro.”
O projeto de João e Hamilton passa, antes de tudo, pela cultura afro-brasileira. “Esse movimento afro-Brasil diz respeito a uma série de situações musicais amplas em nosso país. Compositores de vários movimentos diferentes se expressaram através dessa ancestralidade”, afirma o compositor, ao ressaltar a amplitude desse legado.
“Em Milton Nascimento, no próprio álbum ‘Clube da Esquina’, a gente vê a ancestralidade se expressando daquela forma intuitiva e espontânea que faz parte do inconsciente coletivo, assim como é a história de Clementina de Jesus (1901-1987)”, diz. Aliás, a cantora gravou com ele e com Milton.
Ao citar a “biblioteca pessoal” de raízes africanas que Clementina representa, ele observa que se trata de artista “exclusivamente auditiva”. “Ela não lia letras, não fazia outra coisa a não ser interpretar o que trazia dentro de si. Clementina é a própria história ambulante dessa ancestralidade.”
João revela que o canto de Clementina o ajudou a compreender sua própria arte. “A cada vez, a gente ia descobrindo um pouco mais do que éramos e da nossa história.”
JACKSON E O COCO
O mineiro também destaca a importância do paraibano Jackson do Pandeiro (1919-1982) e de sua forma de interpretar “Sebastiana”, de Luiz Gonzaga. “Ele falava que tudo vinha do coco”, diz, referindo-se ao ritmo nordestino.
Aliás, João lamenta não ter excursionado com Jackson no Projeto Pixinguinha, no qual duplas formadas por nomes importantes da MPB percorriam o país nas décadas de 1970 e 1980. Diz que a temporada não ocorreu por questão técnica, comenta que poderia “pegar as bênçãos dele, carregar seu pandeiro e pegar aquele suingue.”
João Bosco afirma que o show com Hamilton de Holanda vem reverenciar todo esse legado. “No palco, a gente procura traduzir essa nação em uma coisa mais ampla, que possa aglutinar diversas tendências musicais desde pouco mais de 100 anos atrás. Isso, se considerarmos 'Pelo telefone', do Donga, o primeiro samba gravado”, observa.
“As coisas já vinham acontecendo antes e todos sabíamos disso. Não só o afro-brasileiro, mas também o afro, o índio que representa o Brasil”, observa. “O que eu e o Hamilton fazemos é um passeio por situações que nos trouxeram até aqui e que irão conduzir as gerações futuras.”
Duo com João Bosco emociona Hamilton de Holanda
Hamilton de Holanda promete novidades para sexta-feira, no Palácio das Artes. “Coisas que a gente não tocou nos shows anteriores”, diz. Ele e João Bosco já se apresentaram no Rio de Janeiro, São Paulo e Olinda, além da Suíça e da Inglaterra.
O nome do espetáculo, “Eu vou pro samba”, foi tirado da letra de uma canção de João Bosco, “Odilê, odilá”. “Vem do nosso ponto em comum, da parte rítmica, do violão dele que se mistura com meu bandolim, dos sambas de compositores de quem a gente gosta”, diz Holanda.
PRÊMIO GRAMMY
A maioria das canções que o público vai ouvir é formada por parcerias de João e Aldir Blanc. Além de “O bêbado e a equilibrista”, “De frente pro crime” e “Kid Cavaquinho”, há também “Abricó de macaco” (parceria de João com o filho, Francisco Bosco, que ganhou o prêmio Grammy Latino em 2020), além de “Incompatibilidade de gênios” e “Sinhá”, parceria com Chico Buarque.
O bandolinista revela que o show representa momento especial para ele. “João é personagem importante da música popular brasileira, um dos pilares. Fico ali, amarradão, vendo-o tocar e cantar. Fico na posição de artista, claro, mas também de ouvinte, espectador, curtindo o som dele.”
Holanda revela outro motivo honroso de tocar com João Bosco, citando duos famosos do mineiro. “De alguma maneira, estou ali ocupando o espaço que já foi de Rafael Rabelo (1962-1995) e do Nico Assumpção (1954-2001), entre outros. É uma alegria. Aquela música está no hall da minha vida e vou tocá-la para sempre. Os shows são sempre maravilhosos, estou curioso para ver como será em BH, no Palácio das Artes, pois nunca tocamos lá.”
JOÃO BOSCO E HAMILTON DE HOLANDA
Nesta sexta-feira (8/4), às 21h, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Plateia 1: R$ 250 (inteira) e R$ 125 (meia-entrada). Plateia 2: R$ 210 (inteira) e R$ 105 (meia). Plateia 3: R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia). Vendas on-line na plataforma Eventim. Informações: 3236-7400