Três anos após sua última edição totalmente presencial, o Fliaraxá - Festival Literário de Araxá retorna à cidade mineira para dar início, nesta quarta-feira (11/5), à sua décima edição, que não abandonará por completo o ambiente digital.
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Dessa forma, o Fliaraxá vai se espalhar por diferentes lugares da cidade, como o Grande Hotel (que antes era sua sede exclusiva), o Teatro Municipal Maximiliano Rocha, o Parque do Cristo e a Fundação Cultural Calmon Barreto.
A organização informa que os protocolos de segurança serão seguidos e que a presença do público será reduzida. Também haverá mesas e debates sem a presença do público, apenas com o convidado.
TEMA
Nesta edição, o tema do Fliaraxá é “Abolição, Independência e literatura”. Para refletir esses três assuntos, o evento convidou o escritor e jornalista Tom Farias, biógrafo de Carolina Maria de Jesus (1914-1977), para assinar a curadoria.
"Considero o lançamento da biografia de Carolina, em 2018, um marco decisivo na discussão sobre racismo e negritude no Brasil. Esse trabalho não só resgatou o gosto por Carolina Maria de Jesus, como também trouxe à tona o assunto da negritude ligado à literatura. É a partir daí que escritores como Itamar Vieira Júnior, Jeferson Tenório e Djamila Ribeiro começam a ganhar projeção", avalia Borges.
Ele conta que a discussão sobre o racismo perpassará todo o festival. "Isso já estava decidido desde o ano passado. O Brasil tem vários desafios para enfrentar, mas o racismo é algo que tem que ser enfrentado com urgência. Precisamos colocar esse assunto em pauta de forma cada vez mais contundente", afirma, destacando que um dos dias do evento será 13 de maio, data na qual foi sancionada a Lei Áurea, que aboliu a escravatura.
"O Brasil não saiu da escravidão e o noticiário volta e meia prova isso, com empregadas domésticas sendo resgatadas em condições análogas à escravidão. No sentido cultural, da tradição, a escravidão ainda está dentro do nosso país", ele comenta.
HOMENAGEM
O escritor homenageado deste Fliaraxá é o baiano Itamar Vieira Junior, autor do livro "Torto arado", vencedor do Prêmio Jabuti de 2020 na categoria romance e do Prêmio Oceanos, do mesmo ano. O escritor participa do debate "De 'Úrsula' a 'Torto arado': Narrativas sobre a escravidão", no sábado (14/5), às 21h.
"Quando eu fiz o convite ao Itamar para ser o nosso autor homenageado, ele não queria aceitar porque achava que não tinha obra suficiente para isso. Essa homenagem celebra algo muito especial que o livro dele fez: trouxe a ficção brasileira de volta para o gosto popular. Ainda não é possível analisar com clareza o impacto de 'Torto arado' na cultura brasileira, mas um romance de ficção brasileira no primeiro lugar dos mais vendidos por meses é algo que não acontece sempre", afirma Borges.
Além de Itamar, outros escritores notáveis fazem parte da programação do 10º Fliaraxá, entre eles Eliana Alves Cruz, Geni Guimarães, Adriana Falcão, Julian Fuks, Antonio Prata, Laurentino Gomes, Edimilson de Almeida Pereira, Paulo Scott e Conceição Evaristo.
A abertura do festival será às 19h desta quarta, na área externa do Grande Hotel, com mesa em que Afonso Borges e Tom Farias debatem com o sociólogo e diretor do Departamento Regional do Sesc-SP, Danilo Santos de Miranda. O encontro também marca a abertura da grande livraria, do espaço gastronômico do festival e da exposição artística que integra a programação.
AUTORES LOCAIS
O 10º Fliaraxá receberá mais de 20 autores locais em uma programação paralela com curadoria do autor e professor Rafael Nolli. Na sexta (13/5), será lançada a nova "Antologia da Academia Araxaense de Letras", com debate que terá a participação dos acadêmicos escritores Renato Zupo, Glaura Teixeira Nogueira Lima, Olavinho Drummond, Tarcísio Cardoso, Ana Paula Machado Kikuchi e José Aparecido Fausto de Oliveira.
Para Afonso Borges, promover um evento deste porte só se justifica se ele interferir de maneira positiva na cidade em que é realizado. "Só faz sentido quando a gente faz pequenas revoluções. O Prêmio de Redação Maria Amália Dumont, destinado a estudantes das escolas públicas e privadas de Araxá, é um exemplo disso. Com ele são agraciados os alunos, e também os professores, com prêmio em dinheiro. Esse prêmio pode fazer com que a vida dessas pessoas mude e elas influenciem outras pessoas", afirma.
10º FLIARAXÁ – FESTIVAL LITERÁRIO DE ARAXÁ
Desta quarta (11/5) a domingo (15/5). Atividades no Grande Hotel, Teatro Municipal Maximiliano Rocha, Parque do Cristo e Fundação Cultural Calmon Barreto, em Araxá. As mesas e debates serão transmitidos pelo
canal do Fliaraxá no YouTube
ENCONTRO COM AUTORES
Confira destaques da programação do festival
QUARTA (11/5)
» 19h – Abertura (Danilo Miranda, Afonso Borges e Tom Farias)
QUINTA (12/5)
» 11h – Poesia do cotidiano (Alexandra Maia)
» 15h – Literatura, ética e subjetividade (Paulo Scott e Flávia Martins)
» 17h – As histórias que nascem do nós – Encontros e desencontros do romance (Julián Fuks)
» 19h – Tecendo tramas (im)possíveis – A escrita do romance (Ana Paula Maia e Socorro Acioli)
» 21h – As Firminas da literatura brasileira (Eliana Alves Cruz e Geni Guimarães)
SEXTA (13/5)
» 11h – Crônicas em tempos sombrios (Adriana Falcão e Antonio Prata)
» 15h – Literatura negra hoje: Caminhos e trajetórias (Éle Semog e Valéria Lourenço)
» 17h – Escrever é uma missão? (João Melo)
» 19h – Maria Firmina dos Reis: Abolicionista e libertária (Eduardo de Assis Duarte e
Rafael Balseiro)
» 21h – Literatura da Independência: Escravidão, política e jornalismo (Muniz Sodré)
SÁBADO (14/5)
» 11h – Diáspora e legado: Quem fala é o tambor (Ungulani Ba Ka Khosa e Edimilson de Almeida Pereira)
» 15h – A mente é a única que não se escraviza: Caminhamos para um novo abolicionismo? (Laurentino Gomes)
» 16h – Violência contra a mulher (Tatiana Salem Levy, Wagner Cinelli e Najara Costa)
» 17h – Homenagem a Maria Firmina dos Reis: 200 anos de uma pioneira (Agenor Gomes e Luciana Diogo)
» 17h – Homenagem a Maria Firmina dos Reis: 200 anos de uma pioneira (Agenor Gomes e Luciana Diogo)
» 18h – Literatura e Resistência (Conceição Evaristo)
» 19h – Conversas literárias (Jeferson Tenório e Godofredo de Oliveira Neto)
» 21h – De “Úrsula” a “Torto Arado”: Narrativas sobre a escravidão (Itamar Vieira Junior)
DOMINGO (15/5)
» 11h – Quem tem medo do(a) escritor(a) negro(a)? (Oswaldo de Camargo e Miriam Alves)
» 15h – Elogio da diferença: Literatura e protagonismo feminino (Carla Madeira e Rosiska Darcy de Oliveira)