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Estado de Minas MÚSICA CLÁSSICA

CD do Quarteto Boulanger, criado por mulheres, reúne peças de sete autoras

Grupo rompe invisibilidade das compositoras na cena erudita e lança 'Entre brumas e fúrias', com concerto neste sábado (9/4), na Fundação de Educação Artística


09/04/2022 04:00 - atualizado 08/04/2022 22:04

As musicistas Jovana Trifunovic, Ayumi Shigeta, Flávia Motta e Lina Radovanovic, usando roupa branca, seguram instrumentos musicais, tendo montanha de BH ao fundo
Jovana Trifunovic, Ayumi Shigeta, Flávia Motta e Lina Radovanovic, além de integrarem o Quarteto Boulanger, fazem parte da Filarmônica de Minas (foto: ALEXANDRE REZENDE/DIVULGAÇÃO)

''Tenho mais de 20 anos de carreira em orquestra profissional, festivais, e nunca toquei música de uma brasileira. Além de não conhecer, ficamos chocadas porque quando perguntávamos aos outros, ninguém conhecia. A música erudita é dos homens brancos. Historicamente, sempre existiram compositoras, só que ninguém toca''

Flávia Motta, violista


Colegas na Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, a violinista Jovana Trifunovic, a violoncelista Lina Radovanovic, ambas sérvias, a pianista japonesa Ayumi Shigeta e a violista mineira Flávia Motta formaram um grupo de câmara há cinco anos. Afinidades musicais as uniram no Quarteto Boulanger, que lança neste sábado (9/4), na Fundação de Educação Artística, seu segundo álbum, “Entre brumas e fúrias”.

Só depois de formalizar o grupo atentaram para o fato de ele contar somente com mulheres – foi a primeira formação do gênero criada por integrantes da Filarmônica, vale dizer. Na hora de nomear o projeto, decidiram homenagear a professora, compositora e regente francesa Nadia Boulanger (1887-1979).

INÉDITAS

“Ela foi professora de composição no Conservatório de Paris de grandes autores do século 20, como Stravinsky, Almeida Prado e Aaron Copland”, comenta Flávia. A produção musical de compositoras brasileiras acabou norteando o novo álbum, que traz cinco peças inéditas da carioca Marisa Rezende, das paulistas Valéria Bonafé, Silvia De Lucca e Tatiana Catanzaro e da mineira Maria Helena Rosas Fernandes.

“Nosso primeiro concerto foi completamente convencional, com Beethoven e Mahler. Depois começamos a trabalhar com peças contemporâneas”, continua Flávia. Da incursão no universo do compositor mineiro Harry Crowl saiu o álbum de estreia, “Folhagens” (2017).

“Gostamos muito de tocar música contemporânea e por ser um grupo de mulheres, resolvemos que iríamos tocar compositoras”, diz a violista. Colocar a ideia em prática levou o quarteto a uma constatação impactante: nenhuma das quatro conhecia autoras brasileiras em atividade.

“Tenho mais de 20 anos de carreira em orquestra profissional, festivais, e nunca toquei música de uma brasileira. Além de não conhecer, ficamos chocadas porque quando perguntávamos aos outros, ninguém conhecia. A música erudita é dos homens brancos. Historicamente, sempre existiram compositoras, só que ninguém toca”, diz Flávia.

A partir de ampla pesquisa, baseada em dois critérios – que todas estivessem vivas e fossem de diferentes gerações –, o quarteto chegou aos cinco nomes.

“A mais velha, Maria Helena, é de 1933, e a mais jovem, a Valéria, é de 1984. Quisemos abarcar várias gerações e estilos diferentes de escrita e linguagem.”

BANDEIRA

O levantamento levou a vários outros nomes, além das cinco autoras contempladas. “Vamos continuar com esse projeto, virou nossa bandeira”, diz Flávia.

Os quartetos para piano de Maria Helena e Marisa já estavam prontos, mas nunca haviam sido gravados. As demais peças foram compostas especialmente para o álbum, gravado no estúdio New Doors Vintage Keys, em BH.

“Duas compositoras utilizam a técnica estendida (forma não tradicional de utilizar o instrumento respeitando suas possibilidades físico-acústicas), então a música é mais experimental. Maria Helena conhece muito rituais indígenas, cantos dos pássaros, utiliza muito isso em sua música. Cada uma das cinco traz suas características próprias na composição. Há sons de respiração, experimentos mesmo, mas também peças mais melodiosas”, acrescenta Flávia.

Além do concerto deste sábado, o Quarteto Boulanger vai lançar “Entre brumas e fúrias” em São Paulo. Serão duas apresentações, em 19 e 21 deste mês, na Sala do Conservatório, no complexo do Theatro Municipal.

REPERTÓRIO

“Pequenos gestos”
. De Marisa Rezende

“Mãe-maré”
. De Valéria Bonafé

“Carm'in versos”
. De Silvia de Lucca

“Caged bird”
. De Tatiana Catanzaro

“Celebração/O cântico das criaturas”
. De Maria Helena Rosas Fernandes

“Celebração/As oferendas da Terra”
. De Maria Helena Rosas Fernandes

“Celebração/Comunhão”
. De Maria Helena Rosas Fernandes

“Sobre brumas e fúrias”
. De Berenice Menegale e Jacqueline Guimarães
 
 
Capa do disco Entre brumas e fúrias traz a ilustração de borboleta nas cores amarelo, laranja e marrom
(foto: Reprodução)

“ENTRE BRUMAS E FÚRIAS”

• Disco do Quarteto Boulanger
• Oito faixas
• Lançamento neste sábado (9/4), às 18h, na Fundação de Educação Artística – Rua Gonçalves Dias, 320, Funcionários. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).


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