“Eu não posso mentir para ela, obviamente”, diz Dan Bala (Prasanna Puwanarajah) aos colegas na Nightingale Hart. Esses respondem em uníssono: “Não!”. “Mas obviamente não posso dizer a verdade para ela”, acrescenta ele. “Oh, meu Deus, não”, concorda seu assistente, Ollie Rogers (Harry Trevaldwyn).
O drama cheio de nãos e exclamações é o seguinte: a atriz Kelly MacDonald, conhecida pela série “Line of duty”, é linda, competente e tem 45 anos. É considerada velha para um papel de um grande filme de Hollywood.
Ao fugir da raia e não falar a verdade para sua cliente, Dan se mete em uma confusão. Mas, espere aí? Já vimos essa história antes, em que a atriz “velha demais” era a belga Cécile de France, que perdeu um papel na nova produção de Quentin Tarantino justamente por causa da idade.
Bem-vindo ao mundo dos remakes. A “vítima” da vez é a comédia francesa “Dix pour cent” (2015-2020), a série sobre uma agência de atores em Paris que contava, a cada episódio, com um grande nome do teatro e do cinema interpretando a si mesmo – em situações que, de uma maneira geral, zombavam do próprio mundo do entretenimento e do ego inflado de seus habitantes.
FILME
A série virou um sucesso planetário quando chegou à Netflix e ganhou versões em diferentes países. Já foram produzidas histórias na Turquia e na Índia e um filme com os atores do original está prometido para este ano. Recém-chegada ao catálogo do Amazon Prime Video, “Ten percent”, que aqui ganhou o título de “Agência”, é basicamente a mesma história, só que produzida no Reino Unido.
Não só a premissa e a trama são as mesmas. Os atores, de uma maneira geral, foram pautados no original. A semelhança física chama a atenção em alguns casos: a agente lésbica superambiciosa Andréa Martel (papel de Camille Cottin) virou, em Londres, Rebecca Fox (Lydia Leonard).
As duas atrizes são muito parecidas, assim como a francesa Laure Calamy e a britânica Rebecca Humphries, que vivem a assistente apaixonada pelo chefe Noémie Leclerc (em “Dix pour cent”) e Julia Fincham (em “Agência”).
Os quatro personagens centrais são semelhantes aos seus homólogos franceses. Além dos já citados Rebecca e Dan, este meio desajeitado, inseguro e simpático, há também a representante da velha-guarda, Stella Hart (Maggie Steed), e o controlador Jonathan (Jack Davenport), que nesta versão é filho de Richard Nightingale (Jim Broadbent), um dos fundadores da agência.
A morte de Richard no primeiro episódio (e isso também aconteceu lá em Paris) detona a narrativa. Situada no Soho, a Nightingale Hart, com a morte do fundador e principal acionista, se descobre quase sem dinheiro. Uma grande agência americana vai se tornar a principal acionária, o que levará à trama uma executiva alpinista, Kirsten (Chelsey Crisp), para supervisionar os trabalhos. O choque de culturas será explorado na série.
Mas a graça vem mesmo das participações especiais. Tem Helena Bonham Carter, Dominic West, David e Jessica Oyelowo, Himesh Patel e Emma Corrin, entre outros, fazendo a si mesmos na tela, em histórias que tratam de idade, medo do palco, paridade salarial e filhos.
Ainda que dê uma cor local e use do conhecido humor britânico, “Agência” é, em resumo, mais do mesmo com outro cenário e sotaque. É menos cínica do que a original, mas tem alguns bons momentos. Para o fã de “Dix pour cent” vai só matar as saudades enquanto o prometido filme não sai.
“AGÊNCIA”
Série em oito episódios, disponível no Amazon Prime Video