Em 19 de maio, Marku Ribas (1947-2013) completaria 75 anos. Em homenagem ao cantor e compositor mineiro, suas filhas, a cantora Júlia e a atriz Lira Ribas, estão organizando o Marku Day – evento inspirado no Fela Day, que celebra o legado do célebre músico nigeriano Fela Kuti (1938-1997).
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“Isso já está na agenda deles, e teremos como convidados, participando dessa celebração, vários artistas de Minas e de outros estados que confirmaram presença, então vai acontecer de qualquer jeito”, afirma Lira.
CUSTOS
“Como depende de bilheteria e é uma proposta nova, resolvemos lançar a campanha. Mesmo com os músicos topando um cachê menor, porque são todos admiradores da obra de Marku, existem custos de produção, de comunicação, de transporte”, diz.Ela salienta que a intenção é que o Marku Day seja celebrado todos os anos, como parte do calendário cultural da cidade, o que se justifica pela importância e influência que o músico exerceu e cuja obra continua exercendo, na cena local e nacional.
A adesão ao projeto é uma evidência da abrangência do legado de Marku. Com o suporte de uma banda formada por Richard Neves (teclado), Daniel Guedes (percussão), Fred Jamaica (baixo), Léo Pires (bateria) e Egler Bruno (guitarra), vão se revezar no palco d’A Autêntica os paulistas Eduardo Bid e Melvin Santhana, o carioca Thiago Elniño, os mineiros Janamô, Nath Rodrigues, Roger Deff, Marcelo Dai, Rodrigo Negão, Sérgio Pererê, Pedro Morais, Alê Massau e Azzula, e mais as bandas Babadan, Mais Samba, Diplomattas, Magia Negra e Magnólia. Completam o line-up os DJs Black Josie e Yuga.
Lira aponta que muitos outros nomes, notórios admiradores da obra de Marku, poderiam ser convidados, mas questões orçamentárias, de estrutura e de tempo inviabilizariam uma primeira edição do projeto em um formato maior. Júlia conta que a ideia da homenagem surgiu a partir da percepção do interesse que a música de seu pai segue despertando entre as novas gerações.
“Começamos a sentir esse ‘peso leve’ de as pessoas quererem Marku. Tem muito jovem que sabe de uma ou outra coisa dele, mas não conhece a fundo a obra. Queremos socializar o legado de meu pai. A gente quer aproveitar esse envolvimento afetivo e musical e celebrar essa data especial, que seriam os 75 anos dele”, afirma.
Veja Marku Ribas cantando "Zamba bem" na TV Cultura:
NEGRO MURO
As comemorações em torno do aniversário de Marku seguem com a realização, na capital mineira, provavelmente no mês de junho, do projeto Negro Muro, que já estampou em diversos endereços do Rio de Janeiro retratos de nomes como Cartola, Pixinguinha, Moacir Santos, Marielle Franco e Mãe Beata de Iemanjá.
Com os recursos obtidos por meio da campanha, Lira e Júlia vão trazer Pedro e Cazé a BH para a pintura de uma imagem de Marku em local ainda a ser definido. “Essa é uma iniciativa muito bacana criada por esses dois artistas pretos do Rio de Janeiro que queremos trazer para cá. O Pedro é pesquisador, historiador, sempre foi muito fã de papai. Há algum tempo eles falam da vontade de fazer o retrato de Marku. Isso vai acontecer como uma ocupação pública mesmo, com a interação das pessoas”, adianta Lira.
Júlia aponta que foi por meio do Negro Muro que ela e a irmã conheceram o artista visual Luang Senegâmbia, que ficou responsável pela criação do cartaz que divulga a campanha de financiamento e que, a propósito, é uma das recompensas para quem contribuir.
“E temos vários outros brindes, como contrapartida, que são coisas muito significativas do acervo do Marku. É um projeto que já nasce muito bonito, porque são todos artistas pretos convidados em razão da ligação que têm com Marku. Tudo se conecta pela afetividade”, observa.
Lira afirma que seu pai sempre foi uma referência artística, na medida em que ele buscou suas raízes e as incorporou com muita crença e verdade. Ela diz que ainda hoje descobre fontes em que Marku bebeu e se encanta com isso.
“Eu via meu pai sambando e fazendo uma percussão raspando os pés na pele de um tambor colocado no chão. Eu imaginava que era algo vindo de Pirapora (cidade natal do artista). Quando vi, mais recentemente, que na Martinica os homens dançavam e tocavam assim é que descobri que vinha de lá; fiquei emocionada”, diz.
“Tudo o que ele viveu aparece na obra dele. Era um artista conectado com todas as suas raízes e referências no mundo, sejam as africanas, as caribenhas ou as indígenas”, aponta Lira. “Eu interpreto a música dele há 26 anos. Para mim, a obra dele é o que a correnteza é para o rio, as ondas são para o mar ou o cordão umbilical foi para mim e minha filha”, diz Júlia, que não vai estar presente na celebração do dia 19 de maio porque estará, no período, cumprindo uma agenda de shows na Alemanha – cantando Marku.