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Estado de Minas AUDIOVISUAL

Série que revela os segredos da Amazônia ancestral estreia no Sesc TV

Por 6 mil anos, região abrigou várias civilizações e jamais foi inóspita. 'Amazônia, arqueologia da floresta' vai ao ar às 20h, neste sábado (30/4)


30/04/2022 07:45 - atualizado 30/04/2022 07:46

Homem segura uma conta encontrada durante escavações na Amazônia
Conta encontrada durante as escavações (foto: Sesc TV/divulgação)

No início de 2020, a diretora gaúcha Tatiana Toffoli viajou até o sítio arqueológico de Monte Castelo, em Rondônia, para acompanhar a escavação conduzida pelo arqueólogo Eduardo Góes Neves e sua equipe. A ideia inicial era voltar de lá com o primeiro episódio de uma série sobre a floresta amazônica. Porém, o material registrado rendeu uma temporada inteira de “Amazônia, arqueologia da floresta”, que estreia neste sábado (30/4), às 20h, no Sesc TV.

"Quando você vai para uma comunidade indígena, isso muda a sua vida. Eles têm um jeito de viver muito concreto, fora a subjetividade dos ritos, dos sonhos e dos mitos. Além desse mundo mitológico invisível, tem o contato direto com a natureza. É preciso estar na natureza para compreendê-la de fato"

Tatiana Toffoli, diretora

Apresentando quatro episódios de 55 minutos, a série mostra as escavações que Góes Neves conduziu em parceria com os moradores da aldeia Palhal, da etnia tupari, revelando como a Amazônia foi transformada pelos povos indígenas ao longo de 6 mil anos.

PAISAGEM

“Conheço o Eduardo há mais de 20 anos, é meu amigo pessoal. Sempre acompanhei os estudos dele sobre a mudança da paisagem e me interessava muito falar sobre isso. Comecei a escrever o projeto da série em 2010 e, em 2011, fizemos o primeiro orçamento. Quatro anos depois, ele foi aprovado em um programa da Prefeitura de São Paulo, mas só em 2017 o apresentamos para o SescTV. Depois de avançar a negociação, o Sesc nos deu sinal verde para produzir a série no final de 2019”, conta Tatiana Toffoli.

Cacique segura foto onde se veem indigenas e o etnologo Franz Caspar
Cacique Fernando com foto de indígenas com o etnólogo suíço Franz Caspar (foto: Sesc TV/divulgação)
Em 2020, a diretora embarcou para Rondônia. Como permaneceu em um lugar com pouco ou nenhum acesso à internet ou telefone, só soube da gravidade da pandemia da COVID-19 quando retornou para a capital paulista, onde mora atualmente.

Isolada em casa, assim como o resto do mundo, Tatiana começou a trabalhar na montagem das imagens que havia captado. O único episódio que ela tentava construir tinha nada menos de seis horas.

“Fiquei montando e montando. Tentava diminuir, mas simplesmente não conseguia. Como o prazo começou a ficar apertado e eu precisava enviar o material para o trilheiro, enviei as seis horas. Ele concordou que não valeria a pena cortar muito, que o material era muito rico. Mostrei para a roteirista Daniela Capelato, e ela disse: 'Você tem aqui a série'.”

Com imagens de tirar o fôlego, “Amazônia, arqueologia da floresta” busca desmistificar   questões relativas à floresta com dados científicos, mas sem se tornar didática demais.



No primeiro episódio, “A terra dos povos”, o público é apresentado a Monte Castelo, ilha artificial construída e ocupada há pelo menos 6 mil anos. Localizado na bacia do Rio Guaporé, em Rondônia, esse sítio arqueológico foi escavado pela primeira vez pelo arqueólogo Eurico Miller, na década de 1980. Trinta anos mais tarde, foi relocalizado por uma equipe de especialistas e os trabalhos foram retomados, dando início a nova etapa de descobertas.

Diretora Tatiana Toffoli e antropólogo Eduardo Góes Neves em frente a câmera de filmagem, na floresta amazônica
Tatiana Toffoli e o antropólogo Eduardo Góes Neves durante as filmagens (foto: Sesc TV/divulgação)

No segundo episódio, “Conchas e ossos”, a equipe de arqueólogos encontra vestígios de um cemitério cuja criação é estimada em 4 mil anos atrás. Há ossos humanos e novas camadas de conchas e terra. Além disso, especialistas acompanharam os tuparis até a antiga aldeia do Laranjal, local onde viviam e do qual tiveram que sair devido à criação da Reserva Biológica do Guaporé, em 1983.


“O tabaco e a cerveja”, terceiro episódio, mostra como a Amazônia se tornou importante centro de domesticação de plantas. Prova disso está na própria fala dos tuparis, que contam como algumas espécies aparecem espontaneamente no solo, demonstrando a conexão entre o passado e o presente.

Em “Cemitério bacabal”,  último episódio, novos sepultamentos são encontrados. Arqueólogos explicam que a composição química das conchas do sambaqui Monte Castelo ajudou a preservar ossos e sementes. Isso permitiu que eles descobrissem o que os povos originários comiam e bebiam.

Arqueólogo Eduardo Góes Neves, agachado, olha buraco de escavação na Amazônia
Eduardo Góes Neves durante escavação arqueológica (foto: Sesc TV/divulgação)

FAROL

“Com esse conjunto de episódios, a gente consegue mostrar como as práticas e as tecnologias dos povos indígenas nos ajudam a compreender o passado, mas também podem ser um farol para o nosso presente. As informações nos ajudam a tirar a venda dos olhos e entender que para preservar uma floresta como a Amazônia a gente precisa ouvir os povos originários”, defende Tatiana.

De acordo com a diretora, a série tem o objetivo de mostrar a floresta como lugar que sempre foi habitado, diferentemente do lugar inóspito apontado pelo senso comum.

“A gente vê a Amazônia sempre de cima, aquele verde que se espalha. Parece que não tem ninguém lá embaixo. Os estudos arqueológicos mostram o contrário: lá sempre foi um lugar bastante habitado por pessoas preocupadas em preservá-la.”

Indígena anda em trilha na floresta amazônica
Trilhas levam aos sítios registrados na série (foto: Sesc TV/divulgação)
Para a diretora, estar na Amazônia e em contato com os tuparis foi decisivo para a maneira como decidiu dirigir a série. Durante o tempo que passou em Rondônia, Tatiana absorveu ensinamentos que a influenciaram na hora de pensar em como seria o resultado final da produção.

“Quando você vai para uma comunidade indígena, isso muda a sua vida. Eles têm um jeito de viver muito concreto, fora a subjetividade dos ritos, dos sonhos e dos mitos. Além desse mundo mitológico invisível, tem o contato direto com a natureza. É preciso estar na natureza para compreendê-la de fato”, garante.

NOVA RODADA 

Com a estreia da primeira temporada, a diretora já trabalha em nova leva de episódios, cuja data de lançamento ainda não está definida.

Indígena Marlene Tupari, de costas, olha para o lado
Marlene Tupari colaborou com a diretora Tatiana Toffoli (foto: Sesc TV/divulgação)
“Em novembro e dezembro do ano passado, viajamos até o sítio arqueológico Teotônio, localizado no Alto Rio Madeira, também em Rondônia. O local tem ocupação muito antiga e a terra traz vestígios cerâmicos de seis civilizações diferentes”, conta.

Outras duas viagens já estão marcadas: uma para o Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, e outra para a Bolívia.

“Acho muito importante que as pessoas tenham acesso a esse mundo da arqueologia. É uma maneira de trazer informações para o público, falar de natureza e cultura. Depois de tantos anos tentando produzir esta série, ela é lançada no momento certo. As pessoas querem muito saber sobre a Amazônia e sobre os povos indígenas. Espalhar informação sobre isso pode ser o caminho para preservar as florestas e garantir a existência desses povos”, conclui a diretora.

“AMAZÔNIA, ARQUEOLOGIA DA FLORESTA”

Série em quatro episódios. Direção: Tatiana Toffoli. Estreia neste sábado (30/4), às 20h, no SescTV (sesctv.org.br). Reprises: domingo (1º/5), às 14h30; segunda (2/5), às 10h; terça (3/5), às 16h; quinta (5/5), às 14h30; e sexta (6/5), às 19h30. Em 26 de maio, às 16h, será realizada a live “Amazônia: Um olhar sobre o tempo, cultura e caminhos para a sustentação do bioma”, no canal do Sesc SP no YouTube


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