O maestro Rodrigo Toffolo, regente da Orquestra Ouro Preto (OOP), define o cantor, compositor e violonista João Bosco como uma orquestra de um homem só. "Como violonista, faz flutuar melodias com destreza, produzindo agudos e graves em notas que se multiplicam, numa rítmica particular. A arte dele é perfeita", diz Toffolo.
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Ocorre que a apresentação em Ouro Branco fracassou. “Na quarta música, começou a chover e tivemos que parar. Porém prometemos para aquele público que voltaríamos lá algum dia para fazer o show todo. E agora chegou a hora. Domingo estaremos lá, se Deus quiser”, diz João Bosco.
Radicado no Rio de Janeiro há décadas, o artista mineiro conta que voltar a se apresentar em seu estado natal, ao lado de uma formação orquestral mineira, remexeu com suas memórias e emoções.
MEMÓRIA
“Tudo isso me remeteu a um grande percurso de memória. Tantos lugares, tantas pessoas, tantas coisas. A gente pode, de uma maneira mágica, entrar em contato com as pessoas, em pensamento, nesse aspecto, daquilo que foi e daquilo que aconteceu”, ele diz.
“E tudo isso foi muito bonito, porque muitos nomes, muitos lugares, muitas cores, muitas construções, muita coisa que a gente viu e fez ao longo da vida, veio participando dela e acabou junto desse encontro da Orquestra Ouro Preto e mexeu muito com essa questão interna.”
Mexeu tanto, diz João Bosco, que a experiência se pareceu com a de uma sessão de psicanálise. “E tudo se remexia nessa coisa interna, na qual já se passaram décadas. Isso foi muito bonito, porque eu estava ali, andando pelas estradas de Minas, coisas que fiz muito durante a minha juventude, me deslocando e vendo a paisagem, cada detalhe, durante esses percursos. E conversando com as pessoas dali, daquela região. Aquele papo que você tem com as pessoas locais, após o show ou mesmo antes, quando está ali naqueles preparativos da passagem de som”.
Os encontros, ele comenta, colocavam lado a lado passado e presente. “Houve uma catarse, uma coisa bonita de relação, de encontros, de voltar ao lugar de onde se saiu”, conta o músico. “Mas acontece que os lugares não são os mesmos, porque a vida tem esse dinamismo que é muito interessante, quer dizer, os espaços estão ali, mas as pessoas são outras, as vibrações são outras. Então você acaba renovando também as vibrações, com os lugares e tudo isso dentro de um fundo musical, com as pessoas assistindo a tudo. E hoje, com esse negócio do smartphone, há uma importância muito grande, com as pessoas fazendo comentários pela internet.”
Como o último concerto da série foi transmitido ao vivo, comentários vindos de diversos locais do país não tardaram a chegar ao artista, elogiando sobretudo a riqueza do repertório. A escolha das músicas, segundo Bosco, “foi um parto natural, vamos assim dizer, não teve instrumentação nenhuma, foi tudo muito espontâneo”.
SUCESSOS
O repertório traz sucessos como “O bêbado e a equilibrista”, “Corsário”, “Bala com bala” e “De frente pro crime”, entre outros. João Bosco aproveita também para fazer um tributo ao letrista, compositor, cronista e médico carioca Aldir Blanc (1946-2020), um dos seus principais parceiros.
A definição das músicas foi feita em acordo com o maestro da Orquestra Ouro Preto. “O Rodrigo também, pela história dele lá em Ouro Preto, pela família dele, pelos pais, tios e tudo mais… essas músicas diziam algo para ele também. Ele me mandou uma lista de canções e a única coisa que a gente fez foi, com muito pesar, tirar uma ou outra. Isso por causa do tempo, que poderia ficar muito extenso”, comenta João Bosco.
Ele conta que recebeu muitos e-mails, “inclusive de vários músicos que viram naquilo um Brasil que eles sempre imaginaram. E, às vezes, um Brasil até que eles mesmos, nas suas mensagens, torciam para que esse país permanecesse e se preservasse, no sentido da sua busca, da sua luta, para uma situação mais digna para todos os brasileiros. Aquela coisa evolutiva com que todos nós sonhamos e esperamos que aconteça algum dia”.
Para o músico, é importante neste momento manter uma visão positiva do país. “O que a gente quer para a nossa nação é isto: algo positivo, que a gente possa, mesmo batalhando, trabalhando, sentir que é positivo e que isso vai gerar frutos no futuro e que por isso vale o esforço. A gente não pode perder o otimismo nunca.”
ARRANJOS
Nas apresentações de “Gênesis”, João Bosco foi acompanhado de Kiko Freitas (bateria) e Guto Wirti (baixo) e do produtor musical, arranjador, instrumentista, regente e compositor Nelson Ayres, que respondeu pelos arranjos.
“Mandei as canções tocadas de violão e voz para ele senti-las, não para tirar de registro que já tem aí. Mandei aquela coisa de voz e violão, íntimo, pessoal, para ele que estava lá naquele momento de pandemia mais agudo. Ele estava recolhido em Ubatuba (SP) e pôde, então, pensar sobre essas músicas, esse tempo no qual elas estão ligadas. E também o fato de elas, de certa maneira, estarem na vida do próprio Nelson, que, quando jovem, passou por elas.”
Nos shows deste fim de semana, o repertório será interpretado na íntegra. “É um repertório extenso, mas ninguém nunca reclamou. O ‘Gênesis’, como diz o título, é um parto, o início de algo de uma relação que acabou se firmando, de forma muito bonita, tanto que, já no final da nossa turnê, estávamos muito próximos uns dos outros, porque, enfim, o 'Gênesis' é isso. Quer dizer, acabou com a gente falando de coisas que aconteceram e que ainda acontecem.”
No momento, Bosco conta que está trabalhando, fazendo show e, de vez em quando, pensa em uma composição. “Fico na procura, conversando com amigos que são muito preciosos para mim, trocando ideias. Pergunto como é que eles estão, como estão se sentindo. Isso para ver também, para medir, porque esses dois anos passados foram muito duros. Então, poder conversar com os outros sobre isso é bom para a gente sentir e entender como estamos. Mas, enfim, o desejo é sempre o mesmo, ele permanece. Digo o desejo de ir atrás da música.”
JOÃO BOSCO E ORQUESTRA OURO PRETO
Lançamento do CD e DVD “Gênesis”. Neste sábado (7/5), às 21h, no Grande Teatro do Sesc Palladium – Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia). Informações: (31) 3270-8100. Domingo, às 18h, na Praça de Eventos – Rua Juscelino Coelho, Centro, Ouro Branco, com entrada franca