Na Semana da Conjuração Mineira, quando se lembram “os 230 anos do sacrifício de Tiradentes”, e no ano do bicentenário da Independência do Brasil, Ouro Preto, na Região Central do estado, valoriza ainda mais as páginas da história com a chegada de uma obra importante.
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Motivo de prisão de Tiradentes ainda é um dos pontos obscuros da InconfidênciaFazenda Paciência, do século 18, reabre e revela histórias de MinasMuseu de Mariana inicia programa Resgatando a HistóriaTiradentes tem caso de amor com Maria Tangará no livro 'Perfume de sangue'Após sete anos, KLB retorna aos palcos em turnê de 17 shows pelo BrasilNemer expõe em BH aquarelas que produziu com a 'disciplina' da pandemiaA doação do exemplar ao museu – iniciativa do município de Ouro Preto, com apoio do historiador Edson Brandão e patrocínio de empresa privada – mostra que a grandeza do patrimônio se faz com edificações, objetos, documentos e também com os livros.
“O 'Tractado da cultura dos pessegueiros', obra rara a ser exposta a partir de maio, ficará ao lado dos paramentos usados pelo padre Manoel Rodrigues da Costa, já à mostra no Museu da Inconfidência. Temos ainda uma biblioteca no anexo, a Casa do Pilar”, informa o diretor do museu, Alex Calheiros.
Com enfoque em tema agrícola, o livro em língua portuguesa tem 136 páginas, 16 estampas e texto original atribuído a De Combles, com o título original “Traité da la culture des pêchers”. Foi escrito provavelmente na primeira metade do século 18.
REBELDE NONAGENÁRIO
Nascido no antigo Arraial da Igreja Nova, atual Barbacena, o padre Manoel Rodrigues da Costa foi o mais longevo dos inconfidentes – viveu 90 anos – e um dos mais cultos. Possuía biblioteca, então raridade em Minas Gerais no período colonial.
O sacerdote vivia em sua Fazenda do Registro, remanescente da abertura do Caminho Novo da Estrada Real, pouso de tropeiros e visitada regularmente por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), expoente máximo da Inconfidência Mineira, além de destino das comitivas de Dom Pedro I (1798-1834) em duas ocasiões (1822 e 1831).
Conforme as pesquisas do historiador Edson Brandão, que identificou a obra em um leilão e despertou o interesse da Prefeitura de Ouro Preto em levá-la para o Museu da Inconfidência, vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), as mais de duas centenas de livros existentes na casa do padre atestavam a vasta cultura dele.
“Sabemos que, além de leitor, ele também produziu manuscritos e um livro de temas agrícolas”, observa Brandão.
Na condição de “condenado e inconfidente”, o religioso, com atividade política intensa, foi degredado para Portugal e lá viveu na clausura.
“Nesse período, o padre colaborou como tradutor e tipógrafo na célebre tipografia do Arco do Cego, ativa entre 1799 e 1801, casa editorial inovadora por seus temas enciclopédicos e ricas ilustrações”, explica Brandão no texto de divulgação do evento desta terça-feira, que será realizado no auditório do anexo do Museu da Inconfidência, no Centro de Ouro Preto.
“A tipografia do Arco do Cego foi criada e dirigida pelo franciscano brasileiro José Mariano da Conceição Veloso (1741-1811), o mais importante botânico da época. A fim de se reabilitar diante da corte portuguesa, o padre Manoel Rodrigues da Costa traduziu 'Tractado da cultura dos pessegueiros', com texto original em francês, configurando a obra um esforço daqueles editores em dotar os agricultores brasileiros de mais conhecimentos para produções diversificadas visando ao abastecimento interno, em contraponto ao foco colonial para monocultura exportadora”, informa Brandão.
O raro exemplar, “comprovadamente autêntico”, destinado ao Museu da Inconfidência pertenceu à coleção da Quinta das Lágrimas.
O Museu da Inconfidência abre de terça-feira a sábado, das 9h às 17h. Nesta quinta-feira (21/4), funcionará a partir do meio-dia, devido às cerimônias do Dia da Inconfidência.
No próximo domingo (24/4), o equipamento cultural ficará aberto, excepcionalmente, das 9h às 17h, com entrada franca.