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Estado de Minas QUADRINHOS

Após se unirem em grupo de 'autoajuda', quadrinistas mineiros lançam feira

Artistas que tiveram projetos aprovados na Lei Aldir Blanc lançam seus trabalhos no próximo sábado (9/4), na Feira Mineira de Quadrinhos, em BH


07/04/2022 04:00 - atualizado 08/04/2022 17:02

página dupla da HQ Oblivion mostra personagem principal em diversas situações cotidianas: dormindo, trabalhando no computador, se alimentando, tomando banho e vendo TV
Laura Jardim e Fabrício Martins começaram a produzir "Oblivion" como uma HQ sobre memória e, ao longo do processo, se deram conta de que a história trata de depressão (foto: Laura Jardim e Fabrício Martins/Divulgação)

"Temos veteranos ao lado de novatos, ambos com muita força de vontade para apresentar suas ideias de maneira bastante única. Trata-se de um conjunto de artistas que representa muito bem o cenário de produção de HQs no estado"

Fabrício Martins, quadrinista


A Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais recebe a primeira edição da Feira Mineira de Quadrinhos, que marcará o lançamento de 21 obras produzidas por 26 artistas de Minas Gerais, com recursos da Lei Aldir Blanc, no próximo sábado (9/4). O evento terá também palestras, encontros e a inauguração da mostra "Exposição mineira de quadrinhos", que ficará em cartaz até 15 de maio.

Criada por um coletivo de 29 artistas, que se juntaram após a aprovação no edital que financiou seus projetos, a feira nasceu com o objetivo de celebrar os trabalhos que foram criados nos últimos dois anos e não puderam ter um lançamento apropriado, em virtude das regras de isolamento social.

"Em 2020, em meio a um dos momentos mais duros da pandemia, foi lançada a Lei Aldir Blanc, que viabilizou uma série de projetos para a área cultural, inclusive um deles voltado para a produção de HQs. Essa foi a primeira vez que tivemos uma iniciativa desse tipo e, por conta disso, alguns quadrinistas começaram a se agrupar com uma função muito prática de se ajudar nos trâmites do edital", explica o quadrinista Fabrício Martins.

Por meio de um grupo no WhatsApp, e também em encontros virtuais, esses artistas trocavam figurinhas sobre a documentação necessária para submeter seus trabalhos à lei de incentivo e, aos poucos, começaram a debater questões relativas à produção artística em si.

"Nasceu como um grupo de autoajuda e fortalecimento interno dos artistas e foi virando uma outra coisa. Virou um grupo de suporte geral, no qual discutimos técnicas, a participação em feiras on-line, tipos de papel para impressão e por aí vai", conta Fabrício.

AO VIVO 
Durante toda a produção das HQs aprovadas na Lei Aldir Blanc, os artistas cumpriram as regras de isolamento social e não puderam participar de feiras e encontros, eventos que são bastante importantes para a divulgação e lançamento de trabalhos independentes.

É por isso que agora, no momento em que os protocolos de segurança contra a COVID-19 estão afrouxados, esse grupo decidiu se reunir novamente para, enfim, apresentar seu trabalho presencialmente.

"Ficamos bastante tempo em contato constante uns com os outros, nos ajudando. Com o tempo, a pandemia se tornou menos grave e esse contato se tornou menos intenso. Agora, com a vida quase de volta ao que era antes, chegou a hora de nos conhecermos, já que a maioria de nós nunca se viu ao vivo, e também de apresentar nosso trabalho para o público", afirma o quadrinista.

Segundo Fabrício Martins, o conjunto de trabalhos que estará presente na feira é bastante diverso. Há espaço para personagens LGBT que enfrentam questões existenciais em meio a momentos decisivos da história, como é o caso de "A menor distância entre dois pontos é uma fuga", de Gabriel Nascimento e João Henrique; ou questões geradas diretamente pela pandemia, como no caso de "O vírus é uma linguagem", de Gilson Ribeiro.

"Temos histórias de ficção científica, romances históricos, aventura e relatos pessoais. Alguns tocam em questões de gênero, raça e saúde mental, que são muito pungentes na sociedade contemporânea", comenta.

Para o autor, o coletivo é um recorte bastante significativo da produção de quadrinistas e ilustradores de Minas Gerais. "Temos veteranos ao lado de novatos, ambos com muita força de vontade para apresentar suas ideias de maneira bastante única. Trata-se de um conjunto de artistas que representa muito bem o cenário de produção de HQs no estado."
 
página dupla da HQ Colorbar, que é feita apenas com imagens, sem texto
Daniel Bretas e Regis Luiz apresentarão uma prévia de "Colorbar", cujo lançamento está previsto para o próximo mês de junho  (foto: Daniel Bretas e Regis Luiz/Divulgação)
MEMÓRIA 
No dia da feira, Fabrício Martins lança a HQ "Oblivion", produzida em parceria com a ilustradora Laura Jardim. A história do livro se passa num futuro próximo, no qual uma tecnologia permite que as pessoas apaguem a memória. No centro disso está a personagem Anna, uma jovem sem muita perspectiva do que realmente quer da vida.

"Ela é gente como a gente. Tem um trabalho comum, uma família que não a compreende muito bem e poucos amigos verdadeiros. Quando descobre essa tal tecnologia de apagamento da memória, ela se depara com um dilema que é basicamente continuar a viver ou abandonar tudo para começar de novo", ele descreve.

Fabrício assina o roteiro, enquanto Laura é a responsável pelas ilustrações. "No início, achamos que nossa história fosse sobre memória. Aos poucos, ela foi se mostrando uma história sobre depressão. A personagem vai se isolando e foi tudo um processo de produção muito orgânico. Eu e Laura íamos criando a história enquanto fazíamos. Às vezes, eu entregava o roteiro de determinada forma, e ela devolvia a ilustração de uma maneira completamente diferente do que eu havia imaginado. E assim, com bastante sinergia, a gente foi criando", ele explica.

ORIGINAIS 
Também integrante do coletivo, o quadrinista Régis Luiz, gestor do Dia Nacional do Quadrinho de Belo Horizonte, não irá lançar uma HQ inédita durante a feira. O trabalho que ele ainda está produzindo junto com Daniel Bretas, chamado "Colorbar", tem lançamento previsto para junho. No entanto, uma prévia do trabalho estará presente na "Exposição mineira de quadrinhos".

A mostra terá os originais de algumas das HQs lançadas, bem como uma parte toda dedicada aos processos criativos, experimentações feitas durante a produção e ilustrações dos artistas que não necessariamente correspondem ao trabalho lançado.

"'Colorbar' é um trabalho de autoria do Daniel Bretas criado para ser apresentado para um projeto no Japão", conta Régis. "É uma história contada somente através de imagens e ele me convidou para fazer o projeto gráfico e a edição."

O título, ele explica, faz referência às barras de cor das TVs analógicas, que serviam para que as emissoras pudessem calibrar o brilho, a luminosidade e o contraste antes de começar a transmissão, garantindo que os programas entrassem no ar de forma padronizada.

"Esse título é porque as color bars entravam no ar de madrugada, unindo som e silêncio. Então, como se trata de uma história que não usa texto para ser contada, o Daniel fez essa associação. A história é identificada através de cores e segue o estilo mangá", afirma Régis Luiz.

O quadrinista reitera que eventos como esse são importantes para que a produção de HQs independentes não pare. "A gente consegue ter uma sobrevivência por meio dos eventos presenciais. O on-line é muito positivo, só que o encontro frente a frente com o público traz mais retornos, tanto financeiros quanto de circulação da obra."

Fabrício Martins concorda e completa: "O trabalho autoral em HQ depende muito do calendário de feiras e eventos, principalmente se estamos dentro de um polo tão produtivo como Minas Gerais. Durante esses dois últimos anos, nós continuamos trabalhando, mesmo que tenha sido angustiante. Nos reinventamos, produzimos, escrevemos roteiros e acentuamos a nossa presença nas redes sociais. E, apesar dos recursos que existem hoje, como o e-book, o público de HQ gosta do papel. Estamos muito felizes de poder nos reencontrar e voltar à ativa depois desse período tenebroso".

NOVOS TÍTULOS

Confira a lista de obras que serão lançadas na Feira Mineira de Quadrinhos 

>> "A menor distância entre dois pontos é uma fuga", de Gabriel Nascimento e João Henrique
>>"Além túmulo", de Marcelo Branco
>>"Bakulo", de Felipe Maldonado
>> "Claro como a noite", de Thiago Brito Valle
>> "Coletânea Legustirinha", de Gustavo Legusta
Capa da HQ 'Comida de fada', de Val Armanelli, tem lata verde com tampa azul cercada por fundo de flores
(foto: Reprodução)

>> "Comida de fada", de Val Armanelli
>> "Contos de calango", de Cristiano Seixas
>> "D'artagnan", de Helvio Avelar e Alcir Piragibe
>> "Fessora!", de Aline de Castro
>> "Genô e Gertrú – Abalando as estruturas", de Sunça
>> "Memórias de um ser eterno", de Hilton
>> "Indomável 2", de Lúcio Guimarães e Igor Marques
>> "Legacy",  La Cruz
>> "Mandinga", de Dan Aroeira e Guilherme Smee
>> "O cristal das 12 dimensões", de Renatta Barbosa
>> "O último táxi", de Fabiano Azevedo e Fábio Correa
capa da HQ O vírus é uma linguagem, com desenho preto de homem com rosto assustado, em fundo amarelo, com o título escrito em letras vermelhas
(foto: Reprodução)

>> "O vírus é uma linguagem", de Gilson Ribeiro
>> "Oblivion", de Fabrício Martins e Laura Jardim
>> "Patron", de Ivan Camus
>> "Planeta", de Ana Paula Cortes
>> "Vento Norte", de Carol Rosetti

FEIRA MINEIRA DE QUADRINHOS
Neste sábado (9/4), das 10h às 18h. Teatro de Arena da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais (Praça da Liberdade, 21, Savassi). Entrada gratuita. Mais informações: instagram.com/feiramineirahq/

EXPOSIÇÃO MINEIRA DE QUADRINHOS
Deste sábado (9/4) até 15 de maio. Anexo da Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães da Biblioteca Pública de Minas Gerais (Praça da Liberdade, 21, Savassi). De segunda a sexta, das 8h às 18h, e aos sábados, das 8h às 12h. Entrada gratuita


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