“Cidade perdida” é o tipo de filme charmoso, repleto de estrelas, com muita ação e aventura que faz o cinema parecer (para quem está de fora) atividade fácil de realizar. É difícil imaginar um mundo no qual você une Sandra Bullock e Channing Tatum, como a escritora e seu homem-objeto, e o resultado não seja agradável.
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Se o carisma de grandes estrelas fosse suficiente para tornar um longa interessante, haveria número bem maior de bons filmes no mundo. Por isso, “Cidade perdida”, em cartaz nas salas de BH, é tão especial. Claro, o filme depende de Bullock, Tatum e de todo o elenco do início ao fim. Porém, muito mais do que isso seria necessário para fazê-lo funcionar, o que de fato acontece. É o filme que “Jungle Cruise” queria desesperadamente ser – e não foi.
No caso de “Cidade perdida”, dirigido pelos irmãos Aaron e Adam Nee, parece que tudo começou com o roteiro enxuto, inteligente e autoconsciente, de tal forma que brinca com os absurdos de filmes de “peixes fora d'água” e homenageia aquilo que amamos neles. E sem ser jamais sarcástico ou condescendente.
Como Loretta e Alan, Bullock e Tatum representam opostos, o cérebro e a beleza. Ela é a escritora que encontrou sucesso escrevendo romances picantes, embora preferisse ser acadêmica.
Ele tem coração de ouro e vocabulário de impropriedades. Ela o considera pouco mais do que um tanquinho ambulante, mas ele é fascinado por ela. E está mais do que ansioso para encenar uma tentativa de resgate quando é sequestrada.
Geralmente, ter quatro escritores (os irmãos Nees, Oren Uziel e Dana Fox) e uma história original (idealizada por Seth Gordon) em um projeto é arriscado, sugerindo vários processos de reescrita e a tentativa de agradar a todos.
Cinéfilos tendem a celebrar a visão individual de um criador e tratar colaborações como suspeitas. No entanto, “Cidade perdida” parece ter sido o produto de trabalho em equipe, na tela e fora dela – talvez, o retorno aos dias em que sugestões do estúdio eram uma coisa boa, capazes de melhorar um projeto.
Veja Loretta, que é contra a roupa que a agente Beth escolheu para ela usar em um evento promocional de seu novo livro, o macacão de lantejoulas roxas, decotado e apertado. Beth a aconselha a aceitar e parar de reclamar, pois só precisa usá-lo por duas horas.
Na verdade, não é o caso, pois ela será sequestrada pelo psicopata gentil Abigail Fairfax, vivido por Hadcliffe, e levada para uma ilha perdida, onde espera que a escritora o ajude a encontrar um artefato antigo. A roupa, muito apertada para o lançamento de um livro, não será mais prática na natureza. É para lá de inconveniente.
Em outras palavras, nada em “Cidade perdida” é piada descartável, mesmo o macacão de lantejoulas roxas. E Bullock e Tatum são puro ouro juntos.
CLÍMAX
O único problema é que a primeira hora do filme é tão forte, animada e engraçada que quando chega ao clímax ele começa a perder força. Não se trata de crítica à segunda parte, apenas o que acontece quando há tanto material interessante na primeira fase.
Ainda assim, “Cidade perdida”, como “A espiã que sabia de menos”, lançado em 2015, ficará ainda melhor a cada vez que assistirmos a ele. Pode não ser ótimo cinema no sentido tradicional, mas é muito divertido – antídoto a muito do que temos por aí.
“CIDADE PERDIDA”
EUA, 112min. Direção: Aaron e Adam Nee. Com Sandra Bullock, Channing Tatum e Daniel Radcliffe. Sessões hoje (26/4) no BH (16h40, 19h15, 21h50), Boulevard (14h10, 19h e 21h20), Cidade (13h50, 16h10, 18h30, 20h40), Diamond (19h05, 21h40), Pátio Savassi (13h50, 16h25, 19h e 22h) e Ponteio (13h30, 18h50 e 21h10).