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Estado de Minas MÚSICA

Conheça Alwa, a primeira rapper aimara, que desafia a oposição da família

Jovem boliviana defende a rebeldia 'com causa' e diz ainda estar no processo de se tornar rapper


09/05/2022 04:00 - atualizado 08/05/2022 17:11

com chapéu, saia e xale típicos bolivianos, Alwa ergue as mãos, com os Andes ao fundo
Contrariando o desejo de sua família, a universitária Alwa se dedica ao rap e se apresenta com os trajes tradicionais da etnia aimara (foto: Aizar RALDES / AFP )

A boliviana Alwa, a primeira rapper aimara, move os braços para acompanhar suas melodias, incorporando instrumentos andinos tradicionais como a zampoña (flauta de pan) e o charango (tipo de instrumento de cordas).
 
De baixa estatura, ela veste a típica saia aimara com várias pregas e chapéu-coco sobre suas longas tranças, indumentária com a qual executa o que ela denomina de "uma música rebelde".

Semanas depois de sua estreia no palco, Alwa (que significa “Amanhecer" em idioma aimara) acaba de dar seu segundo show em uma feira de livros no átrio da principal universidade estatal de La Paz.

É a primeira mulher indígena a emergir neste gênero musical pouco conhecido da sociedade aimara, na qual predominam ritmos melancólicos, acompanhados de bumbos, zampoñas, quenas (flauta rústica) e charangos.

Mas a jovem de 26 anos, nascida na cidade de El Alto, vizinha a La Paz, já produziu seu primeiro videoclipe: "Principio sin fin". Seu primeiro álbum deve sair ainda neste semestre, com o apoio de empresários de Santa Cruz, diz.

Confira o clipe de "Principio sin fin"


"Não me importa se o povo fica alvoroçado com a minha música/ Só digam à minha mãe que o medo não vai me deter / Não vai poder me vencer / Digam a ela também que eu vou viver de rap/", diz os primeiros versos da música, que começa com zampoñas, acompanhados de charangos.
"Hoje me apresento / Sou Alwa, uma mulher aimara orgulhosa/ Orgulhosa de ser boliviana/ Hoje eu não vou parar, não vou descansar, até meus sonhos conquistar."
 
"Nas minhas letras expresso meu sentimento sobre as coisas, minha opinião sobre a situação que estamos vivendo agora, todos sofremos injustiças", diz Alwa.
 
"Eu acho que o rap parte disso, de sentir essa rebeldia, de se rebelar contra o que não estamos de acordo, mas tem que ser algo lógico".

SONHO

Nascida em uma família tradicional e sem músicos - menos ainda rappers - em seu entorno, atualmente ela estuda publicidade e marketing na universidade, mas diz que seu sonho desde menina era cantar.
 
Depois se uniu a "tribos urbanas" e começou a se aproximar do rap, gênero musical que se popularizou nos bairros negros e pobres dos Estados Unidos, até se espalhar para outras partes do mundo.
 
Ela é fã dos rappers Warrior, do Peru, e Alika, da Argentina, e, em menor medida, do porto-riquenho Residente. Assim como todos em sua família, sua mãe "não gosta" do rap e seu pai quer que ela siga uma carreira universitária, mas ela tem outros planos. "O que eu realmente quero agora é fazer música".
 
Para seu segundo show gratuito, Alwa foi ao pórtico da principal universidade estatal UMSA de La Paz, a convite de uma associação privada de vendedores de livros.
 
Em uma noite fria, a rapper aimara interpretou sua canção "Principio sin fin". Ela cantou outras quatro canções que espera incorporar ao seu primeiro álbum.
 
Cerca de 50 espectadores ocasionais acompanham suas rimas. Eles erguem as mãos, aplaudem e assobiam, encantados.

ESPETACULAR 

"É ótima, eu acho que é uma artista espetacular em sua forma de ser, em seu vestuário", diz Jesús Choque, um estudante de 23 anos, que a ouve pela primeira vez.
 
Ao seu lado, Carlos Jonás Sirpa destaca: "É a primeira vez que vejo uma mulher de pollera (saia típica) cantar em um palco, enaltecer o nome boliviano; é genial, é muito bonito".
 
Depois de mais de meia hora, Alwa finaliza seu show. "Estou muito feliz e contente", diz, sorridente. Sua fama começa a crescer. Na rua, algumas pessoas a reconhecem e ela para para tirar fotos.
 
Um deles é Kevin Coronel, de 22. "É genial, eu a ouvi pela primeira vez no Chile, achei que fosse peruana e, no fim, é boliviana; a vi no Tik Tok e é genial". Mas Alwa pensa que ainda tem um caminho a percorrer. "Estou no processo de ser rapper, ainda não sou."


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