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Estado de Minas ARTE E REFLEXAO

Consumo e meio ambiente são temas da peça 'Atemporal', do Circo do Sufoco

Sucesso em festivais online, peça que reúne mágica, palhaçaria e ficção científica, estreará presencialmente nesta sexta-feira (22), no Sesc Palladium


19/04/2022 09:29 - atualizado 19/04/2022 10:44

Rafael Sufoco em cena como o cientista de Atemporal
Destinado a todas as idades, o espetáculo participou, no ano passado, de diversos festivais on-line, recebendo cinco prêmios (foto: Ezequiel Lostau/Divulgação)
O meio ambiente, isolamento social, consumo e as relações humanas com a tecnologia são temas do espetáculo “Atemporal”, do Circo do Sufoco, que estreará presencialmente, nesta sexta-feira (22), no Teatro do Bolso do Sesc Palladium, após dois anos de adiamento, por causa da pandemia de COVID-19. 

Destinada a todas as idades, a peça participou, no ano passado, de diversos festivais on-line, recebendo cinco prêmios, incluindo o primeiro lugar de melhor cenário, e a terceira colocação de melhor direção e ator, espetáculo destaque, trilha sonora e figurino, no Festival FESTA de Araguari. 

Na trama, um cientista, isolado em seu laboratório em um futuro pós apocalíptico, faz diversas experiências em busca da fórmula perfeita para recriar a matéria orgânica na Terra, já que houve uma devastação dos recursos naturais e a humanidade está quase extinta. O espetáculo transita pela palhaçaria, mágica contemporânea, malabarismo, acrobacia e teatro. 

Temas atuais 

De acordo com Rafael Sufoco, mágico, ator circense e um dos idealizadores do projeto, a iniciativa surgiu em 2019, após o rompimento de barragem em Brumadinho e a evidência de problemas que envolvem a saúde pública e o meio ambiente.

“A peça foi criada no momento em que as questões ambientais estavam em foco no Brasil, sobretudo com a catástrofe em Brumadinho. Além disso, analisamos os discursos dos cientistas sobre o futuro humano, inclusive a possibilidade de vivenciar uma pandemia, mesmo antes da COVID-19 surgir. Costumamos brincar  que tivemos um acerto histórico”, contou. 

Rafael explica que a importância do espetáculo, feito de forma independente, também está associada à reflexão das relações humanas, que costumam ser mediadas pela tecnologia atualmente.

“As pessoas indiretamente criam uma ligação com a máquina, já que ela conduz a nossa forma de enxergar a realidade. Ao colocar o palhaço em cena, tentamos humanizar a peça e explorar a ingenuidade por, em muitos casos, não saber como reverter a atual crise. Assim, de forma lúdica e engraçada, discutimos os desdobramentos de um possível contexto”, completa. 

O ator afirma que o espetáculo foi inspirado na estética Steampunk, subgênero da ficção científica, popularizada a partir da década de 1980 pela obra do escritor H.G Wells. O subgênero levanta a discussão sobre um deslocamento espaço-temporal em que tecnologias modernas realizam funções improváveis num cenário passado (pós-revolução industrial), inspirando diversas obras da literatura, cinema, teatro, design, música e moda. 

“Tinha o projeto de criar um número de mágica que fosse inovador e bastante pessoal. Após fazer uma assessoria com o ilusionista Ramon Amaral e ele me contar um pouco sobre o Steampunk, decidi que, depois do sucesso da minha montagem, seria interessante fazer algo maior com a estética e as questões debatidas pelo subgênero. Chamei o Rogério Gomes, da companhia Cóccix,  para dirigir o espetáculo e, dessa forma, começamos a construí-lo”, disse.

De acordo com Rogério, foram feitas diversas pesquisas que envolveram a manipulação e ressignificação dos objetos, aplicando recursos circenses e introduzindo os mascaramentos, máscaras, ilusionismo e efeitos visuais. “O ambiente científico e o clima de um futuro distópico ficaram a cargo da cenografia e iluminação da peça. Juntos, esses elementos resultam em uma obra híbrida, que proporciona ao público divertimento e a oportunidade de conscientizar sobre temas como o meio ambiente, consumo e relações humanas”, explica. 

Retorno aos palcos 

Rafael ressalta que está muito animado com o retorno aos palcos após o longo período de isolamento. “Apesar de conseguirmos adaptar a peça, conforme o contexto pandêmico, ela foi criada para ser atuada no palco, com a interação do público. O espetáculo é muito relevante não somente pelas pautas debatidas, mas também para a cena circense de BH, pois implementa o circo no teatro, algo incomum na cidade”, afirmou.

Segundo o ilusionista, o desejo é de que a classe artística e todo o público assista “Atemporal” no próximo final de semana. “Mesmo que alguns teatros tenham retornado as suas atividades há um tempo, só agora sentimos segurança em poder fazê-lo presencialmente, dado o contexto. Tudo foi feito com muito trabalho e sem patrocínio, todos nós, apesar da equipe pequena, depositamos muito carinho e talento no projeto”, contou.

O sucesso da peça em festivais online, premiada cinco vezes, mostrou que o espetáculo estava no caminho certo e chamava a atenção de todos que assistiam. “Receber o prêmio de atuação foi muito importante para mim. Tivemos que gravar o vídeo, para as apresentações no meio digital, com o teatro vazio e, isso, me deixou um pouco desanimado. Quando abrimos dois ensaios para o público, observamos o quanto as pessoas estavam envolvidas. Enquanto as crianças ficavam encantadas com os números de mágica, os adultos discutiam as questões trazidas na peça. Foi muito gratificante todo o reconhecimento”, relembra Rafael.

Para ele, o próximo passo é levar o espetáculo para diversas regiões do país, a fim de que os assuntos abordados sejam ampliados. “Queremos que a peça fique muito tempo em cartaz nas diferentes regionais de BH, pois temos público para isso. Também pensamos em um modo que seria possível transportá-la facilmente para outras regiões do Brasil e, quem sabe, do mundo”, ressaltou. 

Atemporal

Direção de Rogério Gomes. De: François Bouille; Com Rafael Sufoco. Sexta-feira (22), às 19h, sábado (23) e domingo (24), às 17h. Teatro do Bolso, Sec Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1046, Centro, (31) 3270 – 8100. Livre.

As entradas, que já estão sendo vendidas no Sympla ou na bilheteria do teatro, custam R$ 40, com meia entrada (verificar a política de compra de ingresso disponível no site de vendas dos ingressos). 

Ficha Técnica

Direção: Rogério Gomes
Dramaturgia: François Bouille
Elenco: Rafael Sufoco
Técnico de Cena: Alef Costa
Trilha Sonora: Evandro Heringer
Iluminação: Jésus Lataliza
Cenário e Figurino: Igor Godinho
Boneco Autômato: Agnaldo Pinho
Design Gráfico: Fernando Fidélis
Assessoria Mágica: Ramon Amaral
Comunicação: Débora Mozelli
Produção: Rafael Sufoco
Realização: Circo do Sufoco


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