Emilia tem 17 anos e deixa Buenos Aires rumo à fronteira da Argentina com o Brasil com um só objetivo: encontrar seu irmão Mateo, que desapareceu no local. Chega a um pequeno lugarejo para se hospedar na pousada da tia, que não a suporta. O local é assombrado pela chegada de uma fera. Pelo que se diz, o espírito de um homem mau toma conta de animais. Mulheres estão desaparecendo.
Esse é o ponto de partida de “Como matar a besta”, primeiro longa-metragem da diretora Agustina San Martín. Coprodução de Argentina, Brasil e Chile, abre a programação de 2022 do Sessão Vitrine, projeto de distribuição de filmes brasileiros e coproduções nacionais independentes. Será exibido a partir desta quinta-feira (28/4), às 19h, no UNA Cine Belas Artes.
QUEER
“A história começou como desafio de fazer um filme sobre o despertar queer contado com tintas de horror e medo”, afirma a argentina Agustina San Martín. Emilia (a estreante Tamara Rocca) tem questões mal resolvidas com o irmão. Sua tia, Inés (Ana Brun), não sente conexão alguma com a garota, já que vivia às rusgas com a mãe dela. Apesar de sozinha e sem ter a quem recorrer, Emilia é determinada.No lugarejo onde convivem argentinos e brasileiros e o portunhol é língua corrente, ela acaba descobrindo sua própria força. Conhece outras mulheres que, a despeito da besta, assumem o controle das próprias vidas. A chegada de outra jovem, Julieth (Julieth Micolta), vai transformar a vida de Emilia, que decide confrontar os próprios medos.
A história de “Como matar a besta” não é entregue de maneira fácil. Com poucos diálogos, a narrativa, por vezes, toma a dimensão do sonho. O ambiente sempre chuvoso e envolto em neblina traduz bem a intenção da realizadora de se afastar do realismo puro e simples. O som, por vezes, adquire quase a função de personagem.
Em fevereiro de 2019, Agustina rodou o longa em El Soberbio, cidade argentina da região das Missões, que faz fronteira com o Brasil por meio do Rio Uruguai (a parte brasileira é chamada de Porto Soberbo).
“Antes desse filme, fiz um curta (“Monstruo Dios”) nas Missões. Sempre volto lá, pois tenho uma conexão particular com o lugar”, diz a cineasta.
CHUVA
O grande dificultador foi o período das filmagens – fevereiro é mês chuvoso. “Foram muitos dias de chuva. Como não tínhamos dinheiro para cobrir (dias parados), tivemos de inventar muito, pois não podíamos ficar sem filmar”, relembra.
Além do portunhol, a presença brasileira é marcada pela pequena participação do ator João Miguel, que faz um homem decidido a matar a besta, e a trilha sonora, a cargo do grupo mineiro O Grivo.
“COMO MATAR A BESTA”
(Argentina/Brasil/Chile, 2021, 79min, de Agustina San Martín, com Tamara Rocca e Ana Brun) – Estreia hoje, às 19h, na Sala 3 do UNA Cine Belas Artes. Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia)
SESSÃO VITRINE
» “Seguindo todos os protocolos”
. Diretor: Fábio Leal
. 26 de maio
Vencedor do Prêmio Helena Ignez na Mostra de Tiradentes, a comédia dramática brasileira acompanha Francisco, que desde o início da pandemia seguiu todas as medidas de segurança. Dez meses depois, carente de contato humano, ele decide encontrar uma forma de resgatar sua vida sexual.
» “Tantas almas”
. Diretor: Nicolás Rincón Gille
. 30 de junho
A produção colombiana/brasileira acompanha um pescador que atravessa o Rio Magdalena, o maior da Colômbia, em busca dos corpos de seus dois filhos, assassinados pelos paramilitares. Ele quer dar o enterro que merecem e, em sua jornada, revela a magia de um país despedaçado.
» “Virar mar”
. Diretores: Philipp Hartmann e Danilo de Carvalho
. 28 de julho
Coprodução Alemanha/Brasil rodada em HD e Super-8, é um filme-ensaio entre o documentário e a ficção sobre o cotidiano em meio às mudanças climáticas. O cenário é o sertão do Brasil e os pântanos do Norte da Alemanha.
» “A morte habita à noite”
. Diretor: Eduardo Morotó
. Em agosto
Rodado no Recife, o drama acompanha Raul. Ele tem 50 anos, é alcoólatra e está desempregado. Sua tábua de salvação é Lígia, mas o vínculo deles não é mais o mesmo. Numa noite conturbada, Raul encontra uma jovem desgarrada que lhe desperta algo especial.