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Estado de Minas NOVOS TEMPOS

Com seu visual cor-de-rosa, astro andrógino rompe tabus na Arábia Saudita

Sucesso no país que condena gays à morte, Ziad al Mesfer tem 2 milhões de seguidores no Snapchat, aplique colorido no cabelo e parceria com marcas de luxo


20/04/2022 04:00 - atualizado 19/04/2022 22:13

O saudita Ziad al Mesfer e seu cabelo cor-de-rosa em produção de moda fotografada nas ruas de Riade
Adepto da moda andrógina, o saudita Ziad al-Mesfer usa aplique cor-de-rosa no cabelo e chama a atenção nas ruas de Riade (foto: Fayez Nureldine/AFP)

Com extensões de cabelo rosa e calça de estampa de onça, o jovem modelo Ziad al-Mesfer atrai, inevitavelmente, todos os olhares em uma rua de Riad, capital de uma Arábia Saudita em plena mudança, mas ainda muito conservadora.

Pedestres imediatamente pegam os celulares para tirar fotos deste jovem de 25 anos, acompanhado por seu estilista e seu fotógrafo, que acaba de sair da Mercedes Benz branca em um bairro nobre da cidade.

PENA DE MORTE

Um homem o “acusa” de ser “gay”, crime que pode condenar alguém à morte na Arábia Saudita. Apesar das críticas e das ameaças nas ruas e na internet, Mesfer não pretende deixar a Arábia Saudita nem mudar sua aparência.

“Prefiro ficar no meu país, usando esta roupa, a esperar estar no exterior para me vestir com ousadia”, afirma.

Com 200 mil inscritos no Instagram e mais de dois milhões no Snapchat, Ziad al-Mesfer tem um mar de seguidores nas redes sociais. Foi ele quem abriu caminho para a geração de modelos masculinos em trajes considerados excessivamente femininos em seu país, que até pouco tempo impunha rígida separação dos sexos nos lugares públicos.

Desde a chegada do jovem príncipe herdeiro Mohamed bin Salman ao poder, líder de fato do reino desde 2017, a Arábia Saudita experimentou relativa abertura social, com mulheres autorizadas a dirigir, além da multiplicação de opções de entretenimento em lugares mistos.

Apesar disso, o conservadorismo social e as restrições políticas permanecem na Arábia Saudita, que abriga os locais mais sagrados do Islã.

Neste rico reino do Golfo, os homens são proibidos de “imitar” o outro sexo em seus trajes. Ziad al-Mesfer não se identifica como homossexual e afirma que deseja se casar com uma mulher.

Al-Mesfer se considera um reflexo da moda andrógina. Nascido em Riad, em família de seis filhos, começou a desenvolver a vocação para o design ainda muito jovem.

“Eu dizia para minha mãe e para minhas tias como se vestir. Adorava isso. Minha mãe pedia minha opinião, foi por isso que me interessei cada vez mais pela moda feminina”, explica.

Com sua crescente influência na internet, ele atrai grifes internacionais, como Prada e Dior. Quando a Gucci abriu loja na capital saudita, a marca fez questão de sua presença, contou a gerente de vendas Lulua Mohamed.

“É muito importante convidá-lo, porque vende na hora quando ele faz um vídeo, ou tira uma foto”, justifica.

O NÚMERO 1 

Embora outros modelos e influencers tenham seguido seus passos, Ziad al-Mesfer continua o número 1, diz o vendedor da Prada, que pede para não ser identificado, assim como outras pessoas entrevistadas pela agência France-Presse.

Embora divida opiniões e encontre oposição, Ziad al-Mesfer se beneficia de uma espécie de proteção, graças às parcerias com grandes marcas de luxo e às suas relações com celebridades locais. Parte da renda do modelo vem da publicidade on-line que ele faz. 


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