A cantora e compositora Day Limns, de 26 anos, lançou em março o primeiro livro, “Esta não é apenas uma carta de amor” (Faro Editorial), alguns meses depois de “Bem-vindo ao clube”, seu álbum de estreia, apelidado “Bvac”. Em ambos, revela aprendizados e vulnerabilidades com o intuito de ajudar pessoas que lidam com os mesmos questionamentos.
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Talento revelado nacionalmente pelo programa “The Voice Brasil” em 2017, a goianense já pensava em escrever um livro antes de sua carreira musical deslanchar. “Era um desejo adormecido dentro de mim. Mais nova, comecei a escrever histórias, tentei escrever um livro baseado na canção ‘Boulevard of broken dreams’, do Green Day, que não saiu das primeiras páginas. Escrevi também fanfics na época do Orkut. Esse desejo amortecido reacendeu quando estava criando o disco, entendi que só as músicas não seriam suficientes para contar a minha história”, explica.
O disco é moldado como um livro de 12 faixas, incluindo prefácio e epílogo. Paralelamente ao surgimento das canções, Day sentiu a necessidade de mergulhar mais fundo nas letras. “Às vezes, as pessoas só escutam a melodia ou cantam o que falei sem saber de onde vem, pois vou muito longe”, admite. “Minha mente é muito visual, crio muitos cenários para chegar naquela letra. No álbum, sentia isso muito forte. Precisava de algum elemento para complementar essa experiência e mostrar um pouco mais da profundidade das minhas criações.”
Com a ajuda de Alessandra Ponomarenco Justo, Day foi “compondo” o livro paralelamente ao disco durante o confinamento social imposto pela COVID-19. “Perdi um pouco da noção de espaço e tempo durante a pandemia, foram dois anos da nossa vida e ainda estamos nos recuperando”, comenta. Esse processo, ela acredita, durou mais de um ano.
“Comecei a escrever o ‘Bvac’ e tive a ideia do livro quando fiz (a canção) ‘Clube dos sonhos frustrados’. Já tinha escrito um pedaço de 'Dilúvio' e 'Finais mentem’, o que depois mudou completamente por causa do livro. Fui moldando as músicas conforme o livro e o livro conforme as músicas. Foi uma experiência interessante”, aponta.
SUPERAÇÃO
“Esta não é apenas uma carta de amor” é uma espécie de correspondência. Day se encontra com o próprio passado para conseguir superar traumas. “O livro, acima de tudo, é uma carta para mim mesma. Não é só romance ou um romance que não deu certo. Falo coisas que vão muito além do amor e servem para muitos aspectos. O próprio título é autoexplicativo”, comenta.
“Achei que já mostrava muito nas minhas canções, mas cada capítulo é como se dissecasse cada sensação, descrevendo de forma muito sensorial e visual, o que acho muito lindo. É uma coisa que preciso fazer para sobreviver. Mostrar a minha vulnerabilidade é (a forma) como consigo passar de fase na minha vida. Falar, lidar com minhas emoções”, afirma Day.
Todo esse processo é possibilitado pela arte, comenta a escritora e compositora. “Me exponho muito mais e trago isso de maneira mais intensa no livro, o que acaba trazendo sensações muito fortes para as pessoas. Esse é o meu objetivo, no final das contas: causar algo nas pessoas simplesmente falando o que é meu. As pessoas se conectarem com isso é um bônus. Para mim, é a forma mais fácil de fazer arte”.
DESCOBERTA
O processo de criação é “uma eterna descoberta”, revela Day. “Depois de terminar o livro, falei: resolvi um capítulo da minha vida. Parece que lidei com questões que há tantos anos me prendiam e agora vivo coisas que poderiam dar outro livro.”
Inexperiente na atividade literária, Day Limns contou com o apoio de Alessandra Ponomarenco Justo. “Tive bastante ajuda para compor o livro. Minha cabeça é muito musical e há mais lacunas que você precisa preencher. Até poderia fazer no formato de poesia, mas queria um livro que se parecesse com um livro mesmo. É outra experiência. Algo que estou vendo de outra perspectiva, outro ângulo, contado de outra forma.”
O começo não foi fácil, Day enfrentou mais complicações do que imaginava. “Tive muita ajuda para criar a narrativa, uma linguagem com que me identificasse cem por cento e contasse cem por cento do que eu queria falar”, relembra.
O processo de criação levou Day a uma jornada de autoconhecimento. “Quando terminei o livro e o li, parecia que fui ao encontro de um outro ser, que era eu também, mas no passado. Achava que tinha experiências e desabafos profundos com as minhas músicas, mas o processo de ver aquele livro tomar forma era mais um trauma com o qual eu lidava, mais uma trava que saía. É muito louco, consegui fazer autoanálise de uma forma muito visual e muito minha. Isso me ajudou a lidar com algumas questões de forma muito linda e intensa.”
ESTÉTICA
A capa chamativa de “Esta não é apenas uma carta de amor” é fruto da estética planejada pela editora e por Day para reforçar o conteúdo do livro.
“Sou muito impositiva, no sentido bom, em relação à estética das minhas coisas. Participo muito de meus clipes, das capas de meus singles e álbuns. Mas livro era uma parada a que eu não tinha muito acesso, confiei na galera da editora para me ajudar a criar algo que tivesse a ver comigo. Algo que chamasse muita atenção e também direcionasse o livro para pessoas além daquelas que já consomem minha música”, explica.
O vermelho é fundamental. “Cor forte, denota a intensidade que o livro traz, uma cor muito quente”, observa Day Limns. “A princípio, queria desenhar a capa, seguindo a estética que o livro tem, mas falaram que seria melhor deixar o meu rosto, porque minha imagem como artista é coisa que fica”, diz. Estava ali outro projeto, diferente do lançamento de uma canção.
Com ilustrações de Takada, o conceito estético lembra um diário, refletindo a personalidade da cantora e de seu álbum.
“Queria uma coisa mais sketch (modalidade do design), mais rascunho, que desse a impressão de que era um livro meu, que eu estava desenhando. Fui passando essa visão para o Takada e ele conseguiu traduzir esse sentimento e minhas histórias através de imagens pequenas, mas muito significativas”, diz Day.
Turnê já começou com boas energias
Dividindo-se entre o primeiro álbum, o livro de estreia e o palco, Day Limns iniciou sua turnê em 16 de abril, no Rio de Janeiro. A agenda da cantora inclui São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e Brasília.
“Fico muito feliz de voltar a fazer shows presenciais, porque trabalhei meu álbum pensando na experiência ao vivo. Ficar dois anos sem contato com o público foi uma decepção, uma frustração muito grande”, comenta.
Porém, o isolamento teve um lado produtivo. “Tive tempo para criar coisas incríveis e me conectar com pessoas incríveis, a banda que tenho hoje. Estou tentando olhar pelo lado mais positivo”, ressalta Day.
BAGAGEM
A turnê representa um desafio para a cantora e compositora. “Vai ser muito f*** construir essa bagagem para me dar mais experiência, fazer shows cada vez melhores, adquirir experiência de palco. Quando comecei a construir isso, veio a pandemia e me deixou de molho, mas agora estou com uma sensação boa. Estou me reconhecendo novamente no palco”, comenta.
Em setembro, Day chega a Belo Horizonte para se apresentar no festival Planeta Brasil como convidada do cantor e amigo Vitão. “Vai ser muito massa, ele é meu irmão, a gente se dá muito bem no palco”, prevê.
Day está ansiosa para trazer sua turnê solo a BH. “É um público muito receptivo, fiz show aí algumas vezes. Também é muito familiar para mim, até por causa do sotaque”, comenta, aos risos. A data na capital mineira ainda será definida.
“Fiz alguns shows da (turnê) “Bvac” e foi uma energia incrível. Eu me senti em casa, no céu, e a galera consegue passar essa confiança para mim. É um público fiel, muito dedicado. Fico querendo ter mais disso o tempo inteiro”, afirma.
Day promete surpresas para os amantes do emo pop, como ela. “Vai ter (cover de) Paramore. A princípio, estamos incluindo nos festivais, mas está ficando tão bom que acho que vou incluir nos shows da tour também.”
“ESTA (NÃO) É APENAS UMA CARTA DE AMOR”
• Livro de Day Limns
• Faro Editorial
• 144 páginas
• R$ 44,90