Escândalos? Houve (muitos) outros desde então. Completando 50 anos neste 2022, Watergate continua sendo o preferido de Hollywood. De “Todos os homens do presidente” (1976) a “The Post: A guerra secreta” (2017), o escândalo denunciado pelo The Washington Post, que varreu Richard Nixon da Casa Branca, fazendo dele o único presidente dos EUA a renunciar ao cargo, já foi esmiuçado sobremaneira.
Leia Mais
Série 'O bebê' retrata maternidade como experiência de terror'Enquanto houver vida' tem primeiro encontro de família depois da pandemiaVanguart se apresenta hoje pela primeira vez em BH no formato trioWagner Moura é jornalista problemático em série internacional de suspense'Cidade perdida' aposta em aventura com a química entre superestrelasXenofobia ou diferença cultural? Produções japonesas estimulam o debateFliaraxá 2022 vai abordar abolição, independência e literaturaSão personagens menores, alguns periféricos diante das implicações que Watergate teve. Mas nem por isso a narrativa é menos fascinante. Julia Roberts e Sean Penn interpretam as figuras centrais da série. Ela é Martha Mitchell, a mulher do procurador-geral de Nixon, John Mitchell (Penn).
Martha foi uma exuberante socialite do Arkansas, sem papas na língua. Mesmerizava audiências na televisão, sempre com um sorriso encantador e sem medo de falar o que pensava. Tem seu mérito na história, pois foi a primeira pessoa ligada à gestão Nixon que falou publicamente sobre Watergate – tanto por isso, foi calada.
Até pouco tempo atrás não mais do que uma nota de rodapé no escândalo, sua figura está sendo recuperada. Além desta série, o curta-metragem documental “O efeito Martha Mitchell” será lançado neste ano pela Netflix.
DESGASTE
A série começa apresentando o casal. O casamento ainda tem seus momentos apaixonados, mas o desgaste é aparente. John Mitchell (Sean Penn, quase irreconhecível, careca e com camadas de látex que inflam sua figura) é um devoto inconteste de Nixon, além de ser um de seus melhores amigos.
Confira o trailer da série:
Exatamente por isso está ficando difícil tolerar as declarações públicas que a mulher faz contra a Guerra do Vietnã (seu primogênito está no combate), mesmo que para revistas femininas. Rapidamente, o amor se transforma em rancor e crueldade – e já no piloto faíscas vão rolar entre os dois protagonistas.
A narrativa tem início em janeiro de 1972, cinco meses antes da invasão da sede do Comitê Democrata, no Complexo Watergate. Mitchell, presidente do comitê para a reeleição de Nixon, cria uma equipe que tem que passar despercebida, pois suas intenções estão longe de ser limpas.
Para organizar o grupo de “espionagem”, é convocado o advogado do Conselho da Casa Branca John Dean (Dan Stevens), um jovem que quer subir a qualquer custo. É um tanto ingênuo e, mesmo que em alguns momentos tenha alguma consciência, basta um estalar de dedos de Mitchell que ele deixa qualquer escrúpulo de lado.
Em um encontro às cegas, ele conhece uma jovem aeromoça, Mo (Betty Gilpin). A despeito das diferenças ideológicas, o casal se apaixona rapidamente. Dean contrata G. Gordon Liddy (Shea Whigham). Este é um fanático que decora o porão de casa com uma fotografia de Hitler. E será este abilolado, que representa a cegueira do totalitarismo, quem vai colocar a operação Watergate em curso.
Em última instância, a série vai acompanhar como este grupo – que reúne os cegos pelo poder, os completos idiotas e alguns com um pingo de consciência – se divide quando o escândalo vem à tona. Ninguém sai ganhando – mas a briga é boa demais e não dá para perder um round.
“GASLIT”
Série em oito episódios. Estreia neste domingo (24/4), na Starzplay. Um novo episódio por domingo