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Estado de Minas CEFART

Bailarinos abrem mão do palco em trabalho de formatura no Palácio das Artes

''A marcha - Uma instalação coreográfica'', que tem direção de Dudude Herrmann, incorpora a linguagem do vídeo e será apresentado em galeria nesta terça (19/4)


19/04/2022 04:00 - atualizado 19/04/2022 07:35

Vestidos com camiseta e calça comprida, bailarinos simulam corrida em piso de terra
A gravação dos vídeos que integram ''A marcha - Uma instalação coreográfica'', trabalho dirigido por Dudude Herrmann, foi feita em Casa Branca, por Thais Mol (foto: Samuel Macedo/Divulgação)
A obra "A marcha – Uma instalação coreográfica" marca a formatura dos alunos do curso técnico em dança do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) da Fundação Clóvis Salgado. 

O trabalho, dirigido e coordenado pela artista Dudude Herrmann, se desdobra em vídeos, performances e uma instalação visual que ocupa a Galeria Mari’Stella Tristão, no Palácio das Artes, desde a última sexta-feira (15/4). A discussão proposta pela obra é sobre a relação do ser humano com seu ambiente natural.

"Esse trabalho foi pensado a partir do desejo e da necessidade de reconexão com a Terra, reconhecendo que todos nós viemos da mesma origem e que já estamos atrasados para alterar o nosso modo de viver neste planeta lindo e, ao mesmo tempo, extremamente maltratado", afirma Dudude.

A artista aceitou se envolver no projeto de formatura depois de receber um convite dos próprios alunos. Todo o projeto, desde a concepção até a gravação dos vídeos, realizada na região de Casa Branca, em Brumadinho, na Região Metropolitana de BH, foi feito numa fase em que a pandemia da COVID-19 impunha restrições severas, o que também influenciou a criação artística dos estudantes.

ANTENAS

"A experiência da pandemia nos colocou diante de questões muito importantes sobre nosso estar no mundo. Tudo começou comigo os escutando, farejando as ideias que eles tinham, usando as minhas antenas sinestésicas para sentir a turma e ver o que eu precisava fazer para nutrir esses corpos que desejam ser artistas", ela afirma.

Segundo ela, todo o processo foi marcado por percalços que, às vezes, fizeram com que o projeto tivesse que esperar, o que acabou contribuindo para o produto final exposto ao público. "É um trabalho de dança expandida, que sai um pouco da fronteira do que poderia ser a dança dentro de uma formalidade. Isso, para mim, também é um grande aprendizado pessoal", comenta Dudude.

"A marcha" pode ser vista em três vídeos dirigidos e editados por Thais Mol, com imagens capturadas por Samuel Macedo, Frederico Amorelli e Walfried Weissman e trilha sonora de Celso Nascimento. Também faz parte da obra uma instalação visual assinada por Tana Guimarães e Joanna Sanglard. Os vídeos e a instalação serão exibidos nesta terça (19/4) e quarta, das 17h às 21h.

Já as performances, que serão apresentadas presencialmente ao público pelos bailarinos formandos Carol Santiago, Rafael Neves, Ygor Gohan, Stephany Viana, Jéssica Castelo, Jhenifer Gonçalves, Letícia Stella, Lílian Santiago e Matheus Mattos, ocorrem entre a próxima quinta (21/4) e o sábado (23/4), sempre às 20h, com apresentações extras na sexta e no sábado, às 18h.

RECADO

"'A marcha' vem como um recado: nós temos uma missão no mundo. E os artistas são os responsáveis por mostrar isso, escancarar isso e se colocar a serviço disso. Cada intérprete teve o seu propósito de mergulho, de desenhos no espaço e de estados de dança. Juntos, nós movemos energia para construir um trabalho que toca no coração das pessoas", analisa Dudude.

A criação do espetáculo também envolveu a participação das alunas Laysla Araujo e Maria Mariano, da Escola de Tecnologia da Cena, também pertencente ao Cefart, que desenvolveram o desenho de luz da performance, sob a orientação do professor Geraldo Otaviano.

Questionada sobre o fato de o trabalho de formatura dos alunos da Escola de Dança não ser um espetáculo de palco, como tradicionalmente costuma ser, Dudude Herrmann explica que a escolha de exibir o trabalho em uma das galerias do Palácio das Artes também passa por uma reflexão conceitual.

"Eu fiz questão de não habitar o teatro, pelo menos não da maneira como o conhecemos, da formação palco e plateia. Colocar esse trabalho em uma galeria é uma forma de assinalar ainda mais a conversa entre a dança e as outras linguagens artísticas que constituem esse trabalho", ela explica.

Para a bailarina, o resultado é uma obra que carrega significados múltiplos e tem muito potencial para provocar os visitantes. "O artista olha o invisível para escancará-lo. E é isso que nós estamos fazendo nesse trabalho. O real significado dele; o sentido, cada pessoa vai trazer depois de assisti-lo".

VÍDEO

Responsável pela direção e edição dos vídeos que fazem parte da obra, Thais Mol conta que a ideia de gravar a performance surgiu em grande parte devido à pandemia. Como o trabalho foi desenvolvido em diferentes momentos da crise sanitária, o cenário de incertezas fez com que a escola promovesse a gravação caso a performance não pudesse ser realizada de forma presencial. Diante do resultado, o vídeo foi incorporado ao projeto.

"Como a Dudude tinha esse medo, ela nos chamou para fazer o vídeo, que é um trabalho feito a partir da peça coreográfica. Eu levei os alunos e ela para um descampado em Casa Branca, onde senti que eles poderiam performar livremente e de forma segura. A partir daí a gente construiu um roteiro", ela conta.

Cada vídeo tem a sua particularidade. Dois deles têm como foco a dança em grupo. Já o terceiro se dedica aos solos de cada aluno. Juntos eles formam uma peça completa: "A marcha – Uma instalação coreográfica".  

"Cada solo tem uma linguagem completamente diferente e a gente se aproveitou disso para criar vídeos que dialogam com o processo de cada aluno. De certa forma, eles são como uma metáfora, porque o vídeo mostra o dançarino passando por uma transformação", afirma Thais.

Para ela, ainda que os vídeos sejam o registro de uma performance que pode ser vista presencialmente, eles representam um outro momento da relação dos alunos com a coreografia; portanto, as diferentes expressões do trabalho têm as suas peculiaridades e devem ser consideradas separadamente.

"O vídeo é mais controlado. Eles [os formandos] estavam em outro tempo da relação com a coreografia, mais no começo do processo. Depois disso, eles já se reuniram muito mais vezes para ensaiar o que é apresentado presencialmente. O vídeo traz uma linearidade que não cabe na performance", comenta Thais.

"A MARCHA – UMA INSTALAÇÃO COREOGRÁFICA"

Vídeos, instalação visual e performances. Galeria Mari’Stella Tristão, no Palácio das Artes, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro,  (31) 3236-7400. Exibição dos vídeos e da instalação visual nesta terça (19/4) e quarta (20/4), das 17h às 21h. Performances de quinta (21/4) a sábado (23/4), às 20h, com apresentações extras em 22 e 23/4, às 18h. Entrada franca. Mais informações no site da Fundação Clóvis Salgado


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