Começa com um casamento e termina com um funeral. Mas não são esses dois acontecimentos que marcam “Downton Abbey II – Uma nova era”, que chega nesta quinta-feira (28/4) às salas de exibição. No segundo longa-metragem criado por Julian Fellowes a partir da saudosa série homônima (2010-2015), os novos tempos são anunciados pelo cinema e por uma herança.
Ainda que não seja determinado no início da trama, a narrativa gira entre 1928 e 1929, antes da Grande Depressão. A direção coube a Simon Curtis, de “A dama dourada” (2015). No final do filme de 2019, Violet Crawley, a condessa viúva de Grantham (Maggie Smith, ainda a melhor razão para assistir aos longas e à série), anunciou uma grave doença que a levaria à morte.
HERANÇA
Mesmo com a saúde debilitada, a implacável dama se sai com esta: “Eu recusaria uma vila no Sul da França?”. Esta aí um dos motes da nova trama. Sessenta anos atrás, a jovem Violet encantou o Marquês de Montmiral durante uma temporada em sua vila francesa. O homem morreu e, apesar de nunca mais tê-la visto, deixou-lhe de herança a tal mansão na Riviera Francesa.
Ainda que a viúva do marquês (Nathalie Baye) queira brigar pelo imóvel, o único filho do casal (Jonathan Zacaaï) quer conhecer a família que vai ficar com a mansão. Impossibilitada de viajar, a condessa manda para a França metade da família e da criadagem para uma temporada no local. É ali que o conde de Grantham (Hugh Bonneville) fica sabendo do passado de sua mãe – a novidade lhe traz uma dúvida enorme sobre sua própria história.
Voltando a Downton, Lady Mary (Michelle Dockery) consegue da avó a anuência para algo impensável em outros tempos. Uma companhia de cinema vai usar a mansão como locação de um filme. O dinheiro será muito bem-vindo para reformar o telhado, é o principal argumento. Entre os serviçais, a aprovação é geral por ter estrelas de cinema dentro de casa.
Pois eis que chega a equipe de filmagem. O diretor, Jack Barber (Hugh Dancy), logo desenvolve uma ternura por Lady Mary. Mas são os dois protagonistas, Guy Dexter (Dominic West) e Myrna Dalgleish (Laura Haddock), quem mais vão criar expectativas entre os empregados. Ele encanta todos, especialmente o novo mordomo dos Crawley, Barrow (Robert James-Collier). Ela é uma negação – grosseira e egocêntrica como uma diva.
Para essa subtrama, Fellowes surrupiou a história de “Cantando na chuva” (1952). No meio das filmagens, o diretor Barber é avisado de que a produção foi cancelada. Filmes mudos não dão mais dinheiro desde que o mundo conheceu o cinema falado (o marco inicial é “O cantor de jazz”, de 1927). Lady Mary tenta resolver a situação, mas esbarra no sotaque áspero e na voz esganiçada de Myrna Dalgleish – assim como no clássico musical de Gene Kelly, os atores terão que se adaptar à chegada do som.
DESCULPA
Com essas duas histórias que estão longe de serem originais, o filme vai intercalando sequências em Yorkshire e no Sul da França. Como no longa anterior, marcado por uma visita real e uma tentativa de assassinato, os acontecimentos são mera desculpa para o desfile incansável de vestidos, prataria, jantares elegantes e mesuras a perder de vista.Junte-se a isso o grande time de personagens bem delineados e ótimas tiradas, “Downton Abbey” continua um prato cheio para os fãs de melodramas. A despeito do subtítulo “Uma nova era”, o filme é basicamente mais do mesmo.
Reciclando também a si próprio (há um quê de “Assassinato de Gosford Ford”, que Robert Altman dirigiu em 2001 a partir do roteiro de Fellowes), o criador de “Downton Abbey” não desagrada aos seguidores da saga.
''DOWNTON ABBEY II – UMA NOVA ERA''
(Reino Unido/EUA, 2022, 125min., de Simon Curtis, com Maggie Smith, Hugh Bonneville, Laura Carmichael e Michelle Dockery) – BH 5, às 14h20, 17h30 (exceto sáb e dom), 14h50 e 17h40 (somente sáb e dom) e 20h40 (quarta). Diamond 6, às 19h20 e 22h10 (exceto quarta) e 14h40 e 17h30 (quarta). Ponteio 2, às 16h, 18h40 e 21h10. UNA Cine Belas Artes 1, às 15h40 e 20h