Reza a lenda que a cidade de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, se desenvolveu em torno de um prostíbulo. Alguns defendem que o estabelecimento ficava em uma aldeia próxima e, por pressão da Igreja Católica, precisou se instalar em local mais afastado, dando origem a novo aldeamento. Outros acreditam que o prostíbulo, na verdade, era um empreendimento de Luciana Teixeira, proprietária da fazenda onde a cidade está localizada, e que ela o teria inaugurado justamente para atrair novos moradores.
Essa segunda versão inspirou José Roberto Moreira de Melo a escrever o romance histórico “O Rio das Araras Grandes”. Neste sábado (9/4), às 11h, ele lança o livro na Livraria da Rua, na Savassi.
“A história se passa em 1850 e fala da criação de Araçuaí. Luciana Teixeira era muito rica, viúva, cedeu parte de suas terras para as prostitutas com o intuito de que ali se firmasse um comércio que atraísse moradores”, diz o autor.
No romance, de um lado está a Igreja, que desempenha papel bem-intencionado, ainda que em detrimento do bordel. Do outro, Luciana Teixeira é descrita como grande empreendedora e visionária. Também faz parte da narrativa o mito da montanha de esmeraldas que estaria localizada no Vale, o que impulsionou o povoamento da região.
''É livro para ser lido. Uma história linear, com começo, meio e fim. Quero que ela chegue até o pessoal do Vale do Jequitinhonha, que seja apropriada por eles''
José Roberto Moreira de Melo, escritor
PESQUISA
Para criar essa história, busquei dados históricos que confirmam alguns fatos e inseri personagens fictícios que desempenham papel importante na tentativa de romancear o que aconteceu no passado”, afirma Moreira de Melo.
“O Rio das Araras Grandes” dá continuidade à coleção “Jequitinhonha: A terra e a gente”, na qual o escritor pretende lançar novelas sobre a história do Vale do Jequitinhonha, onde ele nasceu.
O novo livro é o segundo da série. O primeiro é “Contos do Vale”. Já estão em fase de finalização “O último trem para Filadélfia”, sobre a estrada de ferro que ligava Minas Gerais à Bahia, e “Calhau”, sobre a luta em torno do garimpo de pedras preciosas.
“Pretendo lançar, a princípio, 10 livros. Além do 'O Rio das Araras Grandes', dois já estão praticamente prontos e um terceiro com a história pesquisada e formatada, só preciso colocar no papel”, ele afirma.
Esse livro contará a história da cidade de Nanuque. O autor pretende escrever sobre a história de Diamantina e Grão Mogol.
Inspirado pelos “dois maiores romances históricos da língua portuguesa, 'O guarani', de José de Alencar, e 'Eurico, o presbítero', de Alexandre Herculano”, Moreira de Melo se preocupou em escrever uma prosa acessível.
“É livro para ser lido. Uma história linear, com começo, meio e fim. Quero que ela chegue até o pessoal do Vale do Jequitinhonha, que seja apropriada por eles. Não tenho a intenção de fazer literatura rebuscada”, comenta.
Dedicada à memória do jornalista e escritor mineiro Mário Roberto Ribeiro da Silva, a coleção é a forma que o autor encontrou de homenagear sua região.
LIBERDADE
“Sou de Araçuaí. Passei toda a minha infância lá e tive contato com todas essas histórias ao longo da vida”, comenta. Para escrevê-las, José Roberto assume a liberdade que o romance histórico permite.
“Tem fundo histórico, que não pode ser deixado de lado, senão perde o propósito e fica sem credibilidade, mas também tem a ficção, que ajuda a tornar a história mais interessante. Instiga o leitor”, ele afirma.
“O RIO DAS ARARAS GRANDES”
• De José Roberto Moreira de Melo
• Edição Independente
• 216 páginas
• R$ 30
• Lançamento neste sábado (9/4), das 11h às 14h, na Livraria da Rua (Rua Antônio de Albuquerque, 913, Savassi)