'Eu não o conheci pessoalmente [Otto Lara Resende, seu avô]. Cresci tendo que construir a imagem que eu tinha dele. Vi muitas entrevistas no YouTube e li os livros que ele escreveu. Acho que consigo me aproximar dele por meio da língua portuguesa ao escrever as canções, por exemplo'
Gab Lara, músico e ator
Primeiro álbum do cantor, compositor e ator Gab Lara, "Papo" poderia muito bem ser classificado como um EP. Com sete faixas distribuídas ao longo de pouco mais de 15 minutos, o registro, lançado digitalmente na última quinta-feira (5/5), foi projetado dessa maneira para melhor introduzir o universo do artista carioca de 25 anos num mercado fonográfico que é inundado de novidades diariamente.
"Ele fica no limite entre o álbum e o EP. Tenho uma amiga que dá a esse formato um apelido carinhoso: albinho. Ela descreve que um trabalho assim tem a profundidade de um álbum e a duração de um EP. São músicas suficientes para explorar as habilidades artísticas, mas eu nunca quis que fosse um álbum completo. Eu quis brincar com essas definições. Quis provocar", afirma o cantor.
A vontade de produzir o registro nasceu em 2019, quando Gab Lara apresentou, no Rio de Janeiro, um show com seu repertório autoral. Três anos antes, ele já tinha estreado nos palcos como cantor, apresentando covers ao lado do músico Tom Karabachian, seu conterrâneo. No entanto, encantou-se mesmo pela música quando percebeu que também poderia escrever canções.
"Eu plantei a sementinha do álbum na minha cabeça em 2019. Foi quando decidi seguir esse caminho. Estava completamente focado. Aí veio a pandemia. No início da quarentena, não conseguia produzir, fiquei alguns meses com um certo bloqueio criativo, até que encontrei algum tipo de vazão nas minhas redes sociais, postando algumas músicas minhas", ele conta.
GRAVAÇÃO
Foi quando as músicas chamaram a atenção do produtor musical Marcos Schaimberg, que entrou em contato com Gab perguntando se ele gostaria de gravá-las. A partir daí, não demorou muito para que os dois começassem a produzir o registro. Além da produção, Schaimberg assina também os arranjos.
"Papo" traz músicas que soam como a ponte entre 2022 e os anos 1970. Não à toa, o primeiro single do álbum foi "Iacanga", lançado em março passado, e cuja letra faz referência ao Festival de Águas Claras, realizado na cidade de Iacanga, no interior de São Paulo, entre 1975 e 1984.
No clipe, dirigido por Diego Avila, Gab Lara aparece caracterizado com roupas setentistas. Na letra, ele canta: "Eu ia ao festival de Iacanga/ Porém não era nascido lá/ Ainda".
Confira o clipe de "Iacanga":
"Eu bebi muito da MPB dos anos 70. Minhas referências são esses artistas das antigas. Caetano Veloso, Mutantes... Sempre tive muito interesse nesse universo sonoro. Ao mesmo tempo, não queria que soasse datado, então eu e o Marquinhos [Marcos Schaimberg] demos uma pegada contemporânea nas músicas. Ele tem um trabalho com neo soul que tem uma pegada mais estrangeira. A proposta, então, era fazer a ligação entre o meu Brasil e o 'não-Brasil' dele. E o resultado eu chamo de MPB de alta voltagem", define o músico.
Prova disso é o segundo single, "Albatroz azul", lançado no início de abril, com participação da cantora carioca Dora Morelenbaum, integrante do quarteto Bala Desejo. A música, feita em parceria com Vicente Conde, que coassina cinco das sete faixas do álbum, tem sons sintetizados que a aproximam da psicodelia.
Além dos singles apresentados previamente, o registro conta com "Dança das cadeiras", uma bossa nova com tom de jazz, e a dançante "Ainda há tempo", que flerta com o soul.
A breve "Interlúdio" tem uma citação de texto de Marina Colasanti na voz do ator Antônio Abujamra (1932-2015). "Viagens" segue a pegada setentista divertida, enquanto a música-título, "Papo", uma gravação voz e violão, traz chiado que remete aos vinis.
ESTREIA
Neto do jornalista e escritor mineiro Otto Lara Resende (1922-1992) e filho da atriz e produtora Cristiana Lara, Gab cresceu com a vontade de seguir carreira artística. Sua estreia nos palcos foi na peça "O garoto da última fila", em 2017, com direção de Victor Garcia Peralta.
Ele também atuou na montagem de "Sonho de uma noite de verão", de 2018, com direção de João Fonseca, e protagonizou o curta-metragem "A última frente fria antes do verão" (2019).
Agora, Gab está envolvido na montagem de uma peça inspirada no conto "A testemunha silenciosa", de Otto Lara Resende. A direção é de João Fonseca e a produção é de Cristiana Lara.
Atualmente, o projeto está em fase de captação de recursos, então ainda não há uma data definida para ele sair do papel. Para Gab, a montagem é uma forma de se conectar com o avô.
"Eu não o conheci pessoalmente. Cresci tendo que construir a imagem que eu tinha dele. Vi muitas entrevistas no YouTube e li os livros que ele escreveu. Acho que consigo me aproximar dele por meio da língua portuguesa ao escrever as canções, por exemplo. Essa peça é um sonho antigo da minha mãe que ela está retomando e tirando do papel. Nunca imaginei que eu poderia fazer parte do elenco. De certa forma, ela coroa a minha relação com o meu avô", ele afirma.
"PAPO"
.De Gab Lara
.7 faixas
.Independente
.Disponível nas plataformas digitais