A exposição "Órbita", aberta ao público no último sábado (9/4), no Palácio das Artes, marca o encontro dos gêmeos Marconi e Marcelo Drummond, que expõem seus trabalhos juntos pela primeira vez. A mostra, panorama do que os dois produziram nos últimos 30 anos, ocupa a Galeria Genesco Murta com mais de 120 obras que mostram o entrelaçamento artístico da dupla e a relação que eles construíram com outros 25 artistas.
"Não se trata de uma exposição retrospectiva, mas de uma panorâmica da nossa atividade alicerçada pelas artes gráficas. É um mergulho que traz à tona múltiplas linguagens, seja nas artes visuais, na literatura ou na curadoria. E o público terá a oportunidade de entrar em contato não só com as obras, mas também com os nossos processos de pesquisa desenvolvidos ao longo dos anos", explica Marconi.
Como o próprio nome da exposição sugere, ela é estruturada em núcleos, organizados como satélites, que reúnem um variado acervo visual, alimentado pela coleção particular dos irmãos e também por obras de artistas que têm lastros de criação e processos integrados à trajetória profissional de Marconi e Marcelo.
Cada matriz gráfica exposta tem um acervo de obras relacionado, composto de diversas linguagens artísticas. O projeto expográfico, concebido pela arquiteta Ivie C. Zappelline, propõe o diálogo entre o trabalho da dupla com o de outros artistas convidados, como João Castilho, Lotus Lobo, Nydia Negromonte e Miguel Aun.
"A exposição nasce na tentativa de compreender as articulações entre o campo do design gráfico e o das artes visuais. Ela também reitera o quanto nós dois somos dois corpos sempre em movimento. Não somos só artistas ou só designers. Nos movimentamos, nos deslocamos. É o rastreamento da nossa produção para verificar por onde a gente andou e o que construímos até aqui", afirma Marcelo.
A mostra comprova que os irmãos têm bastante afinidade um com o outro em suas carreiras profissionais, muito embora tenham começado a trilhar o caminho até aqui em pontos de partida diferentes.
Marconi se formou em artes plásticas pela Escola de Belas Artes da UFMG. Além de artista visual, também atua como curador independente e já trabalhou no Museu de Arte da Pampulha, de 2006 a 2010, e na Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, entre 2013 e 2014.
Marcelo, por sua vez, se formou em design gráfico e atuou na área durante muitos anos, até se encantar pela pesquisa acadêmica. Doutor em tipografia popular do Brasil, ele é professor do curso de artes gráficas da Escola de Belas Artes da UFMG, e coordena o Laboratório Grafo.
"Depois que nos formamos e quando já atuávamos em nossas respectivas áreas, começamos a observar uma inquietação para pensar modos de articular esses dois saberes. E isso se deu muito em torno do desenvolvimento da prática artística, no caso do Marconi, e do meu desejo de me tornar pesquisador", conta Marcelo.
Marconi afirma que o trabalho do irmão é essencialmente motivado por promover a ponte entre as artes visuais e gráficas. "Ele transita por esses dois lados muito bem. Toda a pesquisa que ele desenvolve é uma tentativa de implodir a fronteira entre eles. E, por ser um artista gráfico de formação, ele acaba por estabelecer uma conexão muito forte com a literatura, a palavra, o vocábulo."
Marcelo também não poupa elogios ao falar de seu irmão e o caracteriza como um "artista inquieto". "Ele entendeu que um artista não precisa estar somente no exercício da criação. Isso pode ser extrapolado. Um artista pode ser curador, por exemplo. E esse é um pensamento extremamente contemporâneo: o de que o artista também pode exercer uma função curatorial e que a curadoria também pode ser um trabalho artístico."
Ambos definem os artistas convidados para fazerem parte da exposição como uma "rede de afetos". "É o nosso mapa celeste que foi concebido de forma transversal, como uma coisa rizomática. São artistas com os quais nós trabalhamos, em geral desenvolvendo livros ou projetos gráficos e até mesmo de curadoria, e que não fazia sentido expor o nosso trabalho sem que eles estivessem ali conosco", afirma Marconi.
A exposição nasce na tentativa de compreender as articulações entre o campo do design gráfico e o das artes visuais. Ela também reitera o quanto nós dois somos dois corpos sempre em movimento
Marcelo Drummond, artista plástico
INTERVENÇÕES
No sábado, dia da abertura da exposição, três intervenções performáticas passaram a ocupar a Galeria Aberta Amilcar de Castro: "Antropônimo (Juracy)", de Marcelo Drummond; "Fogueira", de Paulo Bruscky e Daniel Santiago; e "Citrium trepante", de Márcio Sampaio.Marcelo conta que "Antropônimo (Juracy)" faz parte de uma série que nasceu por conta de seu interesse pelas palavras. Andando pela cidade, o artista percebeu o quanto os bufês infantis usam, em suas fachadas, balões que formam o nome dos aniversariantes. Após produzir um inventário fotográfico dessas instalações, como ele define, ele se apropriou dessa mesma lógica para criar uma obra.
"Com balões brancos, eu modelo o nome Juracy, que vem do tupi-guarani e extrapola os padrões de gênero. Aos poucos, com o passar do tempo, esse nome vai se desfazendo, como uma alegoria para a dissolução de uma estrutura identitária", explica o artista.
"Fogueira", de Bruscky e Santiago, nasce a partir do empilhamento de barras de gelo. Já "Citrium trepante", de Sampaio, é uma instalação que presta homenagem à artista plástica mineira Lygia Clark (1920-1988).
O público terá a oportunidade de entrar em contato não só com as obras, mas também com os nossos processos de pesquisa desenvolvidos ao longo dos anos
Marconi Drummond, artista plástico
"ÓRBITA"
Exposição na Galeria Genesco Murta do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537 – Centro). Visitação de terça a sábado, das 9h30 às 21h, e domingo, das 17h às 21h. Entrada franca. Até 5 de junho. Informações: (31) 3236-7400