Na cabine, piloto e copiloto conversam amenidades. Uma comissária chega trazendo a refeição e é avisada pelo comandante de que uma turbulência está a caminho. A partir daí, acompanhamos o movimento das classes executiva e econômica, cheias de passageiros, na opulenta aeronave. Um homem se levanta, uma comissária avisa do sinal para permanecer sentado.
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Mathieu Vasseur (Pierre Niney, César de melhor ator pelo personagem-título de “Yves Saint Laurent”, de 2014) é um jovem e brilhante investigador do Bureau d’Enquêtes et d’Analyses (BEA), a agência francesa de investigação para a segurança da aviação civil. Problemas de visão o roubaram do sonho de pilotar – desde então, e com uma audição acuradíssima, ele se dedica a desvendar acidentes aéreos. O som, e muitas vezes o silêncio, podem explicar muita coisa.
Perfeccionista, ele consegue listar imediatamente todas as informações dos voos que seus colegas levarão horas para fazer. Isso o destaca entre seus pares, mas também lhe traz uma carga de antipatia no trabalho. No primeiro momento, é tirado da investigação por seu superior – com o desaparecimento deste, acaba se tornando o responsável pelo caso.
Nos altos escalões da indústria aeronáutica, seleto grupo do qual a mulher de Mathieu, Noémie (Lou de Laâge), faz parte, as questões mais importantes por trás da tragédia permanecem obscuras. Todos querem respostas rápidas, e o técnico precisa de mais tempo, pois ele passa a desconfiar da história. Obsessivo, começa a se colocar no meio da ação para descobrir o que realmente ocorreu no voo.
O personagem, cada vez mais enredado e solitário, passa a dissecar cada mínima alteração na gravação do acidente. Parte do impacto (ansiedade, surpresa) que o filme provoca no espectador vem da análise do som, em que os “espaços em branco” são preenchidos pelos chamados “sons fantasmas”. Com o protagonista fazendo este papel, o espectador, de certa maneira, vai se sentindo como parte da investigação.
EXPERTISE
O público passa a questionar as ações de Mathieu, ele próprio em crise e colocando sua expertise – seria tudo imaginação? – em xeque. De forma inteligente, a narrativa começa explorando os meandros do meio da aviação, com farta utilização de termos técnicos. À medida que a trama avança, ela perde o caráter tecnicista e vai ganhar os contornos de um thriller.
Sem pontas soltas, “Caixa preta” é um jogo habilidoso entre diretor e público. Sua narrativa extrapola o ambiente da aviação, aprofundando dilemas que cercam o mundo de hoje.
CAIXA PRETA
(França, 2020, 129min, de Yann Gozlan, com Pierre Niney e Lou de Laâge) – Estreia nesta quinta-feira (7/4), às 16h, na Sala 1 do UNA Cine Belas Artes