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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

'Enquanto houver vida' tem primeiro encontro de família depois da pandemia

Peça que estreia nesta sexta (22/4) no Palácio das Artes, com ingressos gratuitos, marca a formatura de alunos de teatro do Cefart


22/04/2022 04:00 - atualizado 21/04/2022 21:20

Os oito formandos do curso de teatro do Cefart, a diretora Mariana Ruggiero e o assistente Juan Queiroz posam para foto no palco do Teatro João Ceschiatti
Cenografia da peça "Enquanto houver vida" reproduz no palco do Teatro João Ceschiatti casa com quartos e varanda (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Uma casa como outra qualquer, a não ser por um detalhe que faz toda a diferença. Sala, varanda, cozinha, quartos, tudo está em cima de um palco. A ideia é transportar o espectador para um ambiente familiar para contar uma história também próxima do público – e, principalmente, do que todos passamos nos últimos dois anos.

Com estreia nesta sexta (22/4), no Teatro João Ceschiatti, no Palácio das Artes, “Enquanto houver vida” é o espetáculo de formatura dos estudantes do curso técnico de teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) da Fundação Clóvis Salgado. É encenado por um grupo pequeno de atores, apenas oito, que passaram boa parte do curso tendo aulas on-line de uma manifestação artística que exige a presença física.

Tanto por isso, a pandemia é o pano de fundo do drama que se desenrola em cena, com dramaturgia de Cris Moreira e direção das atrizes Cláudia Assunção e Mariana Ruggiero. Depois de dois anos afastada em decorrência da crise sanitária, uma família se reencontra para uma festa de aniversário.

“O motivo da comemoração causa um desconforto nas pessoas dessa família”, conta Mariana. Explicar mais entregaria o jogo que se estabelece na cena. Partiu do grupo de formandos – Álisson Valentim, Dévora MC, Diego Siqueira, Carol Gomes, Pablo Xavier, Cleide Matias, Dio e Letícia Angelo – o convite para que Mariana e Cláudia assumissem sua primeira direção conjunta – e também a primeira de ambas em um espetáculo do Cefart, cujo curso de teatro está completando 36 anos.

PESQUISA 

A dupla – Mariana é também cria do Cefart, formou-se na escola em 2004, e Cláudia, que atuou na Companhia de Dança Palácio das Artes, graduou-se em teatro pela UFMG – desde 2017 está à frente do projeto Ator em Ação, no qual desenvolve um trabalho de pesquisa com atores.

Ambas residem em Belo Horizonte, mas vão para onde o trabalho mandar, já que têm uma atuação no cinema e na TV. Foi precisamente essa a razão que levou os formandos a convidá-las para assumir a montagem. “Eles nos procuraram com o desejo de trabalhar a construção de personagem e também por causa do audiovisual. Tanto que conseguimos mesclar o teatro com o vídeo”, comenta Cláudia.

O processo foi rápido e intenso. Convidadas em dezembro de 2021, as duas começaram a trabalhar com o grupo, que não conheciam, em janeiro. “Como eles queriam trabalhar teatro e audiovisual, fomos conhecer o nosso cinema. Assistiram a mais de 30 filmes nacionais para ver com o que mais se identificavam. A partir daí, começamos a recolher depoimentos pessoais e tudo foi registrado com câmera”, descreve Mariana.

Neste momento, entrou em cena a dramaturga Cris Moreira. No início, ela criou um esqueleto do texto e, a partir da conversa com os atores, chegou ao resultado que está sendo levado para o palco.

TEXTO 

“É um espetáculo muito verborrágico, os atores falam o tempo todo. Belo Horizonte tem uma cultura do teatro de grupo, de pesquisa. Aqui, o teatro é mais performático do que falado do que no Rio e em São Paulo. Acho que como lá a teledramaturgia é muito presente, você vê mais teatro com muito texto”, comenta Mariana.

Levar o cinema para a cena foi um desafio da montagem. “Neste ‘casamento’ entre teatro e audiovisual, tem alguns lugares em que o espectador não pode entrar. Aí, quem entra é a câmera”, diz Cláudia. 

Isso só foi possível por causa da cenografia, assinada por Carolina Gomes. “Ela tem uma experiência de 10 anos dentro do Projac (hoje chamado Estúdios Globo, em Jacarepaguá, no Rio), fez muitos cenários para teledramaturgia. Então pedimos que construísse no Ceschiatti a casa da família”, diz Mariana, acrescentando que o cenário é “quase o personagem principal” da montagem.

O palco foi dividido em dois. Na parte frontal está localizada a área social dessa casa onde se dará a festa, com varanda, sala e cozinha. Na parte de trás do palco estão os quartos. “O espectador só vê o que acontece lá através da janela. E as cenas são mostradas por meio de projeções (a direção das gravações foi de Silvia Godinho). Os atores estarão em cena fazendo outra coisa, então o público verá duas realidades: o que é projetado e o que está em cena. É como uma brincadeira entre teatro e cinema”, afirma Mariana.


PONTE AÉREA PROFISSIONAL

No dia em que acertou sua participação para a montagem de “Enquanto houver vida”, a atriz Mariana Ruggiero recebeu o convite para participar da série “No mundo da Luna”, adaptação da HBO Max dirigida por Roberto Dávila, a partir do livro homônimo de Carina Rissi, autora best-seller do público jovem.

“Fiquei pensando se iria para São Paulo (onde a série foi rodada) para ficar três meses e desistiria da montagem. Mas eu queria muito dirigir a peça e não podia abrir mão da série. Então, fiz um acordo com a produção de ficar indo e vindo (BH/SP)”, conta a atriz, que terminou há pouco as gravações deste que é seu primeiro trabalho em comédia. “Faço uma ex-modelo que luta pelas causas sociais”, diz.

Além desta, outra série em que a atriz trabalhou também estreia este ano. Mariana está no elenco de “Olhar indiscreto”, da Netflix. Interpreta uma policial na produção dirigida por Luciana Oliveira e Fabrizia Alves Pinto. “É uma equipe de muitas mulheres e será o primeiro thriller erótico do Brasil”, conta ela.

CINEMA 

Os convites vieram depois de Mariana estrear em longas. No drama “Piedade”, de Cláudio Assis, lançado no ano passado, ela interpretou Fátima, a filha de Dona Carminha, personagem de Fernanda Montenegro. Pelo papel, levou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Los Angeles Brazil Festival.

Já Claudia, que estreou no cinema com “O sol do meio-dia” (2009), de Eliane Caffé, já trabalhou com os diretores Tata Amaral (“Hoje”, 2011), Felipe Bragança (“Não devore meu coração”, 2017) e Marcos Prado (“Macabro”, 2019). Com participações em novelas, atualmente se prepara para entrar na série bíblica “Reis”, da Record. 

“Fico transitando entre Rio e São Paulo, mas minha casa é em BH, onde passei toda a pandemia. Estrear este espetáculo agora, e com público dentro do teatro, tem um significado grande para a gente”, afirma.


“ENQUANTO HOUVER VIDA”
Espetáculo de formatura do Cefart. Estreia nesta sexta (22/4), às 20h, no Teatro João Ceschiatti – Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Temporada de quinta a sábado, às 20h, e domingo, às 19h, até 8 de maio. Entrada franca (ingressos serão distribuídos na bilheteria, uma hora antes de cada apresentação)


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